Presidente pede paz e discute crise com Lula

    Numa das semanas mais tensas da crise política, e às vésperas de novo protesto contra o governo, a presidente Dilma Rousseff falou em “tolerância”, disse que o Brasil não é afeito a “guerras” e que o governo precisa de “paz” para retomar o crescimento. Tentando imprimir normalidade ao governo, ela lança hoje o novo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), com discurso de forte apelo social. Ontem ela voltou a se reunir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir saídas para a turbulência política e a recessão.

    Quatro dias após a nova etapa da Operação Lava-Jato que o obrigou a prestar depoimento, Lula desembarcou ontem no meio da tarde em Brasília para uma série de reuniões com aliados e com o PMDB. Hoje Lula toma café da manhã com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e lideranças da sigla na Casa.

    É aguardada a presença do ex-presidente José Sarney. Lula tem Sarney como um dos conciliadores que ajudaram a resgatar a estabilidade na crise do mensalão em seu governo.

    Dois fatos mobilizam o Palácio do Planalto nos últimos dias: o temor de que militantes governistas entrem em confronto com manifestantes contrários ao governo no domingo, protagonizando cenas de violência que agravarão a crise. E o risco de desembarque do PMDB da base aliada, que pode ser discutido na convenção do partido no sábado.

    Dilma tem reiterado apelos, nos bastidores, aos líderes dos partidos da base aliada para que intervenham junto à militância a fim de evitar confrontos no domingo. Ela foi enfática no discurso de ontem, proferido em solenidade pelo Dia Internacional da Mulher. “Nós somos um país que tem a reputação de ser um país tolerante. Um país que não foi afeito nem a guerras nem a conflitos armados”, afirmou.

    Tentando mostrar otimismo, Dilma disse que já existem sinais de recuperação da economia. “Um desses sinais é a redução da inflação, que beneficia todo mundo”, afirmou. Ela destacou que a violência prejudica os governos. “Governos precisam de paz, para que possamos ter condições de enfrentar a crise e retomar o crescimento”.

    O encontro de Lula com o PMDB é um esforço para evitar o afastamento da sigla, num momento em que o impeachment ganha fôlego. Lula foca na cúpula do PMDB no Senado, ala do partido que ainda se mantém fiel ao Planalto.

    Ontem, contudo, o Planalto sofreu um revés no Senado, que decidiu não votar a Medida Provisória 694, que traria um incremento de R$ 3 bilhões à Receita Federal. A MP traz uma série de reduções de benefícios fiscais e limita a dedução, para efeito de apuração do lucro real das pessoas jurídicas, dos juros incidentes sobre o capital próprio.

    Ontem os advogados de Lula recorreram da decisão da ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal que negou liminar para suspender as investigações sobre um triplex em Guarujá (SP) e um sítio em Atibaia (SP). A defesa do ex-presidente diz que a Lava-Jato tomou “medidas invasivas e arbitrárias” contra ele. Diz que Lula foi “surpreendido por um mandado de condução coercitiva – não antecedida de qualquer intimação para depor como estabelece a lei”. (Colaboraram Carolina Oms e Vandson Lima)

     

    Fonte: Valor Econômico

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