Edição 102 – 17/7/2015

A realidade por trás dos números


A recente intervenção da direção do Banco Central do Brasil (BCB) no processo negocial da categoria com o Governo faz parecer que suas atribuições mais típicas correm em um mar de tranquilidade. As notícias nos jornais e as informações que obtemos nos próprios canais de comunicação da instituição não parecem corroborar isso. 

São atribuições típicas do BCB as associadas ao controle de preço e as que buscam aumentar a estabilidade do sistema financeiro. Ao mesmo tempo em que essa direção quer implantar mecanismo de controle draconiano na entrada do edifício sede sobre os servidores, ela falha ao cuidar de suas responsabilidades mais diretas. 

A área de supervisão do BCB encontra-se com sérias dificuldades de atuação. O servidor está tendo que arcar com boa parte de seus custos com estadia e alimentação quando em atuação fora de sua regional. Contudo, não há constrangimento no que tange a liberação de ex-diretores e ex-chefes de departamento para atuarem no mercado que deveriam fiscalizar, conforme já falado no Apito Brasil nº 92. 

Outro embaraço refere-se à atuação de instituições financeiras sob investigação do CADE como dealers no mercado de câmbio. Assunto amplamente noticiado em alguns dos principais meios de comunicação do país há mais de uma semana, a direção do BCB não tomou ainda nenhuma atitude. Indo à fonte primária, o próprio CADE, vemos nomes das instituições estrangeiras que atuam no Brasil.

“As empresas investigadas no processo (PA 08700.004633/2015-04) são Banco Standard de Investimentos, Banco Tokyo-Mitsubishi UFJ, Barclays, Citigroup, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, JP Morgan Chase, Merril Lynch, Morgan Stanley, Nomura, Royal Bank of Canada, Royal Bank of Scotland, Standard Chartered e UBS, além de trinta pessoas físicas.” 

Assim, parece também não haver constrangimento de o Banco Central operar com instituições investigadas justamente por manipulação no mercado de câmbio. Essas instituições aparecem no sítio do BC. Para quem quiser conferir, basta acessar a página do BCB.

Algumas dessas instituições já sofreram punições nos Estados Unidos, com pagamento de altas multas pela mesma razão da investigação do CADE: manipulação de taxa de câmbio. Estão nesse rol de instituições punidas o Citigroup, o JP Morgan Chase, as britânicas Barclays e Royal Bank of Scotland, e a suíça UBS. 

Será que o gasto com o pagamento de ajuste na BM&F com o swap cambial, que chega a mais de R$ 75 bilhões no acumulado de doze meses até maio deste ano, não seria consequência apenas de uma política talvez equivocada de atuação do BCB sobre o mercado de câmbio? E se essas instituições forem condenadas? Como saber o quanto desses R$ 75 bilhões não se devem a omissão por parte da autoridade monetária? 

O Sinal pode e deve opinar sobre assuntos que afetam o interesse geral da sociedade. Mostramos assim como o quadro altamente qualificado desta casa pode contribuir para o bem estar mais amplo, em especial se for devidamente valorizado, sem constrangimentos da chefia e com liberdade crítica na sua atuação. 

 

Aqui, veja a carta endereçada ao Banco Central do Brasil.

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