Prévia do PIB cai, mas não muda rota de recuperação

    ATIVIDADE TEVE REVÉS EM AGOSTO, MAS INDICADORES DE SETEMBRO, COMO PRODUÇÃO DE VEÍCULOS E VAREJO, AINDA MOSTRAM RETOMADA

    Márcia de Chiara

    Após dois meses seguidos de alta, o IBC-Br, indicador divulgado pelo BC e conhecido como “prévia do PIB”, registrou queda de 0,38% em agosto na comparação com o mês anterior. O recuo, no entanto, não muda a tendência de recuperação da economia brasileira, na avaliação de economistas. Indicadores do mês de setembro, já conhecidos, e que também servem como termômetro do ritmo de atividade, mostram que a trajetória de retomada continua e que a queda de agosto foi um soluço.

    Em setembro a produção de veículos cresceu 3,9% em relação a agosto. O fluxo de cargas pesadas nas rodovias aumentou 0,7% no mesmo período. E as vendas do comércio varejista tiveram desempenho positivo, apesar da retração de 1,1% na expedição de papelão ondulado.

    No mês passado, a receita de vendas do comércio varejista brasileiro apresentou crescimento de 2,4% em comparação com o mesmo período de 2016, descontada a inflação, segundo o índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), que considera as vendas de veículos e materiais de construção. Dados preliminares da Associação Comercial de São Paulo de outubro mostram que o movimento do varejo na cidade de São Paulo continua positivo este mês e aumentou 3% em relação a igual período de 2016.

    Um termômetro ainda mais abrangente é o Indicador Antecedente Composto da Economia (lace), do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas. Ele reúne oito índices, entre indicadores da economia real, do mercado financeiro, do mercado de ações e comércio exterior. Em setembro, o lace subiu 1,8% ante agosto, na terceira alta mensal seguida.

    Ao contrário do IBC-Br, que é um indicador quantitativo, o lace é um sinalizador de tendência, diz o pesquisador do Ibre, Paulo Picchetti. “O resultado dos últimos três meses mostra que a recuperação está em curso”, afirma o economista. Ele pondera que, por conta da longo período de recessão, a retomada não é tranqüila nem estável. Isso explicaria, segundo ele, recuos pontuais como o que houve em agosto no resultado do IBC-Br.

    “Vejo claros sinais de melhora da atividade”, dizoeconomis-ta da Tendências Consultoria Integra, Bruno Levy. Além de citar os resultados objetivos do desempenho do fluxo de cargas, das vendas de veículos e da confiança da indústria, que subiu 0,7% de agosto para setembro, ele destaca que a tendência de crescimento continua por conta da melhora dos fundamentos macroeconômicos, como a queda da inflação, dos Juros e da reação, ainda que modesta, do mercado de trabalho.

    Levy lembra que os efeitos da queda da taxa de Juros que normalmente aparecem na economia real seis meses após os cortes não foram totalmente sentidos e devem continuar impulsionando a atividade ao longo de 20i8.Aexpectativadoecono-mista é que a Selic, hoje em 8,25%, recue para 6,75% em fevereiro. Isso garantiria o efeito dos cortes dos Juros na atividade ao longo de 2018. “Há uma certa volatilidade na recuperação captada pelo IBC-Br.”

    IBC-Br de agosto é o menor desde maio

    O índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), conhecido como a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), cedeu 0,38% em agosto e recuou para 135,05 pontos. Foi o menor patamar desde maio deste ano, conforme a série do Banco Central com ajustes sazonais. Na comparação entre agosto e o mesmo mês do ano passado, pela série sem ajustes, a atividade econômica cresceu 1,64%. Na prática, o porcentual sugere que, a despeito de a retomada ser gradual, a atividade está crescendo em relação ao que foi visto em 2016. Neste ano, até agosto, o IBC-Br subiu 0,31%. 0 recuo do IBC-Br foi maior que a mediana (-0,30%) das estimativas do mercado financeiro, mas ficou dentro do intervalo obtido pelo Broadcast Projeções (-1,00% e +0,10%). / FABRÍCIO CASTRO

    Trabalho formal por conta própria cresce durante a crise
    Em 2012, 23,9% desses empregadores tinham CNPJ; porcentual foi para 28,9% no ano passado segundo IBGE

    Daniela Amorim / RIO

    A tradurora Gabriela Baptista atuava na informalidade quando percebeu que, se investisse num registro como pessoa jurídica, conseguiria atrair clientela maior. Em 2015, ela mudou o ramo de atividade de um registro antigo no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) para que pudesse emitir notas fiscais pelos serviços prestados.

    “Comecei a sentir que muitos clientes começaram a me pedir nota. Eu estava perdendo oportunidades. Depois da mudança, consegui manter os clientes antigos e ainda fornecer para novos”, contou Gabriela. “Até na hora de fazer a proposta para os clientes é outra postura.”

    O próximo passo será abrir uma empresa um pouco maior, com quatro sócias, para ampliar o leque de atividades ligadas à tradução, como revisões, transcrições e audiodescrições.

    Com a crise no mercado de trabalho, aumentou o ímpeto dos brasileiros por formalizar atividades e pequenos empreendimentos em busca de mais oportunidades profissionais, segundo os dados da Síntese da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Apesar da queda no número de vagas com carteira assinada no País, o número de trabalhadores por conta própria formalizados aumentou. Em 2012, 23,9% dos ocupados como empregadores ou trabalhadores por conta própria tinham registro no CNPJ, porcentual que alcançou 28,9% em 2016.

    A formalização ainda é maior entre os empregadores. Em 2016, 18,9% dos trabalhadores por conta própria tinham CNPJ, enquanto 82% dos empregadores eram registrados. Em 2014, quando o mercado de trabalho estava a todo vapor, tinham CNPJ 17,3% dos ocupados por conta própria e 81,1% das empresas. Segundo o IBGE, a facilitação de registro do pequeno empregador, através do MEI (Microempreendedor Individual), deve ter estimulado esse crescimento.

    “Ainda que o processo de crise iniba de certa forma a formalização, pode ser que a legislação tenhaajudadonesse crescimento do CNPJ”, disse Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

    De 2014 para 2016, 530 mil trabalhadores por conta própria obtiveram registro no CNPJ, praticamente metade do contingente de 1,078 milhão de ocupados que migraram para essa condição de trabalho no período. Desde o início da série da pesquisa, em 2012, o País ganhou 1,109 milhão de trabalhadores por conta própria com registro, aumento de 39%.

    “Pode ser a forma que o trabalhador por conta própria encontrou para prestar serviços que estariam enquadrados nessa exigência legal. Por exemplo, o eletricista que prestava serviço na minha casa agora tem MEI e pode virar eletricista do condomínio”, citou Adriana.

    Na avaliação do pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, especialista em mercado de trabalho na área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o aumento na formalização através do MEI ajuda a simplificar o pagamento dos tributos, mas as condições de trabalho muitas veze s permanecem precárias. “É uma formalização no papel, mas não está mudando a qualidade do emprego e da ocupação em si.”

    Metade trabalha em pequenas empresas
    Proporção de trabalhadores em grandes companhias caiu de 30,5% em 2014 para 26% em 2016

    RIO

    Em meio à deterioração do emprego e à extinção de milhões de vagas, os pequenos empregadores ganharam ainda mais relevância no mercado de trabalho brasileiro. Metade das pessoas ocupadas no País (50,1%) trabalhava em empreendimentos de pequeno porte em 2016, que possuem de uma a até cinco pessoas empregadas, segundo os dados da Síntese da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Em 2015, a fatia de ocupados nos pequenos empreendimentos era de 48,1%. Em 2014, período pré-crise, esse porcentual já era relevante, mas consideravelmente mais baixo, 46,6% dos ocupados estavam nos pequenos empregadores.

    Ao mesmo tempo, a proporção de trabalhadores trabalhando em grandes empreendimentos, que empregavam 51 pessoas ou mais, encolheu de 30,5% em 2014 para 29,0% em 2015, passando a 26,0% em 2016.

    As empresas de grande porte enxugaram mais a força de trabalho durante a crise e perderam representatividade como empregadores em relação ao início da série histórica, em 2012, em todas as regiões do País. Por outro lado, os pequenos empreendimentos fizeram o movimento oposto, com crescimento em todas as regiões em 2016 ante 2012.

    Essa perda de relevância de grandes empresas como empregadores de mão de obra pode ter explicação na redução da produção industrial, primeiro setor da economia a sentir os efeitos da crise, apontou o IBGE. A redução do parque industrial também pode estar por trás de outro efeito, o da redução na sindicalização.

    O número de sindicalizadas encolheu no País nos últimos anos. Em 2016,16,9 milhões de pessoas ocupadas ou que já tinham trabalhado estavam associadas a algum sindicato. Em termos porcentuais, foi o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012. A fatia de sindicalizados passou de 13,6% em 2012 para 13,4% em 2014, recuando a 12,1% em 2016. / d.a

    Fonte: O Estado de S. Paulo

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