Henrique Meirelles “perderá pontos” na partida para sua gestão no Ministério da Fazenda de um eventual governo Temer se confirmar a permanência de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central (BC). As críticas podem ser atenuadas se Tombini for mantido por curto período. Dois meses é tempo classificado por profissionais do mercado financeiro como “tolerável”; mais que dois meses torna-se “problemático”; e manutenção do BC atual ao longo de um eventual novo governo é tido como “injustificado”.
O Valor conversou com 11 economistas de bancos, gestoras e consultorias ontem e três deles consideraram “pertinente”, “compreensível” ou “sem problema” a intenção de Meirelles manter o atual presidente do BC no posto que ocupa desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff por indicação do próprio Meirelles. À frente do BC durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – 2003 a 2010 -, Meirelles contou com Tombini no comando da diretoria de assuntos internacionais e de normas.
Não faltam críticas, no mercado financeiro, a Tombini, mas há quem o defenda. “Temos que lembrar que Tombini é um nome do Meirelles.Tombini herdou o Banco Central que Meirelles pilotou por oito anos. E isso explica um laço de confiança. Além disso, o BC tem sido a única instituição sólida no meio desse caos de 2016″, comenta o principal economista de uma gestora de fundos de investimentos que vê o Comitê dePolítica Monetária (Copom) à frente da curva de juros (das projeções para a taxa no mercado futuro) e entregando a inflação na meta este ano. “Não vejo necessidade de mudar já o comando do BC, mesmo porque uma mudança agora pode alterar a curva-pré [prefixada] na expectativa de um novo presidente mais hawkish [mais inclinado ao aperto monetário].”
Um outro entrevistado reconhece e destaca que “a atual equipe do BC tem desenvolvido, nos últimos meses, um bom trabalho ao colocar aSelic no terreno contracionista e, finalmente, ver o início do processo de reancoragem das expectativas para a inflação”. E acrescenta que, apesar de a comunicação do BC ter sido “bastante criticada no início do ano, a verdade é que o Copom está fazendo um bom trabalho”. Ele entende que talvez a atual diretoria “vá iniciar o ciclo de corte da taxa Selic que deve começar na virada do primeiro para o segundo semestre”.
Na mesma linha, um outro entrevistado considera “bastante provável” a permanência de Tombini em seu posto, “pois dá tempo para esperar o Copom de junho e manter inalterada a taxa Selic, quando o IBGE apresentar o IPCA de maio em 8,5% no cálculo em 12 meses. Tombini poderia começar a cortar o juro no Copom de julho”.
O ciclo de alívio monetário está contratado e a importância do BC para a política econômica estará diretamente relacionada à magnitude do corte da Selic. O momento em que esse processo vai começar e em que ritmo serão arbitrados pelo BC porque essa é sua missão, em tese. O BC detém os instrumentos de gestão monetária, mas sua ação estará subordinada aos indicadores de atividade combinados à trajetória da inflação. Sempre foi assim, certo? Neste momento, porém, será ainda mais assim.
“Ao BC não será dada a opção de seguir outro caminho que não o de redução do juro. Este é o único caminho da política monetária no Brasil de hoje”, diz um experiente profissional que conhece o setor público e o setor privado. “A inflação está permitindo o corte de juro e a atividade também. A economia está desabando, o desemprego vai chegar a 13% e a Selic, mantida onde está, produzirá um juro real da ordem de 10%. E não haverá alternativa além de iniciar um ´easing´ [afrouxamento] monetário. O desafio a ser enfrentado pelo governo brasileiro é no campo fiscal e o jogo da política econômica estará no Ministério da Fazenda. A volta da Selic a um dígito ao longo de 2017 é possível.”
Para o economista, é importante saber qual é o Tombini que vai prevalecer na presidência do BC. “Se for o Tombini que trabalhou com Guido Mantega até 2014 ou o Tombini que trabalhou com Joaquim Levy. Se for o de Mantega, os céticos têm razão em torcer pela troca no comando do BC. Se for o de Levy, os céticos vão descobrir que não tinham razão”, diz.
Para um outro interlocutor com longa experiência em operações de tesouraria, é importante que a diretoria do BC seja trocada. “O bancoprecisa de alguém com jogo de cintura porque pode haver tensão com a Fazenda, uma vez que o Brasil tem um imenso desafio fiscal”, pondera esse profissional que, a despeito de considerar relevante a troca da diretoria, não vê problema na permanência de Tombini na presidência da instituição por um tempo num eventual governo Temer. “Dois meses a mais com Tombini à frente do BC não mudará nada. Inclusive, porque qualquer outro profissional que assuma essa posição dificilmente fará algo diferente do que o atual presidente deverá fazer”, comenta.
Esse profissional, profundo conhecedor do trabalho dos bancos centrais, reconhece que o BC não deveria “abrir mão, por pelo menos seis meses, de Altamir Lopes e procurar manter Otávio Damaso na equipe”. Ele explica as duas exceções. Lembra que Altamir, hoje diretor de política econômica, está na instituição há décadas e tem domínio absoluto das estatísticas brasileiras a cargo da instituição. Otávio Damaso, que assumiu a diretoria de regulação em 2015, também servidor de carreira, tem a memória das ações prudenciais tomadas pelo governo brasileiro.
Fonte: Valor Econômico