Edição 0 - 02/01/2004

Paulo Roberto se foi …

Deixou-nos, no £ltimo dia 30.12, v¡tima das seqelas de uma diabetes que h  anos o acometia, o querido amigo Paulo Roberto de Castro, fundador e v rias vezes Presidente do SINAL.



Dif¡cil avaliar o pesar que sentimos. Mais ainda o tamanho da perda: para cada um de n¢s que o conhecemos, para o sindicato por cuja forma‡Æo e amadurecimento tanto trabalhou, para os funcion rios do Banco Central que nele tiveram lideran‡a inconteste e um lutador incans vel por suas causas e direitos.



Paulo Roberto foi uma dessas pessoas que vˆm … vida como cometas. Passam, fulgurante mas brevemente, a todos irradiando seu brilho intenso e deixando a visÆo memor vel do rastro de sua luz no c‚u das lembran‡as de cada um.



S¢ nos consola em sua morte ver o fim do enorme sofrimento que o vitimou ao longo deste ano, quando por v rias vezes esteve internado sem qualquer perspectiva de regressÆo em seu estado.



Quem, por novo no BC, nÆo teve oportunidade de conhecˆ-lo, certamente dele j  ouviu, ou ouvir  falar um dia.



Porque mesmo quem lhe era ideologicamente antag“nico ou s¢ o via e ouvia em assembl‚ias seria incapaz de lhe negar a mente brilhante, a verve l£cida e precisa, o pensamento sagaz ou a cultura ecl‚tica.



Suas palavras, quando se dirigia a n¢s seriamente, eram absorvidas no mais profundo e respeitoso silˆncio. Ironicamente, nÆo havia ningu‚m mais espirituoso … ainda que o motivo das brincadeiras fosse ele mesmo.



Com visÆo pol¡tica e senso de oportunidade singulares, ele soube conduzir a bom termo incont veis movimentos funcionais por mais de 15 anos; com visÆo humanit ria e cora‡Æo de manteiga, alimentou sua alma de tornar melhor a vida de todo o mundo … sua volta, a¡ inclu¡do o cÆozinho idoso e cego que nÆo se separava dele.



Travou, assim, na vida pessoal como na de l¡der do sindicato, lutas alheias; e, se em algumas delas os benef¡cios o atingiram, foi meramente porque tamb‚m ele era funcion rio do Banco. Mas nunca foram por si mesmo as suas batalhas.



At‚ porque jamais cogitou de usufruir de qualquer benesse ou favor pessoal por conta dos in£meros conhecimentos que travou ou das fun‡äes que assumiu. E a verdade patente ‚ que nÆo deixa absolutamente nada material de seu.



As muitas centenas de seletos livros doou-os, h  meses, … Biblioteca P£blica do bairro onde mora, a Gl¢ria, para onde os conduziu um frete de R$ 60,00 pagos de seu pr¢prio bolso. Alguns objetos antigos – v¡cio do colecionador de bom gosto – deu-os aos camel“s-brech¢s da esquina de sua rua, conhecidos de longa data. Seus mais de 3000 discos pediu … companheira que lhe chamasse em casa amigos diletos para escolherem os de sua preferˆncia.



Deixa, por‚m, incont veis favorecidos por sua benemerˆncia an“nima; hist¢rias que poucos, s¢ por for‡a da proximidade, conheceram ao longo do tempo.



Prescrutador inato da alma humana, soube sempre avaliar profundamente as pessoas e as razäes para seus atos. Do cont¡nuo ao Diretor, quem cruzou com Paulo Roberto no caminho da vida teve seu cora‡Æo desnudado, tenha-o sabido ou nÆo.



E assim conhecedor das fraquezas de todos, jamais tripudiou delas. E valorizava qualquer argumento l¢gico, mesmo vindo do lado contr rio e do qual discordasse.



As id‚ias brotavam-lhe da mente, incessantes, torrenciais, imperiosas. Tornando imposs¡vel sua execu‡Æo, no mesmo ritmo, pelos “simples mortais” funcion rios do SINAL. Ele entendia isso, por‚m, e, de vez em quando, dava “meia trava”; sem se furtar, sempre que necess rio, a explicar tudo de novo, do comecinho, did tica e pacientemente.



Havia nele um “quˆ” de mestre que lhe assentava natural e era assim aceito por todos. Na Gl¢ria, cujos quarteiräes esquadrinhava nos £ltimos meses em sua cadeira de rodas,  vido por movimento e informa‡Æo, era reconhecido por comerciantes, jornaleiros e camel“s como “o professor”.



NÆo o deslumbraram poder nem riqueza, nem o intimidou nunca a mis‚ria. A todos, por isso, tratava igualmente, sem afeta‡äes ou paternalismo. Paulo Roberto de Castro foi um homem livre e criativo, que dividiu com generosidade ¡mpar sua percep‡Æo do mundo, a lideran‡a inata, seu senso de justi‡a.



Com todos os altos e baixos da vida – a sua pr¢pria, a dos demais, a do Brasil – jamais deixou de acreditar no potencial humano para buscar a felicidade. Para n¢s, dire‡Æo e funcion rios do SINAL, ele ser  sempre o Presidente de Honra deste sindicato.



Pois ele nos deu a mostra de que a esperan‡a era teimosa em sua vida e que o acompanhou em seus £ltimos contatos com os mais pr¢ximos, juntando-se ao seu olhar sempre posto num futuro melhor.



Fica-nos, dessa privilegiada visÆo ampla e … frente, a certeza de que essa esperan‡a nÆo a levou com ele, mas sim deixou-a entre seus amigos, como se f“ra ela o bastÆo na corrida de revezamento da vida.



Cabe a todos n¢s, que dele nos lembraremos para sempre, segur -lo com orgulho e continuar em frente a sua obra.



Pelo seu legado e privil‚gio de sua presen‡a entre n¢s, Paulo Roberto, o nosso muito obrigado.



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(A missa de 7§ dia por sua morte ser  celebrada na pr¢xima quarta-feira, 07/01/04, …s 11h, na Igreja Nossa Senhora da Concei‡Æo e Boa Morte localizada na Rua do Ros rio esquina com Av. Rio Branco, Centro – RJ.)

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