Perdas de R$ 116,2 bi

    Victor Martins

    Diante do cenário de incerteza que domina o Brasil, os títulos do Tesouro Nacional deram prejuízo, somente em janeiro, de R$ 116,2 bilhões a investidores. O rastro de perdas se estende desde os pequenos poupadores, que usam o programa Tesouro Direto, ao patrimônio de fundos de pensão que têm a obrigação de garantir a aposentadoria de milhões de brasileiros. Os danos, no entanto, são maiores para quem precisa se desfazer dos papéis a curto prazo. Para os que podem segurar o título até o vencimento, a queda atual traz pouco ou nenhum impacto.

    A perda bilionária com os títulos públicos em janeiro foi calculada com base nas carteiras teóricas divulgadas mensalmente pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em janeiro, a maioria dos papéis do Tesouro Nacional apresentaram rentabilidade negativa. A NTN-B, com vencimento em 2035, teve o pior resultado, registrando queda de 10,52%. No acumulado de 12 meses, o recuo foi pouco superior a 42%. Apenas as LFTs, indexadas à taxa básica de juros (Selic), ficaram no azul, com ganho médio de 0,82% no mês passado.

    Segundo especialistas, os danos não estão restritos ao Brasil. Os mercados emergentes, depois da mudança de política monetária nos Estados Unidos, criou um momento de aversão ao risco. O Tesouro Nacional terá de pagar taxas de juros cada vez maiores para financiar as contas públicas. Apenas no mês passado, o risco-Brasil subiu 6,5%, passando de 194 pontos para 206.

    “O Brasil se descolou, a partir de 2012, do risco médio de países emergentes”, avaliou Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. “O nosso risco piorou quando a gente começou a promover políticas mais intervencionistas”, argumentou.

    Ontem, o Tesouro teve de fazer um leilão extraordinário de recompra de títulos para investidores que queriam deixar o Brasil ou se desfazer das suas apostas. A instituição chegou a pagar 13% ao ano de taxa sobre papéis com vencimento em julho de 2016.

    Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra e ex-secretário do Tesouro, explicou que a instituição faz esses leilões de recompra para diminuir volatilidade. Ele lembrou que a dificuldade de ofertas de compra pelo Tesouro pode ser porque o mercado entende que o preço aceito pelo governo é baixo.

    “O Tesouro tem pago caro porque as taxas estão refletindo o temor de desaceleração global com os emergentes e também as nossas incertezas domésticas”, observou. “Há muita ansiedade com o anúncio que será feito de política fiscal nas próximas semanas. Enquanto não for divulgada a meta de superavit primário, a incerteza vai predominar”, disse.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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