AS BOAS INTENÇÕES DO DR. ARMINIO
Em recente publicação na sua coluna da Folha de S. Paulo de 29.9.2019, o ex-presidente do Banco Central do Brasil, Sr. Arminio Fraga, apresentou, no artigo intitulado “No final do arco-íris tem um pote de ouro”, uma proposta de intervenção macroeconômica para ajudar o combate das desigualdades do país, via aumento dos investimentos nas grandes áreas sociais.
Até aqui, tal proposição não mereceria o reparo de quem quer que fosse, até porque a obviedade desta lógica só escapa a monetaristas empedernidos que têm como único programa econômico viável matar o paciente para assim poder salvá-lo da doença.
O problema começa com a resposta dada pelo dr. Armínio para a “pergunta de 1 milhão de dólares”:
“De onde viriam os recursos para financiar os investimentos?” (Ou seja, o referido “pote de ouro”).
A resposta apresentada é tão simples quanto contraditória: da redução dos gastos com Previdência, Funcionalismo e Subsídios.
Que Subsídios são o “óleo lubrificante” de nossa economia, um sorvedouro extraordinário de recursos sem contrapartidas, responsável pelas enormes lacunas da nossa Previdência, também ninguém duvida. O problema ignorado pelo nosso ilustre “ex-colega” é que ele também se tornou o lubrificante da política nacional.
A ideia de que representantes eleitos, segundo as suas palavras, “a partir de um debate público, organizado em cima de dados e fatos apresentados de forma clara”, cortarão as veias dos financiadores da maior parte do sistema político nacional é ser, no mínimo, muito otimista.
Coeteris Paribus (todo o resto constante) é um termo muito utilizado em economia na construção e simulação de modelos econométricos, mas de serventia nula em política.
Neste campo quem dita as regras é Maquiavel.
Com honrosas exceções, os termos que povoam o imaginário destes representantes eleitos são coisas como caixa 2, fundo partidário, projetos de lei por encomenda etc., etc.
O que nos assusta é a singela brutalidade com que o autor trata os outros dois termos da sua equação: uma economia de cerca de 3 pontos percentuais do PIB ao ano com redução do Funcionalismo e outros 3 com Previdência ao longo de 10 anos.
Taí uma mentira marqueteira que vem deslumbrando os mesmos políticos citados acima: “A reforma vai tirar dos que ganham mais”. Trata-se da harmonização perfeita da estratégia maquiavélica de eliminação de Agentes Públicos qualificados, que dificultam negociatas políticas, e substituí-los por agentes, de preferência políticos, com menor remuneração e que podem até facilitá-la. Tudo isto sob o manto das insuspeitas virtudes “robinhoodianas” do Mercado: Estamos apenas tirando de privilegiados para entregar aos pobres.
Como era de se esperar, o autor da tese, um banqueiro brasileiro com larga experiência nacional e internacional, parece que nada vê de errado nos ganhos astronômicos dos agentes do Sistema Financeiro Nacional monopolizando o crédito pessoal em taxas estratosféricas e nem na perversa ausência no Brasil de tributação de grandes fortunas como a que se realiza na Europa.
Notemos bem, não se trata de combater excrescências como super-salários, fraudes, ou Funcionários-fantasmas, fato com o qual concordaríamos plenamente, mas a saída apresentada é simplesmente, pelo que podemos entender, “expropriar” salários e aposentadorias de Funcionários Públicos qualificados enquanto se constrói um substrato “paraguaio” barato para desempenhar as funções de Estado no nosso país.
Apesar da advertência do trabalho de que se deveria começar com os Subsídios e outras anomalias como a “pejotização” de nossa economia, sabemos perfeitamente que a lógica política que domina o Governo e o Congresso só irá mirar no que lhe interessa, ignorando solenemente todo o resto.
Portanto, a proposta do Sr. Arminio não é uma contribuição técnica isenta para melhorar o Brasil, é apenas um trabalho que espelha a ideologia dos seus pares banqueiros sobre aquilo que seria o Brasil dos seus sonhos. Este sonho passa por jogar nos demais segmentos a conta da crise econômica.
Para os que se interessam por história, uma curiosidade:
“Robin Hood”, assim como o “Rei Arthur”, não passam de mitos construídos para relembrar conflitos importantes na história medieval inglesa.
Escondidos em florestas, bandidos arqueiros eram bem mais perigosos que bandidos comuns, pois em grande número podiam enfrentar vantajosamente até mesmo cavaleiros nobres em armaduras. Tal fato criou a aura de bandidos que enfrentavam ricos e ajudavam os pobres.
A novidade do Sr. Arminio, quem diria, é tentar nos convencer de que há um banqueiro na floresta de Sherwood.