CONJUNTURA/Presidente do BC admite que a carestia está resistente. Por isso, a autoridade monetária se mantém “vigilante” em relação aos reajustes de preços
VICTOR MARTINS
Com a inflação novamente em alta, ampliando a desconfiança dos investidores em relação ao real compromisso do governo em conter a carestia, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, assegurou, ontem, que a autoridade monetária tem atuado para garantir que o custo de vida volte para o centro da meta de 4,5%, fato que não ocorre há mais de cinco anos.
O que mais tem assustado o mercado é o fato de o BC já ter aumentado a taxa básica de juros (Selic) em 3,5 pontos percentuais, desde abril do ano passado, de 7,25% para 10,75% ao ano, mas, ainda assim, a inflação não cedeu o suficiente para encostar no objetivo definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Nos 12 meses terminados em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou elevação de 5,68%.
Interferência
A desconfiança é tamanha que as expectativas dos agentes econômicos em relação à inflação só pioram, a despeito do arrocho monetário. Pesquisa do próprio BC mostra que as apostas de mais de cem analistas são de que o custo de vida neste ano subirá 6,01%, projeção inimaginável tempos atrás, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) promovia arrochos menores na taxa Selic. Boa parte da explicação para esse pessimismo decorre da interferência da presidente Dilma Rousseff no BC, ao exigir que os juros caíssem até 7,25% ao ano, o menor nível da história, como forma de ter um troféu a ser apresentado na campanha à reeleição. A manobra não se sustentou.
Segundo Tombini, os efeitos cumulativos da política monetária vão aparecer sobre a inflação. Ele admitiu, porém, que é necessário permanecer “especialmente vigilante”. Em encontro com investidores em São Paulo, ele assinalou: “O BC tem agido para assegurar a sua convergência (da inflação) à trajetória de metas. Os efeitos da política monetária são cumulativos e se manifestam com defasagens”. Os especialistas ressaltaram, contudo, que nunca essa defasagem foi tão grande, superior a nove meses.
Para conforto do mercado, o presidente do BC sinalizou que o processo de aumento dos juros para conter a carestia ainda não chegou ao fim, diante da resistência da inflação. Com o IPCA de fevereiro, de 0,69%, os analistas se dividiram. Uma parcela vê apenas mais uma alta da Selic, de 0,25 ponto, para 11% ao ano. Outra, acredita em mais duas altas de 0,25 ponto, para 11,25%.
Tombini disse ainda que o ritmo de crescimento em 2014 deve se manter em patamar próximo ao de 2013, de 2,3%, e avaliou que o quadro externo passa por um “período de transição”, puxada pela recuperação dos Estados Unidos. No entender dele, “o aumento da volatilidade nos mercados internacionais é reflexo desse processo de realinhamento de preços relativos, fenômeno que não deve ser confundido com vulnerabilidade”, uma vez que o Brasil tem “robustos fundamentos econômicos e financeiros”.
Fonte: Correio Braziliense