Edição 21 - 22/03/2013

É o câmbio, mas o que fazer?

 

 

Transcrevemos matéria publicada recentemente no jornal Monitor Mercantil, de autoria dos colegas Rubens Teixeira da Silva, Henrique Dezemone Forno e Márcio Silva de Araujo

 

 


É o câmbio, mas o que fazer?


Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.
Friedrich Nietzsche

 

Em nosso último artigo, “É o câmbio, caro leitor!”, procuramos abordar o preço taxa de câmbio sob um olhar mais estratégico, em que a possibilidade de incorporação de setores que tragam melhores empregos à nossa economia está associada a esse preço e o quanto a sociedade se dispõe a postergar um bem-estar presente, mas frágil, em beneficio de um bem-estar futuro, contudo mais amplo e sustentável economicamente. A partir deste artigo, procuramos avançar na análise das dificuldades de implementar uma estratégia que busque níveis de taxa de câmbio compatíveis com esse caminho, e em como essas dificuldades podem ser contornadas.

O ator central sobre o qual os agentes econômicos procuram sinais sobre sua atuação no que tange às taxas de juros e de câmbio é a autoridade monetária. Esse olhar sobre o Banco Central (BC) ao longo de um período de tempo forma um aprendizado que dá certa previsibilidade a esses agentes. Poder-se-ia dizer que quanto mais “previsível” o BC, menor a incerteza dos agentes econômicos e, em especial, do investidor. Especificamente, se pensarmos nesse investidor como um agente que busca assumir uma maior exposição ao risco, seja no que se refere ao volume do investimento, seja ao período esperado do seu retorno, essa previsibilidade é crucial.

A criação de regras de atuação para o BC, ou a adoção de regimes como o de metas para inflação, procuram reduzir o grau de incerteza em relação às trajetórias das taxas de câmbio e/ou de juros. Desse modo, qualquer proposta que busque alterar a estrutura produtiva de uma economia deve passar pelas regras de atuação do BC, além, naturalmente, das reações dos diversos agentes em relação a essa atuação e ao seu sentimento em relação à incerteza e em como funciona a economia.

O ator banco central, por sua vez, é um agente com um papel pré-definido. Esse papel varia para cada país, mas, em geral, ele tem por preocupação o controle do aumento médio dos preços ao consumidor, o nível geral de emprego e a estabilidade do sistema financeiro. No caso brasileiro, não há definição explícita de metas ou mesmo de preocupação com o nível de emprego.

O BC brasileiro atua com o olhar sobre o nível de inflação, dispondo para isso de diversos instrumentos, mas, principalmente, a determinação da taxa de juros básica: a Selic. Ele também está submetido a uma meta para inflação para cada ano gregoriano, o que, por um lado, restringe sua atuação, mas, por outro lado, fornece a tal previsibilidade de que falamos antes.

Recentemente, O BC brasileiro surpreendeu o mercado interrompendo uma sequência de aumento na taxa de juros, invertendo a sua direção. Esse processo levou a taxa Selic ao seu menor patamar histórico: 7,25% a.a. Essa mudança de trajetória pode ser vista como sendo resultado de um diagnóstico correto por parte da autoridade monetária: o de que a crise que se iniciou em 2008 teria impacto relevante sobre o lado real da economia e que uma manutenção dos patamares altos da taxa de juros acabaria por levar a economia a um forte desaquecimento.

 

Como o BC sabe que esse processo é por sua natureza desalentador para os agentes que procuram repor margens de lucro via aumento de preços, ele se aproveitou dessa “janela de oportunidade” para reduzir o nível de taxas de juros. Ou seja, os participantes do mercado financeiro devem ter aprendido que apesar de existir uma regra implícita associada ao regime de metas para inflação, esse regime não é um fim em si, e sim um meio de mitigar a incerteza dos agentes quando a economia se encontra em condições mais normais de funcionamento.

Em uma primeira avaliação das margens de manobra para o BC atuar, somos levados a concluir que, salvo em alguns momentos circunstanciais, essa atuação procura coordenar a atuação dos diversos agentes econômicos de modo a reduzir o custo econômico, leiam-se juros, dessa sua atuação. Na caixa de ferramentas do BC, tanto para juros, quanto para câmbio, o uso inadequado do instrumento pode causar ruídos que podem ser contraproducentes. Os chamados canais de transmissão da política monetária são mais efetivos ou não em função da capacidade de os agentes de mercado entenderem claramente o porquê daquela forma de atuação.

A partir desta análise relacionada à formação de expectativas por parte os agentes, aprendidas a partir do modo de atuação da autoridade monetária, podemos concluir que qualquer estratégia que busque alterar as condições de competitividade de nossa economia passa necessariamente por essa autoridade. Podemos também inferir que essa atuação do BC deve ser de tal forma compreendida pelo mercado que ele não gere dúvidas. Ou seja, a existência de uma regra de atuação, explicitada ou aprendida na prática das mesas de operação é facilitadora desse processo.

A resposta para a pergunta título deste artigo seria, simplificadamente, alterar a forma de atuação do BC no mercado, através de uma nova regra ou convenção entendida pelo mercado. Mas que regra seria essa e como ela se justifica? Bem, esse é o tema do nosso próximo texto neste espaço.


Márcio Silva de Araujo, Rubens Teixeira da Silva e Henrique Dezemone Forno são doutores em economia e servidores do BCB/RJ. Marcio e Rubens são filiados ao Sinal-RJ.

Obs: As opiniões expressas representam a visão dos autores, não significando necessariamente a opinião do Sinal.

 

 

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