Presidente do SINAL: entrevista à Rionet
Atendendo a solicitações, transcrevemos a seguir a entrevista de David Falcão, Presidente do SINAL, à Rionet, divulgada em 12.12.05 naquela rede:
Qual a relação do Sinal com os outros sindicatos – Sindsep e SintBacen?
É uma relação difícil. A política do Sinal é de atuarmos em conjunto sempre que necessário para a defesa dos interesses da categoria, como na greve recém-encerrada. Nesse sentido, a atuação na Mesa foi harmônica, o comportamento público nas assembléias também, mas nos bastidores foi muito difícil a construção unificada do movimento.
a prática, nossa relação acaba sendo pontual, pois há muitas diferenças conceituais a nos separar. A convergência dos três sindicatos em uma única entidade é um objetivo importante para o fortalecimento da luta da categoria, mas dependerá de muita negociação e de transparência, onde o discurso tem que corresponder à prática.
Veja, o SINAL vem sendo cobrado para esse entendimento em comunicados que o Sindsep vem divulgando. O que não se publica lá é que desde 17 de agosto convidamos formalmente aquele sindicato para tratarmos das pendências entre as nossas entidades e nunca recebemos resposta.
Cheguei a ser vaiado por uma claque, na porta do Banco, depois que um colega nos acusou de estar prejudicando a ação do IR-Centrus do Sindsep. Assumimos, na ocasião, o compromisso de retirar o nosso advogado da lide, o que foi cumprido e comunicado àquele sindicato.
O que de fato está por trás da questão – e nunca foi dito – é que o processo do Sindsep foi mal instruído (o pedido mencionou o período errado) e se buscou um bode expiatório para justificar o fiasco daquela empreitada judicial.
Acreditamos que somente uma entidade 100% focada nos problemas do funcionalismo do BC, apartidária e independente como o SINAL, pode defender adequadamente os interesses da categoria.
Quais as lições tiradas da última campanha salarial, a mais longa de toda a história do BC? Dizem que essa greve serviu também para unir os servidores: você concorda?
A maior lição é a seguinte: somente com união podemos atingir nossos objetivos, independentemente de fatores externos. A greve deste ano mostrou que, a despeito das enormes dificuldades, o governo teve que se curvar ante a força do nosso movimento.
A greve fez mais do que unir os servidores: devolveu-lhes a confiança e a auto-estima arranhadas por anos de desprestígio. A partir de agora, a categoria não mais aceitará passivamente a repetição das perdas passadas.
O SINAL é contra ou a favor de um Banco Central autônomo? Por quê?
Consideramos que a manutenção do poder de compra da moeda é uma conquista da cidadania e não de governos. Sendo assim, acreditamos que a autonomia legal permitirá ao BC atingir os objetivos definidos pela sociedade de modo mais eficiente, sem ingerências político-partidárias.
O mesmo se aplica à fiscalização das instituições financeiras. Ademais, a autonomia criaria condições mais favoráveis para enfrentarmos a enorme restrição orçamentária a que somos submetidos, problema recorrente nos últimos anos.
Esse é um dos pontos que nos distancia do Sindsep e da CUT: eles são radicalmente contra a autonomia do Banco Central.
Em que melhoraria a economia nacional com um BC autônomo?
Somos favoráveis à autonomia do Banco Central com controle social, via ampliação do CMN, e com a seguinte missão: garantir a estabilidade da moeda com desenvolvimento econômico e social, a solidez do sistema financeiro brasileiro e a proteção da economia popular.
A economia nacional ganharia, na medida em que a) poderíamos conciliar o controle da inflação com metas sociais, b) o BC teria liberdade para escolher os instrumentos mais adequados para controlar a inflação, sem descuidar do crescimento econômico e do desemprego e c) a defesa efetiva do consumidor de serviços bancários coibiria muitos abusos das instituições financeiras. Infelizmente tal prerrogativa foi abandonada pela atual diretoria do BC, haja vista o caos em que se transformou o atendimento ao público.
O que mudou entre o Sinal, os filiados e os outros dois sindicatos (Sintbacen e Sindsep) após esse último período de greve? Como estão as relações entre filiados e sindicatos?
Houve um visível fortalecimento entre o SINAL e seus filiados. Só nas duas últimas semanas contabilizamos aproximadamente setenta filiações em todo o Brasil, além de diversas manifestações de apoio e de intenção de sindicalização. E registramos, gratificados, a recuperação da autoestima e do orgulho de colegas em pertencer ao SINAL.
Quanto aos outros sindicatos, pode-se dizer que a greve não produziu mudanças significativas no relacionamento. O Sintbacen, em geral, tem uma relação de proximidade bastante íntima com o Sindsep. Quanto a nós, atuamos pontualmente, como já havia dito.
Já o Sindsep ainda não desistiu da idéia surrealista de destruir o SINAL, ainda que publicamente pregue a tal unidade. Muitos funcionários do BC talvez não se lembrem, e outros nem saibam, que o Sindsep tem ajuizada contra o SINAL uma ação que visa cassar o direito do Sindicato de representar os servidores do BC. Ação essa de que, apesar de haver perdido em todas as instâncias por que passou desde 1999, o Sindsep não abdica.
Isso ocorre apesar de ser do conhecimento de todos que a maioria do funcionalismo já formalizou sua opção pelo sindicato próprio. E queremos crer, pelas mensagens que nos chegam, que isso se deve à postura, que o SINAL adota em seus procedimentos, de lisura, responsabilidade e transparência. Contamos hoje com aproximadamente 5.500 filiados (60%) em todo o país – mais de mil só em Brasília -, enquanto o Sindsep mal chega aos 4% do conjunto do funcionalismo.
Aqui cabe até ficarmos curiosos: por que o Sindsep não leva o seu divisionismo para a Receita Federal e outras categorias que optaram por ter seu sindicato próprio?
Quais as perspectivas do sindicato para o futuro de um BC, independente ou não?
O grande desafio é o de melhorar a percepção da sociedade quanto à importância do BC. Há muita desinformação, desgaste de imagem por conta da inação da Diretoria, que não defende a Instituição, e, principalmente, adota políticas equivocadas. É preciso converter as enormes capacidade e competência do corpo funcional em ações concretas em defesa do interesse público. Nesse sentido, a proteção da economia popular deveria ser prioritária.
Em síntese: há esperança de os filiados virem a receber os 28,86% em vida?
Sim. A possibilidade de êxito da ação dos 28,86% é boa, o que nos motivou a oferecê-la aos filiados.
Para que não restassem dúvidas, nem pergunta sem resposta, levamos o nosso advogado para uma exposição ao funcionalismo a partir do auditório Dênio Nogueira, com transmissão para todo o país. Lá, o Dr. Marcos Resende atendeu a todos os questionamentos surgidos, sem omitir qualquer detalhe.
O advogado compareceu também ao Rio de Janeiro na última quarta-feira e está agendando uma apresentação aos colegas de São Paulo. Editamos dois Apitos Brasil (119 e 121/05, de 16 e 21 de novembro) levando esclarecimento aos interessados.
Aqui cabe também mais um registro da relação Sinal-Sindsep: fizemos o convite a todos os servidores. Um representante daquele Sindicato esteve no auditório Dênio Nogueira. Ouviu tudo. Entrou mudo e saiu calado. Entretanto, em e-mail enviado anteriormente a servidores da Casa, o Sindsep havia procurado desqualificar a vitória do Sinal. Seria este mais um convite à unidade?
De que forma viriam as parcelas do aumento de janeiro (6%) e junho(4%)? Seria via MP ou PL?
O governo pretende editar um PL com as negociações fechadas com todos os servidores públicos. Ainda há tempo para aprovação em 2005, mas está se esgotando. Estamos vigilantes e não hesitaremos em agir no sentido de convencer o governo a editar uma MP exclusiva para a nossa carreira.
Esta semana é decisiva e não podemos descuidar. Ao menor sinal de risco para as nossas conquistas, chamaremos a categoria para “cobrar” o que nos é de direito. E o governo sabe que somos bons de luta. Portanto, alertamos o funcionalismo para essa eventual necessidade.
Espaço livre para você discorrer sobre o tema CENTRUS. Depois eu edito.
Temos trabalhado incessantemente para remover as barreiras legais, jurídicas e políticas que impedem a CENTRUS de voltar a ser uma opção para o funcionalismo. Entre elas, queremos a retomada do processo eleitoral e a possibilidade de oferecimento do plano CD para os interessados. Queremos também convencer governo e legisladores a permitirem que a CENTRUS administre os recursos da futura previdência complementar do servidor público do Banco Central.
Para tanto, os primeiros passos já começam dentro de casa: firmamos uma parceria com a Centrus (que estará colaborando conosco a partir do próximo número da Revista Por Sinal) e estamos conversando com dirigentes da AAFBC. Com essa Associação, visamos eliminar mal-entendidos e construir uma relação construtiva que concilie as expectativas de todos os servidores do BC, calcada no respeito aos interesses e direitos dos assistidos da Fundação.