Edição 110 - 03/8/2015

Baldes de agosto


mont_agosto

Oito* meses após a posse para seu segundo mandato presidencial, o Brasil de Dilma Rousseff está à beira do rebaixamento pelas principais agências de risco, os juros alcançam quase 15%, a inflação vai chegando a dois dígitos, o desemprego prossegue aumentando em ritmo acelerado enquanto a produção (industrial) mantém-se no sentido inverso, quase parando. 

Nesse clima, as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) somam-se ao estresse nacional, angustiado pela falta de direção política e econômica do governo, refém (e algoz) do Parlamento e das ações do Ministério Público e da Polícia Federal. 

Para relembrar que nada está além do previsto por especialistas, artigos publicados em janeiro no Jornal dos Economistas, em A economia no segundo governo Dilma, são fundamentais para compreender o atual cenário. O ex-presidente do Conselho de Economia, membro do Conselho de Orientação do Ipea, Dercio Garcia Munhoz, por exemplo, prenunciava em ”O fim das fantasias que alimentavam ilusões”, para o “período de dolorosas correções na direção da economia, porque as medidas para realinhamento dos preços arbitrariamente contidos, impostergáveis dado o grau dos desarranjos, terão imediata repercussão na inflação; o que, dentro da lógica ortodoxa, deve levar o Banco Central a novos aumentos nos juros, que, por sua vez, aumentam os custos e os preços no mercado e desequilibram ainda mais as contas do Tesouro. Como paralelamente a ortodoxia deve impor cortes de despesas do governo, estes, e os juros em ascensão, vão deslocar a economia brasileira da preocupante estagnação para uma situação mais grave, com recuo ainda mais perverso no nível das atividades e no mercado de trabalho”. 

O preciso diagnóstico, importante destacar, não abrangia o cenário político-policial visto mundo afora dia sim, outro também, acerca das megaempresas, dos megamilhares de propinas e dos supostamente poderosos políticos ainda não responsabilizados pela crise moral instalada. Todos reconhecem, entretanto − sociedade e formadores de opinião, dirigentes políticos e representantes dos mais variados segmentos −, a força das instituições, a começar pelos órgãos de investigação, que incluem, também, o Banco Central em seu papel fiscalizador, e a segurança da democracia para a travessia desse momento conturbado da vida brasileira. 

Ainda segundo o conselheiro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República,  as medidas de ajuste da economia brasileira pondem conduzir à“adoção dos postulados ortodoxos que readquiriram novos ímpetos na economia mundial depois da desregulamentação ­ financeira da segunda metade dos anos 80, com o retorno triunfante do laissez-faire, a independência do Banco Central sob alegação da incapacidade dos governos para conter a inflação e os déficits fiscais, e a consequente limitação nas atribuições clássicas do poder executivo. Resta a esperança de que, na busca de caminhos alternativos para a superação da crise da economia europeia, um novo ponto de equilíbrio venha a reduzir a usurpação de poderes por parte dos agora imbatíveis, e por vezes aparentemente sem rumo, super bancos centrais.” 

Entrando agosto, com as pautas já anunciadas – negociação salarial dos servidores, greves de categorias federais, continuidades das investigações, com novas delações já em curso, crise no setor privado etc. – ressalta-se, na mesma edição do JE, a análise do diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG: 

Reza a lenda que Dilma ligou a câmera do Hospital de Base de Brasília ao Palácio do Planalto. Brigou porque colocaram um balde no meio do corredor do hospital para segurar uma goteira. Não adiantará nada Dilma ­ ficar vigiando pelas câmeras o corredor do hospital e brigando contra o baldinho colocado no corredor. Dilma terá que ser líder de si mesma. E abrir o flanco e a guarda para pensar mais do que um projeto de poder. Ela terá que pensar um projeto de sociedade e chamá-la a vir junto. Reconstituir o tecido político significa fazer com que as instituições de nossa democracia sejam capazes de estabelecer objetivos claros e dirigidos ao futuro. Mas este, como sempre, a Deus pertence.” 

Em respeito ao mês, e para adentrá-lo com humor, o “baldinho” não nos remete, simbolicamente, ao Raio-X de Brasília? 

Esperamos, todos nós, que prevaleça, nas próximas semanas, sempre as mais difíceis na relação governo-entidades sindicais, o diálogo respeitoso e de valorização aos nossos bons serviços prestados à população e ao País. Quem sabe, o MPOG e a Administração reconheçam que o melhor investimento a fazer, no caso da autarquia, é em seu corpo funcional, com a admissão imediata dos concursados aprovados, para garantir a convivência, de novos e antigos funcionários e de reajustes salariais como estabelece a Carta Magna, cujas regras de negociação não foram regulamentadas em 13 anos de liderança de representantes de legendas ligadas à luta dos trabalhadores no Executivo e no Legislativo… 

O mundo não mais esquece: foi, principalmente, com a perda – ou falta, porque seguiram para outras áreas ou para o mercado – de bons profissionais e a desregulamentação financeira, que aquela crise, a de 2008, pegou até economias sólidas de surpresa.

 Bom agosto, Brasil!
 

*O oito deitado –  ∞ – (não tem começo nem fim), é o infinito.
Simboliza, ainda, a energia das pessoas.

Edições Anteriores
Matéria anteriorEdital
Matéria seguinte