Presidente do BC não vai alterar do seu programa cambial por causa da decisão dos EUA de continuar estímulo à economia
A decisão do Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês) de manter o ritmo de compras de títulos para estimular a economia norte-americana, que surpreendeu o mercado na semana passada, não muda a política monetária e o programa de câmbio brasileiros, afirmou ontem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em entrevista à imprensa internacional. Depois de uma escalada do dólar ante o real desde maio, o BC brasileiro anunciou em 22 de agosto um programa regular de oferta de dólares até o fim do ano, num montante total de US$ 60 bilhões, para reduzir a volatilidade do câmbio e oferecer proteção a empresas.
Na semana passada, depois que o Fed manteve o ritmo do estímulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o BC brasileiro poderia diminuir a intervenção no câmbio — o que foi negado por Tombini ontem. “Da nossa perspectiva, o programa (de câmbio) é adequado, está funcionando bem. Então não há notícias do nosso lado sobre esse assunto”, disse Tombini em teleconferência com os jornalistas estrangeiros, quando questionado sobre a possibilidade de diminuir a oferta diária de dólares pelo BC brasileiro.
Na quarta-feira passada,quando o Fed anunciou sua decisão de não iniciar o corte dos estímulos, surpreendendo o mercado que contava com a medida, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,comemorou a medida e previu que o BC poderia reduzir o programa cambial. Ao ser perguntado sobre a sua previsão para a cotação do dólar, Mantega respondeu: Não sei aonde vai chegar. Provavelmente o Banco Central poderá diminuir a sua intervenção, e caberá a ele decidir isso. Mas o que interessa para nós é a estabilidade.
Não temos um patamar ideal. Mas é claro que R$ 2,40 é um exagero e trazia inconveniências”, ressaltou. O presidente do Banco Central também afirmou que a recente decisão do Fed de continuar a injetar US$ 85 bilhões mensalmente na economia dos EUA não muda a política monetária brasileira. O BC iniciou em abril deste ano um ciclo de alta do juro básico para controlar a inflação, elevando a taxa Selic da mínima histórica de 7,25%, para 9% ao ano.
O mercado espera nova elevação do juro em 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em outubro. Há dúvidas, no entanto, sobre o ritmo de aperto monetário depois disso. Sobre as ações do Fed, Tombini disse ser construtivo o processo de redução gradual dos estímulos nos EUA, afirmando que quanto mais gradual a mudança, melhor para os emergentes. Para ele, o mundo já está em “transição de políticas muito acomodativas e não-convencionais para um mundo de condições monetárias e financeiras normais”.
“O ‘timing’ para isso é incerto neste momento, mas eu diria que já estamos no processo de transição”, afirmou. Para Tombini, o cenário internacional está ficando melhor, o que beneficiará países emergentes, como o Brasil. “Vemos estabilização na Europa,vemos a China conduzindo seu modelo de crescimento num caminho positivo e construtivo, vemos a recuperação dos EUA ganhando mais força”, disse. Sobre a economia brasileira, o presidente do BC disse estar “cautelosamente” otimista, que a política monetária tem ajudado a trazer a inflação para baixo e que é importante para reduzir o contágio da alta do dólar nos preços. “Há grande potencial de aumentar o crescimento do Brasil, estamos numa situação muito perto do pleno emprego e temos que colocar muita ênfase agora em investimentos e aumento da produtividade”, declarou. Reuters
Fonte: Brasil Econômico