Servidores consideraram oferta de reajuste de 21,3% escalonado em quatro anos insatisfatória e ameaçam multiplicar atos de protesto em todo o país se o governo não melhorar o índice
Os servidores públicos federais foram pegos de surpresa com a contraproposta do governo de reajuste salarial de 21,3%, em quatro anos, até 2019. Um dia depois de formalizada a oferta, a classificaram de “indecorosa” e prometeram exacerbar ainda mais os atos de protesto em todo o país. A reivindicação da categoria na campanha salarial de 2015 é de aumento de 27,3%, já em janeiro de 2016.
“Nossa expectativa é de uma rejeição generalizada. Infelizmente, vamos dizer ao governo que a contraproposta não nos atende, não é satisfatória e ele terá que melhorá-la. Vamos retornar a bola para o Ministério do Planejamento e esperamos que as contas sejam refeitas”, explicou Daro Piffer, presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal). Ele admitiu, no entanto, que as carreiras típicas de Estado – que não têm correspondente na iniciativa privada – estão “meio preguiçosas” e divididas na luta por índices mais encorpados. Porque, ao considerarem que o governo deve dar prioridade ao ajuste fiscal, desanimam. “O problema é que elas olham muitos números e desacreditam na solução, tendo em vista que a situação está caótica”, explicou
Há divergências entre os índices do governo e os dos funcionários. De acordo com o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, foram levadas em conta as projeções de inflação do mercado, consolidadas no Boletim Focus do Banco Central de 19 de junho de 2015 (5,5%, 4,8%, 4,5% e 4,5%, respetivamente para 2016 a 2018). O Sinal aponta que o mesmo documento do BC sinaliza inflação de 8,97% para 2015, que não foi considerada. No entender de Daro Piffer, o governo quer, com essa estratégia, passar uma borracha no passado. “As perdas tendem a ser eternizadas. É verdade, como disse Mendonça, que o ex-presidente Lula recuperou o poder aquisitivo perdido com a política restritiva na era FHC. Mas queremos chegar ao patamar da época de Itamar Franco”, irritou-se Piffer.
Projeção
Mais grave ainda, no entender do líder sindical, é que não é possível confiar nas projeções de inflação da atual equipe econômica. Em 2012, após uma das maiores greves dos últimos tempos, as projeções eram de inflação inferiores a 5% para os três anos seguintes (2103, 2014 e 2015). Apenas em 2013, pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a perda do poder aquisitivo encerrou o ano em 5,91%. Em 2014, chegou a 6,41%, muito próximo ao teto da meta estabelecida pelo BC, de 6,5%. Nesse clima de ceticismo, os servidores apontam que a proposta do governo perdeu ainda mais o sentido porque não considerou que até mesmo os 27,3% apresentados pelo Fórum dos Servidores Públicos Federais já estavam defasados.
Em março, as estimativas eram de ganho real, até junho de 2016, de 2%. Porém, a previsão de inflação estava na casa dos 6,6%. Como agora beira os 9%, esse ganho foi consumido antes mesmo de ser concedido. “Não podemos cair nessa armadilha. A nossa pauta de reivindicação tem oito eixos. O salário é apenas um deles. Com certeza, em 7 de julho – data da próxima reunião com o governo -, vamos reiterar que nossa proposta não mudou, continuamos com os 27,3% para 2016”, reforçou Piffer.
Fonte: Correio Braziliense