Edição 7 - 08/02/2011

Sucessão no BC

O Governo Dilma já entrou no segundo mês e a Diretoria do BC permanece a mesma. O fato poderia passar despercebido – vivemos em governo de continuidade – não fosse pelo desejo de saída de alguns diretores e pela explícita vontade da Presidente em mudar a condução da política monetária do país, no estilo “autonomia, pero no mucho”. 
 
A demora não se tem se traduzido propriamente em problema, já que a máquina burocrática do BC funciona bem e os atuais titulares permanecem à frente de suas pastas, ainda que prontos para sair. 
 
O fenômeno pouco usual não deixa, no entanto, de ser intrigante. O que estaria por trás da demora na definição da diretoria do Banco Central? 
 
Tentativa de loteamento político-partidário da Instituição, disputa entre as facções gerenciais no BC (sim, há política no BC), complicadas negociações para que todos os realocados caiam para cima, reestruturações organizacionais…. Talvez um pouco de cada.
 
Não há dúvida de que, no sistema atual, de autonomia consentida, cabe ao Governo a indicação de nomes de sua predileção para a direção do BC. Ora, a direção deve refletir as políticas públicas chanceladas nas urnas, mesmo que nossa Instituição trate de assuntos bastante técnicos.
 
Não podemos permitir, no entanto, que o Banco Central se torne objeto do loteamento que grassa em todo o serviço público, com consequências desastrosas para a sociedade. E se o próprio presidente do BC é servidor de carreira, para que buscar nomes de fora?
 
Inegável a importância da avaliação subjetiva e da confiança no processo de sucessão de uma organização. O processo, porém, não pode levar ao fenômeno da “panelinha” e da “feudalização” do Órgão, pelo qual o mesmo grupo, com as mesmas idéias, domina todo o departamento por anos a fio. 
 
Os bons resultados alcançados pelo BC acabaram por chancelar tal política, pois “em time que está ganhando não se mexe”.
 
No entanto, será boa política para o BC ter, por exemplo, um dos mais importantes departamentos da Instituição conduzido pelas mesmas pessoas, por mais de uma década, de forma extremamente centralizada e avessa a críticas? Parece-nos bastante discutível esperar que os erros apareçam para iniciar a mudança.
 
Partimos do princípio de que o eixo principal das mudanças deve ser o preparo, a competência do servidor para ocupar determinado cargo. Nessa perspectiva, critérios como amizade, identificação e/ou pertencimento ao mesmo grupo político devem ser amplamente relativizados em favor do mérito. 
 
Estamos certos de que o Presidente Tombini, ele mesmo indicado por mérito e com ampla aprovação dos servidores, está conduzindo o processo nessa direção, procurando alocar os servidores mais capacitados nas funções adequadas. 
 
Aproveitamos a ocasião para contribuir com o processo, enfatizando pontos que consideramos fundamentais, ainda que alguns sejam óbvios.
 
O principal: que os indicados para os cargos de diretoria e para todos os cargos gerenciais cheguem lá fundamentalmente por mérito, domínio técnico da área e capacidade de administrar os recursos humanos.
 
Mesmo as regras pouco flexíveis do serviço público permitem diferenças fundamentais no quesito “gestão de pessoas”. Aptidão para comunicação, relacionamento interpessoal e motivação devem ser observados. Características essas, aliás, até aqui amplamente negligenciadas no BC.
 
A propósito, pesquisa sobre ambiente de trabalho e assédio moral, a ser divulgada no correr da semana pelo Sinal, mostra que 37% dos 901 entrevistados declararam haver indícios de assédio moral no BC. Detectamos, ainda, situações muito preocupantes a respeito do ambiente de trabalho.
 
Nas áreas que afetam diretamente os servidores nas suas demandas, é fundamental que o comissionado tenha perfil negociador, flexível e aprecie tratar com as pessoas: que goste de … diálogo.
 
Não podemos mais aceitar comissionados no Depes, por exemplo, recebendo novos funcionários com total falta de tato, para dizer o mínimo. Não queremos, nem nessa área nem no Jurídico, gestores “mais realistas que o rei”, aplicando critérios mais conservadores do que os do TCU e do MPOG, dificultando acordos e enfraquecendo nossas demandas fora do BC. 
 
Acreditamos que o Presidente Tombini começará bem sua gestão se conseguir montar uma equipe competente e sensível às demandas dos servidores. Não somente naquelas corporativo-financeiras, mas também nas relações interpessoais.

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