Edição 86- 4/11/2013

Zumbi dos Palmares e a nação brasileira


Não vivemos para ver, mas sabemos que o nosso país foi fundado quando da sua independência, em 7 de setembro de 1822. Contudo, muitos de nós acreditamos que só nos transformamos em nação quando da proclamação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

Embora o dia 13 de maio não seja comemorado com um feriado, como o da independência ou da proclamação da república, ele serve de marco para um momento especial. A partir de então, todos se tornariam iguais perante a lei e cor da pele não ditaria mais o destino de cada alma, nascida ou não neste solo.

Contudo, a dissociação entre o que fazem os que dirigem este país, e o que pulsa na vontade dos corações em cada lar brasileiro parece ser enorme. Esse divórcio de vontades se explicita na negação de um direito aqui, ou na imposição de uma arbitrariedade acolá.

Zumbi dos Palmares foi um dos líderes de um povo sofrido e injustiçado; povo que construiu com seu suor cada igreja, armazém ou escola, que lavrou o solo de onde todos se beneficiaram com seus frutos, ou que ajudou a criar os filhos dos donos da terra. Esse povo formou a parte mais rica da nossa cultura, com sua música, comida, vestimentas, entre outras contribuições que perpassam os nossos atos mais cotidianos.

João Bosco nos lembra: “Salve o navegante negro, que tem por monumento as pedras pisadas do cais”. Ao menos esse lapso procurou-se corrigir, pois, além das “pedras pisadas no cais”, construiu-se um monumento em homenagem a Zumbi ao final da Av. Presidente Vargas. Todavia, as atitudes e decisões por parte de alguns ainda reflete um modo de ver o país que não se coaduna com a batida dos corações dos filhos desta terra.

A celebração do Dia da Consciência Negra como feriado procura levar a todos nós uma reflexão sobre a contribuição desse povo que ajudou a formar a nação brasileira. Ele não serve para que se pague uma dívida moral, impagável, mas para nos lembrar do quanto ainda devemos trabalhar para que os ainda excluídos sejam participantes de uma vida plena.

Diante disso, soa quase como anacrônica a continuada indiferença e prepotência com que a administração do Banco Central trata esse feriado do Rio de Janeiro, onde ele é formalmente instituído por leis municipal e estadual. A indiferença está em não valorá-lo devidamente, desacatando-o; e a prepotência, por ir aos limites da atuação legal para impedir sua efetivação prática. Esse anacronismo é mais explícito quando sabemos que outros órgãos da esfera federal no Rio de Janeiro respeitam o feriado do Dia da Consciência Negra.

Podemos nos perguntar: se o dia 20 de novembro, aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, representasse uma homenagem ao imigrante alemão, por exemplo, será que essa indiferença seria igual? Não se trata aqui de desmerecer a importante contribuição dos que vieram do continente europeu em busca de uma vida melhor. Sabemos que eles buscavam novas oportunidades de trabalho, trazendo junto o seu modo de vida, e enriquecendo ainda mais a nossa diversidade. Porém, com os que vieram forçados do continente africano temos uma dívida.

O país que existe desde antes da nação e, representado por sua elite dirigente, não pode hesitar em um momento como esse. O Sinal Rio espera que a direção do Banco Central poupe os seus já limitados recursos humanos em uma disputa judicial que não tem consonância com a atitude de outros órgãos de governo federal, como já lembrado.

Para finalizar, deixamos aqui um link com uma interpretação da canção  O mestre sala dos Mares feita pela inesquecível Elis Regina, música de Aldir Blanc e João Bosco. Ouça e assista em casa, pois esse link está bloqueado nos computadores de trabalho devido aos recentes cortes de custo efetivados pelo BC, mas essa já é outra história, ou não?

Juntos somos fortes!

 

 

 

 

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