Edição 0 - 02/12/2003

O FILIADO FALA:

Reproduzimos abaixo, agradecidos, a mensagem delicada de
Suzana de Mattos Vieira, funcion ria aposentada do Rio de Janeiro.

"Caros funcion rios do SINAL, queria aproveitar a
oportunidade do anivers rio do SINAL para enviar a todos vocˆs, mas
principalmente aos que trabalham no Rio de Janeiro, os meus parab‚ns pela
eficiˆncia no trato de nossas dificuldades.

O meu muit¡ssimo obrigada pela educa‡Æo, aten‡Æo e mesmo
carinho que sempre mereci nas in£meras vezes em que telefono em busca de uma
resposta, ou mesmo do b lsamo de um esclarecimento para problemas que me chegam,
agora que estou afastada do BACEN pela aposentadoria.

Ao Paulo Roberto e outros que nÆo estÆo mais por a¡ e,
tamb‚m, a todos que fazem parte do grupo atual, o meu reconhecimento pela
dedica‡Æo … nossa causa. Um beijÆo a todas as meninas e meninos do SINAL."

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No dia-a-dia agitado do SINAL, um e-mail como este, ao
lado de manifesta‡äes de mesmo teor que recebemos por outras vias, ‚ um conforto
que refor‡a nossa convic‡Æo no trabalho do sindicato como int‚rprete do
coletivo.

NÆo tenha d£vidas: sob a batuta truculenta do novo governo
desta Rep£blica Democr tica, al‚m de todas as reformas, vem a¡ pela frente muito
mais pelo que espernear. Uma s¡ntese muito bem elaborada de mais preju¡zos que
se avizinham para a "rica classe m‚dia" brasileira est  contida no texto de
Diogo Mainardi, que reproduzimos a seguir.

A tunga do Estado

Diogo Mainardi, Veja, edi‡Æo 1830, 24.11.03

Querem tomar meu dinheiro.
NÆo tenho nada contra. Querendo tomar, tomem. O que me incomoda ‚ que mintam
para mim. Que tentem me enrolar. Outro dia o ministro Palocci declarou que o
Estado gasta mais com os ricos do que com os pobres. Os jornais acreditaram
nele. Publicaram a not¡cia na primeira p gina, acompanhada por entrevistas com
especialistas que corroboraram a teoria do governo. Ningu‚m contestou as
estat¡sticas fornecidas pelo ministro. Ningu‚m me alertou de que elas eram uma
armadilha para tomar meu dinheiro.

Pelos c lculos paloccianos, eu sou rico. Qualquer um que
ganhe mais de 8.000 reais por ano ‚ considerado rico. Trata-se de um truque
estat¡stico. Para o governo, ‚ conveniente ignorar a diferen‡a entre classe alta
e classe m‚dia. Porque, se a classe m‚dia ‚ inclu¡da na categoria dos ricos,
fica mais f cil aumentar-lhe os impostos. De acordo com o governo, eu, sendo
rico, recebo mais do Estado do que os pobres. Estranho. Eu nunca recebi nada do
Estado. Nunca recebi seguran‡a. Nunca recebi transporte. Nunca recebi sa£de.
Nunca recebi educa‡Æo. Paguei tudo do meu pr¢prio bolso.

O sofism tico ministro Palocci afirmou, por exemplo, que os
ricos recebem do Estado o ensino superior. E que um universit rio brasileiro
custa muito mais do que um universit rio europeu. Ele s¢ esqueceu alguns
detalhes. Primeiro: os europeus recebem do Estado nÆo apenas o ensino superior,
mas tamb‚m o ensino fundamental e o m‚dio. Segundo: as universidades p£blicas
europ‚ias oferecem vagas a todos os alunos, nÆo s¢ a uma minoria. Terceiro: os
brasileiros ricos conquistam a maior parte das vagas nas universidades p£blicas
porque estudam em escolas particulares, muito melhores do que as escolas que o
Estado oferece aos mais pobres.

Outra ilusÆo estat¡stica do documento ministerial foi
misturar, no c lculo do gasto social, as aposentadorias p£blicas com as
privadas. J  h  progressividade na aposentadoria do setor privado. J  h 
mecanismos de distribui‡Æo de renda. J  h  um confisco brutal por parte do
Estado. Os aposentados ricos do setor privado ganham muito menos do que sua
contribui‡Æo. Se os aposentados ricos fossem considerados isoladamente, sem os
aposentados do setor p£blico e sem os aposentados rurais, seria f cil perceber
que eles dÆo mais do que recebem. E que as distor‡äes na previdˆncia nÆo sÆo
causadas por eles.

O ministro Palocci quer aumentar a arrecada‡Æo e diminuir as
despesas. Os n£meros divulgados por ele justificam a cobran‡a de mensalidades
nas universidades federais. Tudo bem. Concordo. S¢ que os professores nÆo podem
continuar a ganhar aposentadorias p£blicas. Se eu pago mensalidade, ‚ porque a
universidade ‚ privada. Deve ser tratada como tal. O ministro Palocci tamb‚m
quer diminuir as dedu‡äes com gastos em sa£de, nas declara‡äes de imposto de
renda. Nenhum problema. O Estado nÆo precisa me conceder favores. Eu nunca vou
recorrer a um hospital p£blico. Estou disposto a pagar dobrado para ser atendido
num hospital particular. S¢ acho um pouco injusto ter de pagar, al‚m disso, a
CPMF, um imposto supostamente destinado … sa£de. Se o Estado abdica do dever de
tratar de minha sa£de, deve abdicar tamb‚m de parte do meu dinheiro.

O Estado nÆo d  nada aos pobres. E nÆo d  nada aos ricos.
Quem afirma o contr rio est  mentindo. A luta de classes no Brasil nÆo ‚ entre
ricos e pobres.  entre o Estado e a sociedade.

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