Uma nova Esplanada para se aproximar do Congresso

    Na formação do segundo governo, Dilma deve fortalecer a relação com o Legislativo. Aliados importantes na campanha de reeleição, como Jaques Wagner, assumirão ministérios estratégicos, a exemplo da Fazenda, da Casa Civil e da Secretaria-Geral

    A vitória por uma margem apertada – 3,45 milhões de votos em um universo de 142,8 milhões de eleitores – e as dificuldades enfrentadas na relação com o Congresso ao longo dos quatros anos do primeiro mandato mostraram à presidente Dilma Rousseff (PT) a importância de ter nomes de peso na equipe da Esplanada para que o governo não trave. Por isso, o xadrez ministerial que começa a ser desenhado um dia após a reeleição de Dilma deixa para o segundo plano os perfis mais técnicos por opções mais habilidosas politicamente no trato com o Legislativo.

    Interlocutores da presidente afirmaram que ela aprendeu a lição este ano, especialmente quando o PMDB da Câmara – que promete dar ainda mais dor de cabeça à presidente ao longo dos próximos quatro anos (leia mais na página 3) – criou o blocão e infernizou a vida palaciana. Com a CPI mista da Petrobras batendo às portas do Planalto, Dilma levou Aloizio Mercadante para a Casa Civil e Ricardo Berzoini para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). A dupla conseguiu apagar alguns incêndios, mas as eleições e a sucessão de denúncias de corrupção na maior empresa do país mantiveram acesas a fogueira na qual a administração Dilma ardeu ao longo dos últimos meses.

    O núcleo palaciano do futuro governo seguirá a tendência de investir em perfis de longa trajetória política. Jaques Wagner (PT), por exemplo, será um dos ministros mais fortes no próximo mandato. Ontem à noite, o governador da Bahia estava no Palácio da Alvorada ao lado da presidente para acompanhar as primeiras entrevistas de Dilma às emissoras de televisão. Caso Mercadante substitua Guido Mantega na Fazenda, Wagner assumirá a Casa Civil.

    Se Mercadante permanecer no Planalto, o petista baiano será nomeado para a Secretaria de Relações Institucionais, responsável pelo trato com o Congresso e pela condução das articulações para a reforma política. Wagner foi articulador político de Luiz Inácio Lula da Silva no momento mais crítico da administração do petista: a crise do mensalão, em 2005.

    Esse desenho não significa desprestígio de Berzoini perante a presidente. Dilma reconhece o papel fundamental exercido por ele – que presidiu o PT durante o mensalão – para acalmar o PMDB no Congresso e para negociar a reforma política. Se tirá-lo do Planalto, Dilma deve realocá-lo no Ministério das Comunicações, pasta com a qual Berzoini tem afinidade e na qual conduzirá um debate tão espinhoso quanto a relação com o Congresso: a regulamentação da mídia, defendida pelo PT e rejeitada, por enquanto, pela presidente.

     

    Filtro

    Um dos petistas mais próximos de Dilma, o ministro licenciado do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, deve ocupar a Secretaria-Geral da Presidência na vaga de Gilberto Carvalho. Escalado para ser o anteparo da presidente nas viagens da campanha presidencial, Rossetto será o filtro para as negociações com os movimentos sindical e sociais, sobretudo os do campo. “Não dá para desconsiderar que, até as vésperas do segundo turno, os servidores públicos, uma categoria que sempre votou em nós, dava um indicativo de voto nulo. Temos de trazer esse pessoal para próximo da gente novamente”, justifica um aliado de Dilma.

    As expectativas não se restringem à política. A questão econômica é tema central das preocupações com os próximos quatro anos. Após um dia de quedas na bolsa de valores e disparada do dólar, cresceram as especulações sobre o substituto de Guido Mantega na Fazenda (leia mais nas páginas 9 e 10). Ontem, durante entrevista ao Jornal da Record, Dilma admitiu que gosta de Luiz Carlos Trabuco Cappri, presidente executivo do Bradesco, e que deve se aposentar no ano que vem. Entretanto, desconversou quanto à possível indicação. “Eu gosto muito do Trabuco, mas não acho que esse seja o momento e a hora exata para anunciar mudanças no governo”, disse Dilma, que manteve o discurso em relação às demais alterações. “Governo novo, ideias novas. Mas estou muito tranquila e certa de que esse assunto não é importante neste momento para o país.”

    Além de Trabuco e de Mercadante, um nome em alta nas especulações é o do ex-secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa. Ele foi um dos principais críticos das maquiagens contábeis para se garantir o superavit e a intervenção estatal no debate sobre a taxa de retorno dos investimentos do setor privado nas concessões. São dois temas que afastaram Dilma do empresariado, uma seara que ela precisa reconquistar neste segundo mandato.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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