Edição 010 - 02/03/2020

SAUDADES DO TEMER

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Saudades do Temer

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Em 2015, primeiro ano do novo mandato de Dilma Rousseff, não se falava seriamente em impedimento da presidenta reeleita. O susto das marchas de 2013 já havia sido superado. O presidencialismo de coalizão, refém de um Congresso Nacional cada vez mais voraz por recursos e obras, tornava o país cada vez mais ingovernável. A maior parte do Congresso há muito tempo tinha se transformado em uma casta desconectada da realidade do país. A manutenção deste sistema, organizada pelos caciques políticos, necessitava de um crescente fluxo de recursos legais ou ilegais para sustentar aquilo que se convencionou chamar de “articulação política”.

Entretanto já começava a ficar bem claro que o modelo econômico não teria futuro. Os empresários já tinham tirado o pé do acelerador desde 2009 e o investimento privado já vinha despencando a olhos vistos. Também acabou a farra das commodities, a China tinha pisado no freio.

Com a saída de Joaquim Levy no final de 2015, derradeira tentativa de Dilma de conciliar com o Mercado, os políticos do MDB, capitaneados por Michel Temer, passaram para o plano “B”: jogar Dilma e o PT ao mar.

Mas como ter credibilidade para depor um Governo cujas impressões digitais do MDB e demais partidos aliados se encontravam por toda parte?

Havia a necessidade de buscar um acordo com integrantes da mais nova casta da República, o Judiciário. O julgamento da chapa Dilma-Temer em 2017 no TSE, um processo coalhado de provas até o teto, terminou pela incrível absolvição da chapa e a manutenção de Temer no poder. Foi um tapa na cara dos ingênuos: sim o STF faz política no seu mais baixo grau. Desde então, ninguém mais levou a sério as decisões do STF, a não ser quando lhe convinha.

Michel Temer deu uma sobrevida política ao sistema vendendo tudo aquilo que o Mercado exigia, implantando Reforma Trabalhista e Lei da Terceirização. Para isto teve forte apoio dos grupos econômicos e da imprensa a eles ligados, que “esquecendo” o passado criminoso dos membros daquele Governo, quis criar a mitologia dos bons ladrões que lutam para endireitar o país. A mídia tanto se esforçou que, a certa altura, o próprio Temer pensou que poderia ser possível uma reeleição. Mas, ao contrário da imprensa, a população não se esqueceu de nada e seus índices de popularidade, que não passavam de 4% em agosto de 2018, sepultaram o projeto.

Nesse contexto, Temer não conseguiu entregar a Reforma Previdenciária, devido à oposição popular.

O resultado final do Governo Temer foi escancarar que as principais instituições brasileiras se encontravam moralmente falidas.

Diante deste fato, o resultado das eleições presidenciais em 2018 não poderia surpreender ninguém: alguém que cotidianamente externava seu total desprezo por estas instituições, o que nunca o impediu de conviver 30 anos neste mesmo sistema, foi eleito sem precisar opinar sobre qualquer assunto sério da República. Os principais grupos econômicos bem que gostariam de escolher um candidato melhor, mas sob o risco de ver um novo Governo petista subir ao planalto, não titubearam em apoiá-lo.

Assim fomos colocados nesta nova era em que a raiva e o “terraplanismo” dominam o ambiente social. Parece que nada é esdrúxulo o suficiente neste Governo.

Ocorre que Bolsonaro, como se diz na gíria, pode ser maluco, mas não é doido, ou seja, ele sabe perfeitamente que não tem qualquer futuro político fora deste ambiente radical composto por evangélicos fundamentalistas, milicianos profissionais e militares saudosistas do AI-5. Nada fará contra qualquer um destes grupos. O resto não importa.

No atual confronto com um Congresso que quer avançar em 30 bilhões em emendas impositivas, as belas palavras de Rodrigo Maia sobre a defesa da democracia esbarram, segundo a pesquisa de confiança nas instituições da XP de janeiro/2020, nos míseros 6% de confiança da população nos partidos políticos e 11% na Câmara dos Deputados. Ou seja, não possui qualquer credibilidade fora da imprensa.

Hoje o Mercado passa pela angústia de sentimentos contraditórios.

Redução de direitos trabalhistas e previdenciários são uma boa coisa na sua visão, a redução do Serviço Público e dos gastos sociais também. Aposta em Paulo Guedes, só lamenta a sua imprudência verbal ao externar o seu genuíno desprezo pelos Servidores Públicos (parasitas) e pelos pobres (empregadas viajando para a Disney).

Lamentavelmente, o presidente não é confiável pois não se predispõe a realizar o seu sonho dourado, reorganizar um acordão ao estilo Temer entre as diversas castas que controlam o poder político da nossa sociedade. Esta imprevisibilidade o deixa nervoso. Um confronto aberto, enquanto a economia patina desastrosamente, poderia significar o caminho para o caos institucional, o pior dos cenários.

Só que o nervosismo do Mercado e da imprensa subsidiada não sensibiliza Bolsonaro. Atirar, ou melhor, twitar em tudo que lhe desagrada sempre foi uma estratégia de sucesso no seu jogo principal: a sobrevivência política dele e de seu clã.

De fato, a única oposição séria só poderá vir de manifestações populares (pesadelo chileno) e não de instituições falidas que não contam com qualquer apoio popular. Na verdade, chega a ser ridículo discursos que dizem defender a democracia, mas que entram em pânico com manifestações de rua. Na sua visão “democrática”, as coisas só podem ser decididas nos gabinetes refrigerados de Brasília, irrigados por bastante “articulação política”.

Estas pessoas, assim como o Mercado, devem ter muitas saudades do Temer.

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