‘Prova dos nove’ para o BC fica adiada para o pós-eleição

    Por Angela Bittencourt | De São Paulo

    O Banco Central tem feito um esforço danado para recuperar sua credibilidade e agora tem o desafio de não assistir a retrocesso. Mas a prova dos nove será tirada para valer no fim do ano, indicou ontem o mercado futuro de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). Os juros futuros de prazos mais curtos desabaram e os juros que atravessam a eleição de outubro subiram. Na prática, o mercado basicamente deslocou a projeção de aumento da taxa Selic.

    Um ajuste mais forte da Selic que o mercado esperava para os próximos meses, o Comitê de Política Monetária (Copom) apontou, na quarta à noite ao final da última reunião de 2013, que não está programado. Para economistas e tesoureiros uma correção de rota será necessária porque o trabalho feito pelo BC até o momento não produziu o efeito desejado, quando avaliado em termos de convergência da inflação para a meta.

    Na quarta-feira, o Copom confirmou duas expectativas do mercado: aumentou a Selic em 0,50 ponto, para 10%, e mudou o comunicado divulgado após o encontro. No entanto, a alteração desse texto não foi exatamente como o esperado. Nele, o Copom sinalizou um novo curso para a política monetária.

    A interpretação imediata foi a de que o colegiado começa a preparar o mercado para interromper o ciclo de alta do juro. Bancos e investidores vinham se preparando para isso, mas seguindo um raciocínio: o BC elevou a taxa Selic em 2,75 pontos percentuais em sete meses – entre 17 de abril e 27 de novembro – e os efeitos sobre a inflação foram pífios. A inflação segue pressionada, oscilando ante efeitos sazonais; as projeções para a inflação em 2013 e 2014 só avançaram neste período e isso ocorreu também com a estimativa para o IPCA calculado 12 meses à frente, que passou de 5,5% para 6,2%.

    O Copom subtraiu do comunicado um parágrafo reconhecido pelos especialistas como “guidance” pela autoridade monetária. O BC deixou de atrelar as futuras decisões sobre juros ao desempenho da inflação. De outubro para novembro, desapareceu do statement “o comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. Em contraponto, o Copom acrescentou uma referência ao período em que vem elevando a Selic ou ao processo de ajuste da taxa básica de juros “iniciado na reunião de abril de 2013”. A referência foi lida como medida de longo tempo de ajuste do juro.

    No entanto, seria longo tempo para quem ou para quê? Longo tempo aumentando o juro a um patamar que desagrada ao governo ou longo tempo de ajuste para não obter os resultados almejados pelo mercado. Este detalhe deve ser levado em conta, porque o BC deixou de fazer sinalizações a partir do centro da meta de inflação. E adotou como inflação adequada a variação do IPCA deste ano inferior aos 5,84% vistos em 2012 e o objetivo de criar condições para que a inflação de 2013 fique abaixo da deste ano. A pesquisa Focus divulgada nesta semana trouxe projeção mediana de 5,82% para este ano e 5,92% para o próximo.

    Em 2013, o Copom ainda está devendo a ata do encontro. O documento sai na quinta.

    Com foco apenas na taxa, Selic a 10% sacramenta o retorno do juro básico a dois dígitos treze meses depois de cair até à mínima histórica de 7,25%. De 42 analistas ouvidos em pesquisa feita na semana passada pelo Valor, onze estimavam Selic a 11% em dezembro de 2014 – ou 13, incluindo duas instituições que trabalhavam com projeções dentro de intervalos. Do elenco de 42 profissionais, 24 estimavam Selic entre 10,25% e 11% no fim do ano que vem. Ontem, os juros futuros apontaram fechamento de ano a 10,25%.

    Fonte: Valor Econômico

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