Edição 46 – 17/4/2014

O nosso jardim


Todos acompanharam na imprensa os recentes eventos de estranhas decisões das direções do Ipea e do IBGE, que mais não foram tentativas de esconder a verdade e desacreditar o competente trabalho de seus pesquisadores.

No caso mais antigo, um “erro” metodológico fez expor, sobre amostra que pouco tinha a ver com a população brasileira, uma selvageria para com as mulheres que se mostrava, ainda que importante, uma exceção no nosso comportamento. Lá, foi um diretor que entregou o cargo, mas suspeita-se que algo “mais acima” estivesse envolvido. O segundo caso, de comando mais explícito, culminou com a saída de dois diretores e a disponibilização de cargos de outros dezoito gerentes graduados: a suspensão da PNAD Contínua para o ano que vem, mantendo o país com informações colhidas sobre velha metodologia.

Nosso registro vem do respeito à competência dos pesquisadores econômicos e estatísticos e dos cuidados que precisamos ter com as nossas próprias funções de Estado, bem ao estilo da sábia e reconhecida lição atribuída a Maiakovski:

Primeiro, eles vêm à noite, com passo furtivo

arrancam uma flor

e não dizemos nada.

No dia seguinte, já não tomam precauções:

entram no nosso jardim,

pisam nossas flores,

matam nosso cão

e não dizemos nada.

Até que um dia o mais débil dentre eles

entra sozinho em nossa casa,

rouba nossa luz,

arranca a voz de nossa garganta

e já não podemos dizer nada.

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