Em menos de 30 anos, o número de habitantes começará a cair. Viveremos mais e os jovens deixarão de ser maioria. Por isso, especialistas avisam: é hora de produzir riqueza e poupança para garantir o futuro dos idosos
GRASIELLE CASTRO
Em menos de 50 anos, um em cada quatro brasileiros será idoso. E a quantidade de habitantes do país não crescerá indefinidamente. Ao contrário, depois de atingir o pico populacional em 2042, quando deveremos atingir a marca de 228,4 milhões de pessoas, a quantidade de brasileiros começará a cair. Em 2060, seremos 218 milhões — a mesma população projetada para 2025. Essa queda será reforçada pelo aumento do número de mulheres que decidem engravidar cada vez mais tarde e ter poucos filhos. Contará ainda com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, que chegará a 81,2 anos em 2060.
As estimativas mostram que o Brasil se aproxima da curva populacional dos países desenvolvidos. Também significa que dependemos cada vez mais dos jovens, que já não serão tantos em um futuro relativamente próximo. Especialistas alertam que o país vive hoje um momento único, em que a população economicamente ativa (PEA) é elevada, pode produzir riqueza e, por isso, deve se preocupar em fazer poupança.
O perfil de um Brasil de idosos foi traçado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no estudo Projeções populacionais (2000-2060), estimativas de população 2013, divulgado ontem. Os dados, segundo o professor de geografia da Universidade de Brasília (UnB) Aldo Paviani, indicam que, no futuro, teremos que importar mão de obra. “Não há reposição populacional. A quantidade de pessoas mais velhas aumenta cada vez mais. A medicina avançou e, enquanto as famílias têm diminuído, os idosos estão vivendo mais e melhor”.
Mas, para o especialista em previdência social Renato Follador, vivemos uma janela de oportunidade. “Hoje, temos mais população em idade economicamente ativa do que vamos ter (em alguns anos). Esta é a hora de reestruturar a Previdência Social e a educação. A Previdência Social vai pagar cada vez menos e a sociedade precisa se conscientizar da importância da previdência privada. Estamos numa armadilha, não tem mais como o Estado promover a proteção integral”, alerta Follador.
Um dos motivos desse processo é o aumento da longevidade. A expectativa de vida nos anos 2000 era de 69,8 anos. Hoje, é estimada em 74,8 anos. Em 2030, o brasileiro viverá, em média, 78,6 anos, número que aumentará para 81,2 anos em 2060. As estimativas indicam que, em 2060, 26,7% da população será idosa, um percentual três vezes maior que o atual (7,4%).
Famílias pequenas, como a do engenheiro civil Paulo Brito, de 53 anos, serão maioria. Os pais do engenheiro tiveram quatro filhos. Ele, porém, tem só um, Matheus, de 10 anos. “As condições (para ter filhos) não são mais as mesmas. É preciso garantir a escola, o lazer, dar mais atenção (às crianças)”, justifica.
Os argumentos de Brito ajudam a explicar a redução na taxa de fecundidade das brasileiras. Em 2000, a média era de 2,39 filhos por mulher. Este ano, a estimativa é de 1,77 filho, média que cairá para 1,5 em 2030. Mas, dez anos antes, em 2020, o Distrito Federal, ao lado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, já terá atingido esse índice.
A pesquisadora do IBGE Leila Ervatti explica que essa queda é um fenômeno verificado desde os anos 1970, com a popularização dos métodos anticoncepcionais, dos avanços da medicina e do acesso a informações. “O acesso aos meios de comunicação, como a televisão, acabaram mudando os padrões culturais. As prioridades mudaram”, argumenta Leila.
A pesquisadora destaca que, além de decidir ter menos filhos, as mulheres estão — cada vez mais — postergando a maternidade. “Isso tem a ver com a maior escolarização feminina, a maior inserção no mercado de trabalho, o aumento da urbanização e a modernização da sociedade. As prioridades foram mudando. Agora, as mulheres se casam mais tarde, por causa da carreira, da formação educacional”, esclarece. Essa tendência deve continuar. Hoje a média de idade para dar à luz é de 26,9 anos. Em 2020 será de 28 anos. Dez anos depois, chegará a 29,3 anos.
“Não há reposição populacional. A medicina avançou e, enquanto as famílias têm diminuído, os idosos estão vivendo mais e melhor”
Aldo Paviani, professor de geografia da UnB
Fonte: Correio Braziliense