Edição 044 - 08/10/2014

Porque alguns são mais iguais do que outros

 

“Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”

George Orwell, em “A Revolução dos Bichos”

 

Recentemente, o Banco Central divulgou a V Semana de Cultura Organizacional. Nos comunicados de divulgação daquele evento, destacava-se a importância do reconhecimento do trabalho do servidor desta casa. O Sinal tem como bandeira a defesa dos interesses dos seus filiados e da categoria como um todo e concorda com essa vontade por parte da administração central desta instituição em valorizar o nosso trabalho.

Ainda mais recentemente, a ADRJA comunicou aos servidores no Rio de Janeiro que encaminhou ao 3º Tribunal do Júri uma lista de servidores que estariam à disposição para o Serviço do Júri no ano de 2015. Trata-se de uma resposta da representação regional do BC ao Ofício GAB/SNº/2014, de 11 de setembro de 2014 que requisitava servidores com exercício funcional no Rio de Janeiro.

O Sinal/RJ entende que é importante a participação de todo cidadão na vida política e institucional da nossa sociedade. Podemos dizer que se trata de um dever cívico esse tipo de atuação, em especial em se tratando de servidor público. Compreendemos também a necessidade de composição de quadros de jurados por parte do Poder Judiciário, daí a demanda por parte do 3º Tribunal do Júri. O que não conseguimos aceitar é o critério adotado pela administração do BC na seleção dos que seriam indicados nessa listagem.

Ao mesmo tempo em que a Direção do BC diz valorizar o trabalho realizado por seu qualificado quadro de servidores, promovendo até uma semana com esse fim, ela permite que alguns servidores sejam desconsiderados na indicação da citada lista com base apenas em critério de possuir uma comissão. A justificativa de que esta autarquia arcaria com custos maiores com a dispensa de servidores comissionados acaba criando uma divisão estranha dentro do BC: os que são indispensáveis, os comissionados, e os que são dispensáveis, os não comissionados.

O termo “dispensável” pode parecer forte, mas ao indicar 380 servidores, ao invés de 502, a Direção desconsidera o principal: a participação em uma convocação por parte de um dos poderes da República deveria ser para todos os servidores aptos residentes e que trabalham nesta cidade do Rio de Janeiro, pois todos são igualmente cidadãos. 

O trabalho realizado por um servidor não comissionado pode ser dispensado ao menos por um mês e o do comissionado não? A qualificação do nosso quadro técnico permite a substituição adequada de quem é responsável por tarefas de maior responsabilidade. Ao restringir essa seleção, indica-se que o trabalho de alguns é mais importante e necessário do que o de outros.

É preciso ter muito cuidado na tomada desse tipo de decisão. George Orwell, em “A Revolução dos Bichos”, uma paródia da revolução russa de 1917 do período stalinista, mostra como a busca da igualdade pode ser desvirtuada quando os participantes se afastam de princípios básicos. Na declaração dos mandamentos da fazenda, recém tomada pelos bichos, a sétima dizia que todos os animais são iguais. Conforme a revolução caminhava e se desviava de seus princípios mais básicos, esses mudavam, até que o último se transformou em: “Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.”

 

Juntos somos fortes!

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