Edição 97 - 06/12/2013

Uma canção para Mandela

 

Em um final de tarde, andando ao longo do calçadão na praia de Copacabana, pai e filho olham o mar. Distraidamente, o menino, de pouco mais de seis anos de idade, tropeça em um obstáculo não previsto. As pernas distendidas de um mendigo, relaxadamente deitado em um banco, quase levam o garoto ao chão. Com a cabeça ainda no colo do poeta, o mendigo leva um susto. Levanta-se de pronto e se desculpa, saindo rapidamente do campo de visão do pai e do filho, a caminho do mar.

O pai ajuda o menino a se recompor e pergunta se está tudo bem. O menino diz que sim, mas que não pode dizer o mesmo do mendigo, que deixa em sua memória o cheiro de vários dias sem um bom banho. Como o olhar livre das crianças, faz aquela pergunta difícil para um adulto responder: “Pai, por que ele não dorme na casa dele?”

A luta pela vida faz que, com o tempo, as crianças se tornem adolescentes e adultos, esquecendo-se das perguntas que faziam quando eram mais novas. Com o tempo também, a mente parece anestesiar nossos sentidos imediatos, de modo que possamos viver sem carregar o peso da responsabilidade pelo que poderíamos ter feito pelo outro.

Nossa racionalização leva-nos a buscar fora a responsabilidade pelo que também nos cabe. A culpa é do governo, dos políticos, do sindicato, da imprensa, do governo estrangeiro A ou B. Isso é até certo ponto natural, uma vez que muitos dos problemas que nos chegam diariamente aparentam ser sem solução.

Porém, (ah, porém…) em períodos bem espaçados no tempo, surgem algumas pessoas que parecem nunca terem esquecido as perguntas que se faziam quando ainda eram crianças. Entre essas pessoas, algumas são levadas pelos trilhos da sorte, ou do destino, a se colocarem em momentos interessantes da vida.

O peso que essas pessoas especiais carregam pode ser insuportável para qualquer um que não tenha essa necessidade irresistível de fazer valer o que acha certo e justo. É difícil definir o que é justo, mas, curiosamente, parece ser fácil dizer o que não é justo.

Pessoas como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela sabiam o que não era justo e, com a força libertadora da verdade, conseguiram mudar as sociedades em que viveram. Os processos políticos que eles lideraram foram conturbados e cheios de dificuldade, mas, ao fim, suas verdades prevaleceram.

Ontem, Nelson Mandela faleceu. As homenagens formais, comendas póstumas, reportagens, etc. são justas, sim, justas. Elas devem inundar a nossa atual sociedade da informação rápida.

O Sinal Rio expressa neste espaço seu respeito e admiração por esse grande homem.

O movimento sindical caracteriza-se pela união organizada dos trabalhadores na defesa de seus interesses em contraponto aos interesses do capital. Não é uma luta fácil, uma vez que a união dos trabalhadores é muitas vezes frágil. Os interesses individuais são, por vezes, conflitantes, mas o interesse do capital não tem contradição. É uno e se mede no saldo líquido do seu balanço contábil.

O Sinal procura em suas ações não apenas defender os legítimos interesses da categoria, mas também assume a responsabilidade de não deixar passarem atitudes e ações que afetem de modo prejudicial o interesse maior de nossa sociedade. A união de todos em torno do sindicato nem sempre é facilmente obtida, dadas as eventuais divergências que surgem entre seres humanos. Contudo, há pontos de convergência e, em torno desses pontos, devemos focar nossas energias.

Ontem, Nelson Mandela faleceu, mas não será esquecido. Quando um homem como Mandela vira canção, a arte fez o seu julgamento. Ao ouvirmos essa canção, aquela criança dentro de cada um pode acordar e se lembrar daquelas perguntas que fazíamos quando ainda tínhamos pouco mais de seis anos de idade. Talvez.
 

Clique aqui para ouvir Mandela Day (Dia de Mandela), Simple Mind.

Juntos somos fortes!
  

  

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