Edição 179 - 05.07.23

BCB TEM DOIS NOVOS DIRETORES

BCB tem dois novos diretores, que devem votar para baixar juros
na reunião do início de agosto do COPOM

O Senado Federal aprovou na tarde de ontem os nomes de Gabriel Galípolo, que até pouco tempo ocupava a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, para a diretoria de Política Monetária, e do servidor de carreira do Banco Ailton Aquino dos Santos, para a diretoria de Fiscalização.

Ailton dos Santos e Gabriel Galípolo
 Clique aqui para assistir à sabatina dos novos diretores do Banco. 

O COPOM e o ChatGPT

Em 30 de março o jornal “O Globo” publicou a declaração do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, de que “A decisão do Copom é super, totalmente técnica. […] A nossa decisão é super técnica. Tem uma equipe muito grande, setores diferentes olhando variáveis diferentes. Olhamos basicamente a inflação corrente, o hiato do produto e a expectativa à frente”.

Se levarmos a declaração de Roberto Campos ao pé da letra, poderemos até pensar em trocar o COPOM pelo ChatGPT, um chatbot com inteligência artificial (IA) generativa desenvolvido pela empresa norte-americana OpenAI e que responde perguntas de usuários com dados obtidos na internet.

A taxa sairia em 5 segundos…

Mas é claro que isto é uma brincadeira, ninguém pensaria seriamente nesta possibilidade.

É uma decisão importante demais para ser deixada para uma máquina.

A sensibilidade humana é fundamental para pesar as suas consequências.

A inflação corrente é um dado estatístico, esperado ansiosamente por qualquer economista.

O problema é que este é um dado que fala do passado, coisas que já aconteceram, uma informação técnica sem dúvida, mas de importância relativa na hora de se fazer um prognóstico de inflação futura.

O que está acontecendo hoje e que não foi registrado nestes números?

O hiato do produto seria a diferença entre o PIB real e o potencial da economia do país, não sendo um dado estritamente técnico, pois se produzem avaliações sobre as variáveis que expressariam o “equilíbrio” da economia.

Uma crucial é o nível de desemprego.

Analistas de mercado, principalmente, dizem que a taxa de equilíbrio seria em torno de 8,5%.

A pressão da demanda por produtos em uma economia que já se encontra perto da sua capacidade ideal certamente gerará uma pressão inflacionária, mas, se não for este o caso, continuamos com a incógnita de como os agentes econômicos reagirão ao aumento de custos e outros componentes que irão influenciar a sua formação de preços.

Chegamos, portanto, ao ponto mais sensível da equação delineada pelo presidente do BACEN: as expectativas do mercado.

O trabalho técnico realizado pelos servidores do Banco Central é a coleta destes dados na forma do Boletim Focus.

Ele é produzido pelo Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (GERIN) e divulgado pelo Banco Central.

É feito a partir de uma pesquisa diária de cerca de 140 instituições financeiras com as principais estatísticas do cenário econômico.

Nele encontramos a taxa de câmbio média, a meta da Taxa Selic, os índices de inflação como o IPCA e o IGP-M e a previsão do PIB, tanto para o mês corrente como suas projeções de médio e longo prazo.

As expectativas de longo prazo mais importantes são as dos índices de inflação e do PIB.

É sobre eles que os termos “ancoragem” e “desancoragem” das expectativas se referem.

É importante ressaltar que o COPOM não define a meta de inflação.

Essa é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O COPOM define a meta da taxa Selic ideal para que a inflação convirja para a meta de inflação.

Até aqui você ainda poderia pensar que o ChatGPT continuaria na disputa…

Ocorre que ao contrário do que possa parecer, este referido mercado não se refere aos agentes econômicos que produzem o PIB do país, e fixam os preços de seus produtos e serviços, mas somente aos agentes que operam a intermediação financeira, ou seja, que lucram com a compra dos títulos do governo e os cotizam em uma infinidade de fundos de investimentos espalhados pelas instituições financeiras.

Em suma, eles “analisam” por quanto o governo deveria lhes vender os seus títulos.

Assim, quem define a meta da taxa Selic ideal para que a inflação convirja para as metas de inflação é o COPOM, mas quem faz as previsões da inflação futura são as instituições financeiras que comprarão os títulos públicos.

Portanto, o que o presidente do BCB chama de uma decisão super técnica é a conciliação dos interesses do mercado financeiro com as expectativas do COPOM do que seria uma inflação ideal.

O resultado é que, no Brasil de hoje, estes “videntes” do mercado estão levando valores que podem ser superiores a 10% de rendimento líquido com as suas operações com o BACEN.

Ou seja, a sociedade brasileira, que paga a conta, é submetida a um tratamento semelhante ao dado por aquele médico que diz que vai curar o paciente da doença nem que tenha de matá-lo para isto.

Aqui o ChatGPT tem que jogar a toalha: previsões de mercado só funcionam quando os agentes não são parte interessada.

Se os agentes financeiros jogam suas previsões para cima porque acreditam que o governo vai viver um descontrole fiscal, o que eles estão fazendo é política, e ganhando em cima disto.

São as expectativas do mercado financeiro que irão decidir, e não os servidores do Banco Central.

Assim sendo, a vida de milhões de brasileiros é afetada pelas apostas do mercado financeiro, que hoje influenciam fortemente a definição da taxa de juros no Brasil.

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