Edição 1 - 05/01/2005

Que tal burocratizar o BC?

Você vai concordar com o editor cujo texto transcrevemos abaixo.
E vai ver, em seguida, o e-mail do SINAL para a Folha de São Paulo, a propósito de seu artigo.

Que tal burocratizar o BC?

 

Vinicius Mota – Folha de São Paulo – 29/12/2004

pobreza das institui-ções que comandam a macroeconomia brasileira é de arrepiar. Primeiro vem o presidente da República e diz a um grupo de senadores que a alta dos juros acabou. A seguir, melindrados, os inocentes da diretoria do Banco Central tascam meio ponto na taxa básica, produzem mais uma ata para dizer que quem manda nos juros são eles mesmos e avisam a minoria endinheirada que o índice que faz engordar o seu patrimônio vai ficar ainda mais alto em janeiro. A discussão se reduz àquela conhecida disputa de meninos sobre quem tem mais centimetragem, Lula ou os inocentes.

Ato contínuo, volta a ladainha da autonomia do BC. Dizem que o banco autônomo baixaria os juros mais rapidamente porque assim, argumentam os defensores da idéia, os inocentes não precisariam a todo momento aumentar os juros ou deixar de baixá-los para reafirmar no grito a sua independência da pressão política.

Então, se protegermos os inocentes da demissão – pois é somente isso o que, na prática, quer a maioria dos que defendem a autonomia do BC -, os juros cairão?

Confundem-se meios e fins. O problema não é se os juros baixam ou não. O problema é se o BC, com essa mudança, se tornaria uma instituição que responde com mais competência ao interesse público na administração da moeda e do câmbio e na regulação do sistema financeiro. A autonomia proposta não vai ao cerne dessa inquietação.

Por que não problematizar o próprio perfil do colegiado de diretores do banco? Por que as diretorias-chave do BC têm sido em regra entregues, há mais de uma década, ao mesmo grupo de economistas, alienígenas ao corpo de funcionários do BC e/ou de outras instâncias financeiras da burocracia governamental, como o Tesouro? Desde então está estabelecido que diretorias como a de Fiscalização, a de Administração e a de Normas podem ser preenchidas por gente que vem de dentro do serviço público. Mas não a de Política Monetária, a de Política Econômica, a de Assuntos Internacionais e a de Estudos Especiais.

Nestas últimas, a média de idade dos diretores-transeuntes, pois estão aí de passagem para vôos mais altos no mercado financeiro, está perto dos 40 anos. Nas primeiras, passa de 50. O time dos transeuntes, o que manda de fato nos juros, tem experiência anterior no ser-viço público tendendo a zero, à diferença dos seus outros colegas de Copom. Tem de ser assim? Basta olhar o perfil dos diretores do Fed, o BC dos EUA, para notar que lá prevalece o padrão do profissional experiente (mais de 55 anos de idade, em média) e com muitos anos de serviço público.

Os nossos burocratas não têm competência técnica? Seja por essa razão ou por outra, a reforma ideal do BC deveria criar um sistema de atração dos melhores economistas, de envio de gente para os melhores doutorados e pós-doutorados no Brasil e no exterior; um padrão de cargos e salários competitivo com a iniciativa privada; e mecanismos que inibam fortemente o abandono do posto, principalmente para trabalhar do outro lado do balcão. E precisa dar ao jovem recém-formado que ingressa na instituição a perspectiva de que, se permanecer no BC e trabalhar bem pelos próximos 30 anos, terá chance real de ocupar uma vaga de prestígio no seleto grupo que define, de fato, a política monetária brasileira.

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