Edição 028 - 16/04/2020

PEC 10/2020: O BACEN E A PROVA DOS 9!

Em 2008, a crise econômico-financeira nos EUA, que logo se tornou global, pode ter sido provocada por aquilo que Alan Greenspan, do FED, denominou como “exuberância irracional” (sinônimo de uma farra sem sentido).

Na ocasião, há mais de uma década, toda uma série de instrumentos financeiros derivativos e de securitização criados por grandes Bancos de Investimentos e Corretoras de Wall Street, como a Lehman&Brothers, se espalharam pela economia mundial.

O objetivo inicial foi o de utilizar o insípido mercado de hipotecas norte-americanas em lastro para diversas aplicações financeiras.

O uso intensivo de matemática de ponta e imaginação para a criação de produtos bancários transformou esses instrumentos financeiros em um mercado dentro do mercado.

O seu crescimento exponencial só não foi mais espantoso do que a capacidade de Wall Street em impedir que qualquer regulação séria fosse feita por parte de qualquer órgão regulador.

Na verdade, o clube hermético de especialistas destas instituições juravam de pés juntos que não havia qualquer motivo para intromissão.

Pelo contrário, afirmavam que a sofisticação dos novos produtos era tal que qualquer interferência regulatória limitaria o seu desenvolvimento e restringiria este novo mercado que tanto sucesso fazia.

A segurança era indiscutível, diziam, e autenticada por renomadas Agências de Classificação de Risco, outra coqueluche da economia mundial, e pelas Seguradoras.

Era uma festa cada vez maior.

Os bônus dos executivos de finanças destas corporações eram estratosféricos, repercutindo assim os altos lucros dos balanços.

A indústria de derivativos financeiros fervilhava de ideias para produtos novos e mais complexos.

Ninguém quer acabar com uma festa na economia.

Políticos querem que a economia gire, deixando assim seus eleitores satisfeitos e sua reeleição garantida.

Autoridades monetárias, como Greenspan, consideravam que não havia nada que o mercado não resolvesse se fosse preciso, e ao FED bastava apenas cuidar das taxas de juros.

Robert Rubin, o secretário do Tesouro de 1995 a 1999, que trabalhou durante 26 anos na firma Goldman Sachs, outra gigante do mercado, também considerava que a sua função era simplesmente manter a orquestra tocando enquanto os seus colegas de mercado faziam a festa.

Grandes festas em que ninguém controla nada inevitavelmente acabam em excessos e não raro com viciados cheirando cocaína no banheiro.

Em 2008, os viciados em lucros fáceis de Wall Street já estavam cheirando no meio do salão, por assim dizer, a enorme demanda mundial dos anos anteriores por títulos que pudessem ser encarteirados e dar lastro para milhares de investidores, já tinham provocado o afrouxamento cada vez mais abusivo de todos os critérios para concessão de hipotecas na ponta captadora.

Os contratos realizados, desta forma, não valiam o papel em que foram assinados, o que não impedia, depois de passar pela parafernália dos derivativos, de serem vendidas como excelentes garantias para os investidores.

Na verdade eram papéis tóxicos e inundaram a economia mundial em baixo do nariz de todos os principais Bancos Centrais do mundo.

O que ocorreu depois é história.

O FED teve que literalmente gastar bilhões e mais bilhões de dólares para injetar recursos em instituições financeiras americanas para que não quebrassem e levassem toda a economia ao pânico.

O FED, com instrumentos semelhantes aos preconizados pela PEC10/2020 para o BCB, realizou a maior operação da história da compra de ativos por um Banco Central.

Operação essa que esteve na casa de trilhões de dólares!

As sequelas na economia norte-americana se mantêm até hoje, quando os salários ainda não se recuperaram em termos de participação na renda nacional devido à tendência de aumento da desigualdade de renda.

Para os trabalhadores, tão duro quanto perder empregos e não raro as suas casas (pelos dados, ao menos cinco milhões de norte-americanos perderam suas casas), foi assistir os mesmos executivos, que fizeram a festa no período, irem para casa com seus polpudos bônus no bolso.

Os acionistas das instituições tiveram perdas ou as viram quebrar, mas com seus patrimônios pessoais também sobreviveram para especular em outro dia.

Os grandes prejuízos ficaram para os contribuintes norte-americanos.

No Brasil de 2019, a Reforma da Previdência e a vertical queda da taxa de juros fizeram os executivos de nossas instituições financeiras apostarem todas as suas fichas no sentido de que o crédito privado e as debêntures, em particular, substituiriam, com grande vantagem no spread, os papéis públicos como fonte de produtos bancários da nossa sofisticadíssima indústria de fundos.

Finalmente o Brasil estava dando o grande passo para se transformar em uma genuína economia de mercado ao estilo norte-americano.

Quem não se lembra da grande campanha publicitária na qual um apresentador de televisão famoso nos dizia que os brasileiros iriam descobrir um modo de investir diferente…

A pandemia do COVID-2019 fez desabar o sonho.

Aquilo que seria o futuro da economia pode se transformar, em alguns meses, em papéis tóxicos como na crise de 2008.

Qual o valor de um título lastreado em recebíveis futuros de uma empresa hoje?

Simplesmente, não há resposta.

Só apostas.

A PEC 10/2020, ou seja, o “Orçamento de guerra” previsto para dar liquidez ao mercado pela compra de ativos, põe uma responsabilidade pesadíssima sobre a nossa Autarquia, que, assim como em 2008 nos EUA, atrairá fortes interesses corporativos para transformar estas compras em salvação de seus próprios patrimônios, agora abarrotados de créditos, no momento para lá de duvidosos.

Exatamente por este motivo, as contrapartidas das instituições financeiras que buscarem o Bacen devem ser compatíveis com os riscos que assumiram.

Este será um teste definitivo da credibilidade da nossa Autarquia junto à sociedade para pleitear a nossa independência.

Temos plena confiança no trabalho técnico dos colegas, mas é imprescindível que não se permita que interesses escusos se apresentem sob a roupagem de risco sistêmico, quando o que buscam é simplesmente repassar aos trabalhadores e contribuintes os prejuízos de suas apostas.

Esta conta não é nossa e nem dos demais trabalhadores!

CAMPANHA SINAL-RJ DE COMBATE AO CORONAVÍRUS

FIQUE EM CASA!

Conversa com Miguel Nicolelis
A crise é muito mais séria do que qualquer um pode imaginar.


*video Youtube

POR QUE LAMENTAS?

Por que lamentas estar isolado dentro de casa? Já pensaste naqueles que nem casa têm e são obrigados a conviver com o risco iminente da infecção? Ou será que o teu coração é um cômodo entupido de ego, sem lugar para mais ninguém?

Por que lamentas se, agora, vives em uma prisão de luxo, com liberdade para estabelecer teus horários e escolher a comida que te agrada? Pensa naqueles que enfrentam longas filas para receber uma quentinha da caridade alheia.

Por que lamentas ao se ver obrigado a cancelar a festa de aniversário ou casamento, e arcar com o prejuízo que não será ressarcido? O que preferirias, a festa com o coronavírus invisível circulando entre teus convidados ou preservar a tua e outras vidas para festas vindouras?

Por que lamentas não poder, agora, fazer a viagem sonhada e programada, e se ver forçado a ficar recolhido em teu espaço doméstico? Ou seria melhor uma passagem sem volta para a morte?

Por que lamentas não poder sair à rua, encontrar amigos e voltar a tua rotina de trabalho e lazer? Ainda podes conversar por telefone, talvez trabalhar desde casa e improvisar teus métodos de ginástica.

Por que lamentas ser idoso e figurar entre os mais vulneráveis? Alguma vez te passou pela cabeça que o melhor da velhice é não haver morrido jovem? Já que chegastes a esta idade, cuida de preservar a tua vida por mais alguns anos e, quem sabe, décadas.

Por que lamentas ser obrigado a fechar teu comércio, teu escritório, ameaçado de ter tua renda reduzida? Já imaginastes se não fossem tomadas medidas restritivas e a pandemia se multiplicasse a ponto de atingir a ti e a teus entes queridos?

Por que lamentas o que te soa como perda ou privação? Nunca pensastes nas pessoas em situação de guerra, nos refugiados, nos que não têm acesso a nenhum sistema de saúde? Não contabilizes as tuas perdas, contabiliza os teus ganhos, como estar vivo, gozar de boa saúde e desfrutar do convívio com tua família.

Por que lamentas não suportar a solidão que te obriga a um encontro mais íntimo contigo mesmo? Não é hora de dar um balanço na própria vida, reavaliar os valores abraçados e reconsiderar convicções arraigadas? Não é este o momento de reinventar-te?

Não lamentes! Tens um teto, o alimento garantido e boa saúde. És um privilegiado. Lamenta, sim, por aqueles que nada disso possuem. Não por escolha, e sim por serem vítimas de um sistema econômico seletivo e excludente, no qual os interesses do capital privado pairam acima dos direitos coletivos.

Não te afogues em teu lamento. Extraia dele forças para mudar o que consideras injusto. E cuida-te! Não te julgues imortal. O teu e o meu dia  chegarão. Mas não apressemos os desígnios de Deus. Na vida nada tem maior valor do que a própria vida.

Guarda teu pessimismo para dias melhores. E repete a “Prece” de Fernando Pessoa: “Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim.”

Frei Betto

Frei Betto é escritor, autor de “O diabo na corte – leitura crítica do Brasil atual” (Cortez), entre outros livros.
Fonte:https://www.freibetto.org/index.php/artigos/14-artigos/177-por-que-lamentas


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