Líder norte-americano diz que impasse fiscal causou danos “desnecessários” à economia
Redação
Washington — Um dia depois da conclusão do acordo de última hora que evitou uma crise fiscal de proporções imprevisíveis, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que os norte-americanos estão “completamente cheios de Washington”. Em pronunciamento na Casa Branca, ele pediu ainda a abertura de negociações, no Congresso, sobre orçamento, imigração e legislação agrícola.
Obama disse que os eventos das duas últimas semanas, período em que grande parte do governo ficou paralisada e o país chegou à beira do calote da dívida, provocaram danos “completamente desnecessários” à economia dos EUA. Segundo estimativas de economistas, o custo do impasse chegou a US$ 24 bilhões. O presidente desafiou o Congresso, especialmente a Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, a trabalhar com ele em questões fundamentais para melhorar a sociedade.
Os planos do presidente parecem destinados a provocar mais disputas entre os partidos. Ele pediu ação da Câmara em dois assuntos importantes que passaram pelo Senado, controlado pelos democratas, mas ficaram travados nas mãos dos deputados: a reforma do sistema de imigração dos EUA e a aprovação de uma lei agrícola envolvendo US$ 500 bilhões.
Obama reiterou o apelo por uma “abordagem equilibrada” do orçamento. Isso significa que ele quer encontrar meios de elevar receitas, fechando brechas na tributação das corporações em vez de cortar gastos. Os republicanos descartam mais impostos.
Na avaliação do professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília Creomar de Souza, os EUA começam a passar a imagem de que governam só para pagar as dívidas. “Os chineses já questionam por que os EUA são o centro da economia global e por que o dólar baliza os negócios internacionais. A credibilidade americana está desgastada. E o impasse rachou o Partido Republicano. Os que não são radicais não conseguem construir uma alternativa.”
Para o professor, os americanos estão começando a desacreditar na capacidade dos políticos de seguir os interesses do país, um sentimento muito comum no Brasil. “Nos EUA, era forte a certeza de que, diante de questões fundamentais, os congressistas colocariam as diferenças de lado em prol do bem comum. O impasse que se viu acabou com essa certeza.”
» Efeito nas
commodities
A paralisação de parte do governo dos Estados Unidos por 17 dias deve causar volatilidade nos preços das commodities agrícolas em todo o mundo. Isso porque o Departamento de Agricultura norte-americano (USDA) cancelou a divulgação dos relatórios mensais de safra pela primeira vez desde que começou suas atividades, em 1866. Os dados do USDA, que balizam a formação de preços agrícolas no mercado internacional, devem voltar a ser divulgados em novembro.
» Mantega
comemora
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou o acordo fiscal nos Estados Unidos uma “boa notícia para o mundo”. Entretanto, ele ressaltou que é necessário cautela porque o conflito orçamentário ainda não acabou. Mantega destacou que os EUA têm dado sinais de recuperação moderada até o momento e isso pode se refletir em oportunidades para todas as nações. “O Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve crescer 2,9% em 2013 e 3,6% em 2014.”
Fonte: Correio Braziliense