Edição 074 - 18/11/2020

ESTAMOS EM GUERRA, VOCÊ NÃO NOTOU?

 

A lenda atribuiu a Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, a famosa frase: “uma mentira contada mil vezes acaba se tornando verdade”.

Não deixa de ser uma injustiça atribuir a ele um dispositivo tão primário de persuasão baseado na pura repetição de slogans.

A repetição obsessiva era apenas uma das várias ferramentas para a implantação de um projeto muito mais insidioso.

Existiam outros requisitos, sendo o primeiro deles o combate sem quartel contra qualquer tipo de contraditório.

Não à toa, um dos primeiros atos da Alemanha nazista foi a simbólica queima de livros (Bücherverbrennung).

Outras maneiras de ver o mundo não podiam ser toleradas.

Mas isto ainda não era suficiente, havia a necessidade de se instalar uma visão conspiratória de mundo.

Tudo o que contestava as atitudes do novo governo só poderiam vir de uma “conspiração judaico-bolchevique mundial”.

Delimitados o campo de batalha e os inimigos estava liberado o uso da violência verbal e logo física contra eles.

Instilava-se o sentimento de Cruzada: “Gott mit uns” (“Deus conosco”).

Ocorre que mesmo chegando a este ponto, o sucesso da conversão não estaria assegurado até que o receptor começasse a acreditar piamente que aquela ideia não veio de qualquer lugar externo, e sim das suas próprias convicções pessoais.

Só aí se poderia dizer que o ciclo do fanatismo estaria completo.

A bolha mental se fechava.

Aos demais, aqueles que não fecharam o ciclo, bastava que ficassem calados, para a sua própria proteção.

Isto é passado?

Não, infelizmente isto é o nosso presente.

Hoje não precisa se queimar livros, se bloqueia ou se cancela na rede social.

A conspiração mundial viria da China e todos os que não acreditam nisto são suas marionetes.

O gabinete do ódio pinta a conspiração em qualquer órgão de comunicação que conteste as medidas do atual governo.

A sua função é gerar um clima de desconfiança em relação à mídia; criar a desinformação.

As restrições no fluxo de dados oficiais, com o objetivo de controlar o debate público, e a própria politização de órgãos oficiais de comunicação complementam a estratégia.

A pandemia matou 150 mil! …cloroquina!

A economia não decola! …a culpa é dos Servidores Públicos!

As políticas sociais se esfacelaram! …o que importa?

“Gott mit uns”!

Realidade não é problema…. Se o paciente está com febre, a culpa é do termômetro.

Exagero?

O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF), em pesquisa inédita sobre a expansão das organizações criminosas no Rio de janeiro, identificou que milícias já dominam um quarto dos bairros da cidade, com quase 60% do seu território.

Ou seja, cada dia que passa mais cidadãos perdem o direito de locomoção, de escolha e principalmente de expressão.

As eleições municipais se aproximam e o Congresso Nacional hiberna até que as cuecas se encham para gastos de campanha e “otras cositas” mais.

Foi um ano pródigo, hospitais de campanha de brinquedo, máscaras e todo tipo de produtos médicos superfaturados garantiram uma safra cheia de “recheios” de cueca.

Quando as eleições passarem, as reformas que estão no Congresso, como a administrativa, voltam a ser analisadas, remotamente, descansadamente e com carta branca para o “Centrão”.

Não haveria problema algum em discutir uma reforma administrativa em um ambiente democrático.

Outra coisa bem diferente é estar num ambiente de guerra como este, em que o governo e as mídias corporativas proclamam que nós, os Servidores Públicos, somo inimigos da nação (“parasitas”).

Se não houver reação para furarmos a ”bolha” do fanatismo e da desinformação, seremos arrastados por este discurso de ódio que busca apenas legitimar interesses pusilânimes que veem na destruição do Serviço Público uma excelente oportunidade política e comercial de se perpetuar no poder.

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