Riscos do dinheiro

    Os cortes no Orçamento da União, dentro do esforço para cumprir a meta fiscal do governo, afetaram a rotina do Banco CENTRAL e colocaram os consumidores em risco. Sem dinheiro, a instituição foi obrigada a suspender a troca de boa parte das cédulas  em circulação. Com isso, aumentaram as chances de falsificação e de transmissão de doenças.

    “Os elementos de segurança, que permitem a quem recebe as notas verificar se elas são verdadeiras, estão desgastadas, e o acúmulo de sujeira de bactérias pode provocar um surto de doenças”, alerta Daro Piffer, presidente do Sindicato Nacional dos Servidores do BC (Sinal). “A situação está tão complicada que, em algumas localidades do país, as lotéricas estão recomendando aos clientes que paguem as contas apenas em cartão de débito”, emenda.

    Piffer ressalta que as cédulas mais desgastadas são as de R$ 2, R$ 5 e R$ 10, as de maior circulação, que duram, em média, um ano. “Mas também as de R$ 50 e de R$ 100, alvos dos falsificadores, deixaram de ser trocadas dentro dos prazos. Com os danos sofridos, fica difícil verificar pelo relevo se a cédula é falsa ou verdadeira. O BC corta o orçamento e o consumidor é que paga a conta”.

    A população deve tomar cuidado: a encomenda de notas e moedas pelo BC à Casa da Moeda caiu quase dois terços. Serão produzidas 1,2 bilhão de cédulas em 2014, ante as 3,5 bilhões do ano passado. Quanto às moedas, passou de 2,3 bilhões, em 2013, para 945 milhões neste ano. O BC não comentou.

     

    Infecção pode matar

    As cédulas têm vida útil de até 15 meses. Nesse tempo, ao passar de mão em mão, o dinheiro de papel se deteriora e acumula bactérias, muitas prejudiciais à saúde. Estudo da Universidade Gama Filho (RJ) encontrou 59 tipos de micro-organismos numa só nota, que podem provocar desde infecções comuns, como terçóis, faringites, otites, acne, furúnculos e micoses, até septicemia, que pode matar se chegar à corrente sanguínea.

    Pessoas que manuseiam o dinheiro diariamente, como caixas de bancos e de supermercados, cobradores de ônibus e desleixados com a higiene, estão mais expostas a contaminações. A cobradora Sonia Caetano de Faria diz que, sempre que retorna ao terminal de ônibus, vai ao banheiro lavar as mãos porque “é muita imundície”. Ela diz sofrer com terçóis e disenteria regularmente.

    O arrecadador – pessoa que recolhe e confere o dinheiro entregue pelos cobradores de ônibus – Carlos Silva Fonseca chegou a fazer hora extra para cobrir um companheiro recém-contratado. Passado pouco mais de um mês, o colega ficou com o rosto inchado e cheio de feridas por ser alérgico ao pó que o dinheiro solta quando as notas são contadas.

    Vários cobradores dizem receber orientações das companhias de ônibus para sempre lavar as mãos assim que chegam ao terminal, antes e depois de usar os banheiros e também antes de comer. Previdente, Tiago Henrique Souza afirma que segue as regras e ainda leva com ele álcool em gel para desinfetar as mãos.

    É exatamente essa a recomendação dada pelo professor de doenças infecciosas da Universidade de Brasília (UnB), Cristiano Barros. “São vários problemas que o dinheiro traz. Quanto mais se manipula, mais se dissemina bactérias. Assim, lavar as mãos é uma solução barata e simples”, receita. O gerente de supermercado Evantuir Ramos afirma que todos os banheiros de seu estabelecimento, no Sudoeste, têm sabonetes antibacterianos, e os funcionários são orientados a cooperar. (CP)

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorCuidados com a corrupção
    Matéria seguintePerspectivas da Agenda Semanal dos Poderes DE 29/09 a 03/10