A economia brasileira começou 2015 como deve terminar: em retração. O Índice de Atividade Econômica do Banco CENTRAL (IBC-Br) – indicador criado para tentar antecipar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) – apresentou queda de 0,11% em janeiro ante dezembro. Na comparação com janeiro do ano passado, o recuo foi ainda maior, de 1,34%.
O resultado de janeiro representa a segunda contração seguida mensal do indicador, que já havia recuado 0,57% em dezembro do ano passado, após revisão do dado pelo BC. Os números foram piores do que as expectativas do mercado financeiro – que esperava alta de 0,2% – e acabaram reforçando a perspectiva de que o país esteja em recessão.
A constatação de uma economia em marcha ré reduz, por ora, as apostas de fortes altas na taxa básica de juros (Selic). Com a inflação em torno dos 8% em 12 meses, esperava-se ajuste total de 0,75 ponto percentual nas duas próximas reuniões do Comitê de política monetária (Copom). Mas o IBC-Br levou analistas a acreditarem em ritmo menor. “A perspectiva de fevereiro é negativa e reforça viés recessivo”, sustenta o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.
No atual cenário, o aumento do desemprego se torna uma ameaça concreta. Na semana passada, a Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram o avanço da taxa de desocupação na virada do ano, cenário esperado e que deve ficar ainda mais claro nos próximos meses.
Para o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Luis Oreiro, não há como reverter esse ambiente desfavorável nem a curto nem a médio prazo. “As vendas no comércio despencaram, o desemprego vai crescer: é visível que a economia brasileira parou. Não se trata de o quadro recessivo estar se aproximando: a verdade é que ele já chegou”, analisa.
Petrobras
O impacto do escândalo de corrupção na Petrobras, incluindo os efeitos da redução dos investimentos da companhia e os rompimentos de contratos, poderá ter um impacto de até 0,5 ponto percentual no PIB de 2015. As medidas fiscais anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também contribuirão de maneira significativa para reduzir o crescimento, acrescenta Carlos Reis, um dos fundadores da Prime Corretora e do Banco Prime de Investimento. “Aperto é aperto: não terá outro jeito. Teremos de encarar uns dois anos de muita dificuldade para arrumar a casa”, diz.
Os desgastes políticos entre representantes do Executivo e do Congresso acentuam as incertezas em relação à economia, o que leva a uma diminuição do volume de investimentos, emenda Oreiro. “Há muitos fatores conspirando para tornar a recessão algo inevitável”, afirma ele, que alerta para os riscos da demora na concretização dos ajustes.
Fonte: Correio Braziliense