Sucessão no Fed tem novo impasse

    Por Sergio Lamucci | De Washington

    As chances de Janet Yellen ser escolhida para comandar o Federal Reserve aumentaram depois que o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers saiu da corrida pelo cargo, mas alguns analistas advertem que é arriscado cravar que a atual vice-presidente do Fed será indicada para suceder Ben Bernanke a partir de janeiro de 2014. A candidatura de Summers ao posto naufragou especialmente pela oposição de vários senadores democratas, o que tornaria o seu processo de aprovação no Senado difícil, se não impossível, como diz relatório da consultoria Capital Economics.

    “Indicar Yellen agora poderia fazer o presidente Barack Obama parecer fraco, cedendo aos parlamentares democratas que fizeram campanha aberta por ela”, afirma a Capital, que considera possível um adiamento no processo de nomeação enquanto o governo procura outro candidato, embora veja Yellen como a provável favorita.

    Estrategista-sênior para os EUA do Rabobank, Philip Marey diz que as chances de Yellen de fato cresceram, mas também ressalta que não é uma certeza que a sua escolha esteja garantida. “Na verdade, se nós analisarmos o processo de indicação de um ângulo político mais amplo, a retirada da candidatura de Summers é outra derrota de Obama. Afinal, Summers era o seu candidato, enquanto Yellen era a candidata dos democratas no Senado e na Câmara dos Deputados. Escolher Yellen automaticamente poderia ser visto como um sinal de fraqueza”, diz Marey em relatório. Para a Capital, há outra questão: o governo teria mostrado pouco ou nenhum entusiasmo por Yellen.

    Essa informação não é corroborada por alguns analistas que acompanham de perto os bastidores. Ezra Klein, do “Washington Post”, diz que a linha de argumentação da Casa Branca nunca foi a de que Yellen seria uma má escolha. Segundo ele, fontes do governo destacavam que ela seria um nome excelente – “uma candidata incrível que eles adorariam nomear se não houvesse um candidato ainda mais incrível, Summers”.

    O ex-secretário do Tesouro foi bombardeado principalmente por ser visto como um dos responsáveis pela crescente desregulamentação do sistema financeiro dos EUA a partir do fim dos anos 90, considerada um dos fatores que levaram à crise que se agravou em 2008. A fama de difícil também não ajudou. Summers se aproximou de Obama quando foi diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, em 2009 e 2010.

    Yellen é tida como uma das arquitetas da política de compra maciça de ativos pelo Fed. Além da mobilização dos políticos democratas, ela conquistou o apoio de economistas de peso, que manifestaram a sua preferência em carta a Obama. Mais de 350 nomes assinaram o texto, como o Nobel Joseph Stiglitz, o ex-vice-presidente do Fed Alan Blinder e Christina Romer, ex-chefe do Conselho de Consultores Econômicos de Obama.

    Muitos analistas acreditam que Yellen estaria mais inclinada a continuar com as políticas adotadas no momento pelo Fed, sendo mais favorável às medidas ultra expansionistas do que Summers.

    A pressão dos democratas contra Summers e a favor de Yellen, tudo indica, deixou Obama realmente contrariado. Depois que cerca de um terço dos senadores do partido pediram em carta pedindo indicação de Yellen, a Casa Branca fez chegar aos políticos a insatisfação do presidente com essa atitude.

    Obama defendeu Summers enfaticamente numa reunião com políticos democratas, quando o deputado Ed Perlmutter, do Colorado, disse que o ex-secretário do Tesouro seria uma má escolha. Na mesma ocasião, o presidente disse que havia entrevistado vários economistas para o cargo, citando, além de Summers e Yellen, Donald Kohn, vice-presidente do Fed entre 2006 e 2010. Num evento ocorrido ontem no centro de estudos Brookings Institution, do qual é pesquisador-sênior, Kohn afirmou que uma política monetária muito expansionista pode levar a desequilíbrios tão grandes que pode haver dificuldades para corrigi-los por meio da regulação. “Quando uma política está muito inclinada numa determinada direção, a outra não pode compensar, não pode atingir os seus objetivos”, disse Kohn, também membro do Comitê de Política Financeira do Banco da Inglaterra.

    Secretário do Tesouro no primeiro mandato de Obama, Timothy Geithner é outro que conta com a simpatia de Obama. No entanto, ele teria dito mais de uma vez que não está interessado no cargo. Ex-presidente do Fed de Nova York, Geithner parece determinado, pelo menos por enquanto, a não voltar para um posto público, aproveitando para fazer palestras muito bem remuneradas. Em julho, o “Financial Times” informou que ele teria recebido cerca de US$ 200 mil para falar numa conferência promovida pelo Deutsche Bank. Em eventos organizados pela Blackstone e pela Warburg Pincus, Geithner teria abocanhado outros US$ 100 mil em cada um.

    Na lista dos azarões, Roger Ferguson, vice-presidente do Fed entre 1999 e 2006, aparece com frequência. Hoje, ele comanda a empresa de serviços financeiros TIAA-CREF. Também costumavam ser mencionados os nomes de Blinder e Christina Romer, mas os dois parecem fora do páreo, e endossaram publicamente o nome de Yellen. Há ainda quem aponte o nome de Stanley Fischer como um excelente nome pare o Fed. Ex-presidente do BC de Israel e ex número dois do FMI, Fischer é considerado um economista brilhante, respeitado por banqueiros centrais e por acadêmicos. Nascido na Zâmbia, é cidadão americano desde 1976. Obama, contudo, não parece cogitar indicá-lo para o Fed.

     

    Fonte: Valor Econômico

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