Edição 322 - 19.09.2024

POR QUE A BANCA SEMPRE GANHA?

“A única função das previsões econômicas é fazer a astrologia
parecer respeitável”.  (John Kenneth Galbraith).
John Kenneth Galbraith foi um dos mais importantes economistas e pensadores econômicos do Século XX.
Professor emérito de economia da Universidade de Harvard, aliou a teoria à prática, em funções executivas nos diferentes governos democratas dos EUA.
É dos autores mais editados e lidos na história da economia.
O fundamento da sua vasta obra é tratar o processo econômico como um aspecto da sociedade e da cultura e não simplesmente uma disciplina de números.
Crítico mordaz, dizia: Muitos economistas são econômicos, entre outras coisas, de idéias; a maioria fez os de seus tempos de universidade durarem uma vida inteira.
Relativizava o rigor matemático e econométrico na análise da sociedade norte-americana, demonstrando que as grandes corporações manipulam o mercado a seu favor.
A lembrança deste brilhante economista veio à tona com a notícia de que o mercado prevê a necessidade das taxas de juros subirem inacreditáveis um ponto percentual até o final do ano.
Conforme o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou 0,02% em agosto.
Foi o primeiro resultado negativo em quase dois anos e ficou abaixo das estimativas tanto do mercado (alta de 0,01%, segundo o Valor Data) quanto do BC (alta de 0,07%, segundo a edição mais recente do Relatório de Inflação).
Mais importante, no acumulado de 12 meses o indicador recuou de 4,5%, exatamente o intervalo superior da meta a ser perseguida, para 4,24%, entre agosto e setembro.
Após a divulgação dos resultados, as taxas de juros futuros caíram, com operadores prevendo menor possibilidade de alta de 0,5 ponto percentual e maior de aumento de 0,25 ponto da SELIC na semana que vem.
Ou seja, os próprios operadores tiveram que engolir o que previram inicialmente, diante da realidade.
É importante ressaltar que, como bem nos lembra Galbraith, o mercado vive de manipular previsões conforme os seus interesses.
Não é que não existam dados e montanhas de análises continuamente sendo produzidos; existem, mas o importante é que as conclusões têm um viés.
Como a dívida pública federal é refém deste “joguinho”, com as operações compromissadas rolando sempre em curtíssimo prazo, é um jogo muito lucrativo fazer previsões pessimistas de juros futuros e depois dizer ao Banco Central: tá vendo! Para você perseguir a meta futura, você obrigatoriamente tem que elevar as taxas de juros para este novo patamar.
Tudo dentro de um “verniz” acadêmico e técnico como a de certos “cientistas” que fazem experiências “científicas”, mas que antes descartam as amostras de que não “gostam”, pois podem atrapalhar as “conclusões” do seu experimento.
No questionário pré-COPOM divulgado na semana passada, o colegiado perguntou para os economistas do setor privado quais as projeções deles para o hiato do produto (medida de ociosidade da economia).
O assim chamado “hiato” é simplesmente a diferença entre o PIB atual e o PIB potencial (economia trabalhando no limite máximo possível).
Só que para calcular o PIB potencial, é preciso estimar a taxa de desemprego natural (ou neutra) e o nível de ocupação do estoque de capital, que, da mesma forma, não crie pressões inflacionárias ou deflacionárias, nem interfira com o equilíbrio externo.
Ambos os indicadores são igualmente não observáveis, ou seja, o IBGE não tem como produzir esta informação.
Cada um que que faça a sua receita de “caldeirão”, coloque os ingredientes (medidas indiretas) que considere mais influentes e “mexa”.
O que não os impede de brincar de cientistas.
Nos cálculos do Bradesco, “os núcleos [de inflação] estão rodando próximos de 4,5% na variação de três meses anualizada”, patamar aproximadamente “um ponto percentual maior do que o verificado no segundo trimestre do ano”.
Há ainda as incertezas sobre os impactos que a seca terá sobre preços como os de alimentos no Brasil e “voilà”…
A projeção mediana do mercado para a SELIC, segundo o Boletim Focus, passou de 10,5% para 11,25% no fim deste ano e de 10% para 10,25% no fim do ano que vem.
O fato de o Federal Reserve – o Banco Central dos EUA – se reunir para dar início a um ciclo de cortes da sua taxa de referência, que está há pouco mais de um ano entre 5,25% e 5,5% – o maior patamar em mais de duas décadas -, não interessa.
O fato de que pela primeira vez em mais de um ano a inflação brasileira registrou uma variação mensal negativa em agosto, ajudada pela queda dos preços de energia elétrica e de alimentos, também não interessa.
O fato de que os dados mostraram descompressão em medidas de núcleo e em aberturas ligadas ao setor de serviços, importantes preditores da inflação futura, muito menos.
Nas palavras de Alexandre Lohmann (economista-chefe da Constância Investimentos), “Há esse receio de reaceleração dos núcleos, mas isso não vem sendo observado.”
Ou seja, o cassino está aberto e nele a banca sempre ganha e a sociedade perde.

PEC-65: RUIM PARA O SERVIDOR DO BC, PIOR PARA O BRASIL!

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