
Edição 403 – 02.05.2025
1° DE MAIO – DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR?
Não é tudo a mesma coisa?
Na verdade, não.
O “Dia do Trabalho” enfatiza a atividade laboral em si, enquanto que o “Dia do Trabalhador” destaca a valorização das pessoas que desempenham essas funções, muitas vezes relacionadas às lutas históricas por direitos trabalhistas.
A data tem origem em uma greve histórica ocorrida em 1886, na cidade de Chicago,nos Estados Unidos, em que reivindicavam jornadas de oito horas e na qual trabalhadores foram mortos pela polícia.
O “Dia do Trabalho” no Brasil foi o fruto de uma apropriação política, especialmente durante o governo Getúlio Vargas, visando modificar profundamente o seu significado verdadeiro.
A partir da década de 1930, com Vargas no poder, a data sofreu a sua guinada simbólica: de um dia de protesto e luta passou a ser uma celebração institucional, marcada por discursos oficiais, anúncios de medidas como o valor do salário mínimo e festas populares promovidas pelo governo, culminando com a criação de um Ministério do Trabalho.
Essa mudança faz parte da estratégia populista e autoritária do Estado Novo, no qual Vargas se colocava como o “benfeitor” dos trabalhadores — atualizando a ideia de conquista coletiva por concessões do líder.
“A manifestação que era dos trabalhadores para exigir direitos se transformou em uma festa do trabalho, na qual se homenageia o trabalho como categoria básica do mundo capitalista e do Estado autoritário de Vargas”, explica Claudio Bertolli Filho, professor da Unesp.
O auge dessa política ocorreu em 1943, quando Vargas sancionou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), justamente em um Primeiro de Maio.
E hoje?
Na verdade, mesmo com mais empregos, o Brasil enfrenta o dilema da precarização e o descrédito da CLT.
O país convive com alto número de pessoas trabalhando sem carteira assinada e trabalhando por conta própria, mesmo que em situação precária.
Essa realidade tem correlação direta com a transformação cultural e econômica advinda com a reforma trabalhista de 2017 e a ascensão da chamada “pejotização”, sobretudo nos mais jovens, que desacreditam do emprego formal e das benesses sob o guarda-chuva da CLT.
Para a professora Flávia Manuella Uchôa (UFF), coordenadora do Núcleo de Estudos em Psicologia Social do Trabalho (NUPST), a juventude que chegou ao mercado de trabalho nos últimos 25 anos teve acesso limitado à formalização, com muitos jovens incluídos na sociedade mais pelo consumo do que por direitos, “enfrentando rotinas de trabalho precarizadas, especialmente no setor de serviços, onde predominam baixos salários e proteção social insuficiente”.
Ainda segundo a pesquisadora, “Diante disso, boa parte desses jovens enxergam hoje na carteira assinada mais uma armadilha do que uma solução. Muitos rejeitam esse modelo não por falta de vontade de trabalhar, mas por perceberem que ele não garante segurança, renda digna ou perspectivas de futuro. A escolha, na verdade, é entre o precário e o ainda mais precário. A aversão ao regime celetista, portanto, não é rebeldia — é um reflexo direto de um mercado de trabalho que ainda oferece pouca dignidade e quase nenhuma segurança”.
Os sindicatos precisam se reinventar para esta nova geração.
O discurso da CLT e dos direitos trabalhistas é insuficiente para satisfazer as novas demandas.
O que não falta são motivos para novas lutas pela dignidade do trabalhador.
Mas para isso possa vir a ocorrer a lição de 1886 não pode ser esquecida.
Sem luta e união, nada será alcançado.
PEC-65: RUIM PARA O SERVIDOR DO BC,
PIOR PARA O BRASIL!
Diga pelo que você quer lutar!
LUTE JUNTO COM O SINAL-RJ!
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