Edição 101 - 29/09/2005

A resposta está dada

Seja qual for o resultado final da greve, a decisão das assembléias já deu seu recado: o funcionalismo do BC não se vende.

Contrariando seus interesses individuais, mas tendo no pensamento o coletivo, a maioria do funcionalismo do Banco Central disse NÃO à intransigência do governo.

Imaginavam, talvez, seus representantes, que sua irredutibilidade iria demover os servidores de insistir no movimento.

Em vão. Assembléias em todo o país firmaram pé na decisão de continuar a greve. Em Brasília, 23 inscritos fizeram ressoar para mais de setecentos funcionários uma indignação há muito tempo entalada na garganta do corpo funcional.

Este é um movimento para ficar marcado na trajetória da Casa. A maioria do funcionalismo demonstra seu compromisso com a missão do BC como engrenagem fundamental na condução dos rumos do país.

Seu corpo diretor, de um modo geral, passa ao largo das questões funcionais, como se o Banco fosse só índices de mercado e taxas de juro. Na verdade, para muitos componentes da Direção, o BC tem sido um mero estágio (mas necessário e honroso) para cargos futuros mais rendosos.

O funcionalismo, para esses dirigentes, é somente área-meio: cumpre seu dever, mas não é assunto nobre. Já vem de longe, portanto, os servidores se sentirem à deriva em uma negociação salarial com o governo.

A Direção Colegiada não defende, como seria natural, os interesses do funcionalismo, que, por óbvio, são os interesses da Instituição. Os funcionários, querem-nos com níveis de excelência; à paga respectiva, não dão a conseqüente importância.
Daí o funcionalismo ter finalmente chegado à conclusão – como vem sendo demonstrado pela greve forte e indignada – que não se trata agora de lutar por dinheiro, venha ele de salário ou de adicionais. Trata-se da defesa da honra e da dignidade da Instituição. Trata-se de defender o orgulho de ser Banco Central.

A despeito de se constituir hoje num dos focos dos olhares de toda a Nação, em face de sua importância para a política econômica, a desvalorização paulatina do BC se dá de maneira subliminar, enquanto o discurso institucional prega uma valorização do funcionalismo que, na prática, está longe de existir.

Há quarenta anos os funcionários do Banco Central carregam o piano, imbuídos de seus deveres, submetidos a políticas de diretorias que vêm, vão embora e não se comprometem com a alma da Casa, nem dão ouvidos à engrenagem funcional que a movimenta.

As assembléias, anteontem, deram a resposta ao descaso histórico da Direção: o funcionalismo do BC está certo do seu valor, conhece a importância do papel do Banco Central, e sabe que só com o foco no coletivo poderá reverter o amesquinhamento a que vem sendo submetido.

Muitos nesta Casa vêm dos tempos em que era honroso ser funcionário do BC. Esta é a hora de renovarmos, juntos, nosso propósito de valorização do Banco Central, para estender a todos o orgulho de pertencer ao seu quadro funcional.

A resposta ao governo, portanto, está dada: não nos venderemos.
 

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