O editorial “Aumentar salário de servidores é incoerente”, publicado ontem no “O Globo”, só vê parte do grande paquiderme que é o “descalabro fiscal”. É como um cego que ao apalpar somente a tromba, descreve o elefante como uma cobra. O editorial esqueceu-se de dizer que o fosso fiscal do governo deve-se sobretudo a dois fatores: aos descaminhos do dinheiro público, como a endêmica corrupção, a má gestão dos governos, a suspeita política de desoneração fiscal, e à dívida pública. Os servidores públicos não podem ser penalizados mais do que já são pelos governantes de plantão. Os reajustes concedidos não chegam à metade da inflação do período. Congelar os salários seria uma afronta, pois o funcionário público, assim como os trabalhadores da iniciativa privada, precisa se proteger das constantes altas do custo de vida. Incoerência, sim, é jogar tudo das costas do funcionalismo e ao mesmo tempo exigir qualidade na prestação de serviço público.

Enviada a O Globo, assina o presidente do Sinal e secretário-geral do Fonacate, Daro Piffer.