Rebaixamento na agenda

    Standard & Poor”s discute a nota de crédito do país com Mantega e Tombini. Para mercado, corte é inevitável

    ROSANA HESSEL

    O mercado já vem precificando o possível rebaixamento da nota dos títulos soberanos do Brasil pelas agências internacionais de classificação de risco. Na avaliação de especialistas, o fato de a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) ter ficado abaixo de 46 mil pontos nos últimos dias, e dos preços do seguro contra um eventual calote do governo estarem cada vez mais altos mostram que a confiança na economia brasileira e no governo vem se deteriorando já há algum tempo, de forma contínua. 

    Ontem, a diretora do Departamento de Avaliação da América Latina da Standard &Poor”s (S&P), Lisa Schineller, reuniu-se com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. A visita, que continuará hoje em nível técnico, tem uma conotação preocupante para a equipe da presidente Dilma Rousseff, que vem se empenhando em uma cruzada para acalmar os “pessimistas”, como o governo costuma classificar os críticos da política econômica. Nem a Fazenda nem o BC comentaram o encontro. Lisa também fugiu da imprensa. 

    A S&P foi a primeira a sinalizar, em junho de 2013, que pode reduzir a avaliação do risco Brasil, devido à piora dos resultados fiscais nos últimos anos. A agência mudou sua perspectiva de “estável” para “negativa” em relação ao rating do país. Logo depois, em outubro de 2013, a Moody”s reduziu sua projeção para a nota brasileira de “positiva” para “estável”. 

    A possibilidade de rebaixamento do país em ano eleitoral é o que mais aflige o governo. A maioria dos analistas, entretanto, embora considere inevitável o downgrade do país, não acredita que ele deva ocorrer antes das eleições presidenciais de outubro. 

    Calote 
    O economista-chefe da DXI Consultoria, Lino Gil, disse que gestores de recursos do Brasil e do exterior estão em compasso de espera. “Não é somente a expectativa de rebaixamento. As manifestações, a Copa do Mundo e as eleições influenciam a avaliação. Por enquanto, todo mundo está evitando fazer apostas”, disse. 

    Gil explicou que o downgrade será ruim porque obrigará grandes fundos internacionais, que se orientam pelas notas da agências, a deixarem de aplicar no país. Ele lembrou que o prêmio do seguro contra o calote dos títulos brasileiros, conhecido como CDS (Credit Default Swap), já subiu mais de 60% desde janeiro de 2013 no caso de papéis de 10 anos. 

    “O mercado não quer perder. Por isso, já ajustou os preços, antecipando-se ao fato (o rebaixamento). Resta ver como o governo vai reagir”, comentou o economista-chefe da agência de classificação de risco brasileira Austin Rating, Alex Agostini. 

    “Ao ver que o governo não apresenta resultados fiscais consistentes, tem ingerência forte nas estatais e se aproxima de parceiros como Cuba e Venezuela, os investidores avaliam que o país está indo para um caminho nada agradável”, explicou Agostini. Ele sinalizou que a próxima avaliação da Austin deverá reduzir a perspectiva do país, de “estável” para “negativa”, a exemplo do que fizeram as agências internacionais no ano passado.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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