Edição 0 - 14/05/2003

Uma filiada e colaboradora do SINAL escreve

Ao SINAL, sindicato de tÆo curtos anos e tÆo longas e bravas
lutas que testemunhei,

Vocˆs fizeram elei‡äes h  pouco, e muitos conselheiros novos
de banco se incorporaram … Diretoria. Em meio a todas as d£vidas atrozes que
envolvem hoje, neste pa¡s, a reforma da previdˆncia, e, no BC, o novo PCS, e em
nome da tradi‡Æo de trabalho honesto e nÆo conspurcado do Sindicato, sinto-me –
"coroa" aposentada h  quase 8 anos – compelida a dirigir-me, atrav‚s de vocˆs,
aos jovens do Banco Central.

Quando entrei para o BC, aposentadoria era s¢ uma palavra.
Long¡nqua, vocabul rio de velhos. Eu era entusiasmada, impetuosa, falante, um
"mosquito el‚trico" para trabalhar… igualzinha a todo jovem. O pessoal
requisitado ao Banco do Brasil e … antiga SUMOC – que constitu¡ram o primeiro
grupo de funcion rios do BC – eram todos coroas "ricos" e "empistolados" em suas
comissäes, na minha visÆo. Eu nÆo pensava muito bem a respeito deles: o BC
‚ramos n¢s, jovens concursados. O BC era o futuro.

Mas todo futuro um dia vira "presente", e finalmente me
aposentei. Considerava que me aposentara bem e fui feliz da vida durante dois
anos
. S¢.

Da¡ para a frente, a "maldi‡Æo do aposentado brasileiro"
baixou sobre mim. Os pre‡os de produtos e servi‡os sempre aumentando, filhas
estudando cada vez mais para se habilitar melhor a um emprego cada vez mais
dif¡cil, "espremendo" o dinheiro para pagar as despesas cada vez mais
sufocantes.

Voltei a trabalhar – gra‡as aos c‚us e a um amigo querido
(saibam que s¢ eles dÆo novas oportunidades para velhos) – que resolveu
acreditar na minha poss¡vel competˆncia remanescente.

Estou desligada do Banco h  muito tempo, e sei que a
"desgra‡a" atualmente ‚ generalizada. NÆo ‚ de hoje, por‚m, que o Banco Central
‚ o "patinho feio" das institui‡äes nacionais. Todas as outras parecem ter
melhores condi‡äes de valoriza‡Æo profissional do que n¢s.

Sei que muitos de vocˆs, novos, reclamaram bastante da briga
do SINAL pelo FGTS e pelo Bresser.  porque vocˆs nÆo estavam aqui em 96 e em
94, para saber que essa briga "dos velhos funcion rios" ‚ quase tÆo velha quanto
eles. E para saber e reconhecer que, ainda que o SINAL fosse de brigar s¢ pelos
"velhos", nÆo faria mais do que ser democr tico, pois que os funcion rios
anteriores a 94 ainda sÆo a maioria da filia‡Æo do sindicato. NÆo sÆo as razäes
da maioria que orientam as a‡äes num estado democr tico de direito?

Mas o SINAL nÆo ‚ assim, e vocˆs sentirÆo isso na pele,
quando come‡arem a bater-se por causas do seu tempo – justas, e a
danada da justi‡a brasileira demorar pra se fazer sentir. O sindicato tem que
lutar pelo universo funcional, ainda que, infelizmente, ele hoje se encontre
fragmentado, o que ‚ p‚ssimo para todos. E ‚ isso que vocˆs, jovens, devem ter
em mente quando buscam melhorias atrav‚s do Plano de Cargos. Pe-Ce-Esses
nunca sÆo totalmente justos
: as acäes do SINAL contra alguns, passados,
estÆo a¡ e nÆo me deixam mentir. Mas todos eles, at‚ aqui, contemplaram os
aposentados: porque est  na lei maior deste pa¡s que a eles ser  estendida a
melhoria dos ativos.

Porque, ao contr rio do que pensam Berzoini, Pallocci & Cia.,
quando algu‚m se aposenta nÆo congela, nÆo. Continua vivendo, e fazendo aquelas
coisas comezinhas que os ativos fazem na vida: come, se veste, paga
aluguel/condom¡nio, luz, g s e telefone. E, em tempos de Fome Zero e
desenvolvimento econ“mico abaixo de zero, acrescentam-se … sua despesa o
sustento (a esta altura mais dispendioso) dos filhos e os rem‚dios para adiar o
enfarte que ser  um dia causado pelo stress de sua "vida mansa" de
aposentado.

Quando fui para a "ina‡Æo", caro colega jovem funcion rio, vi
que aquela palavra long¡nqua nÆo era mais tÆo distante assim: isso porque o
rosto que se vˆ no espelho, tantos anos depois, nÆo ‚ o mesmo. Mas o cora‡Æo,
meus caros, esse nÆo envelhece. E d -se, entre outras coisas, a impressÆo de que
o tempo passou num estalar de dedos. E assim ser  com vocˆs.

NÆo me arrependo de haver trabalhado no BC sempre com
disposi‡Æo e muito gosto, apesar dos pistoläes e PCSs injustos. Mas tive que
adiar "pras calendas" (brasileiras, que em Gr‚cia nem pensar) a tardia mas
ansiada p¢s-gradua‡Æo exclusiva da PUC.

Mas pe‡o hoje a vocˆs que reflitam sobre o futuro … e sobre
os "coroas" do Banco Central que vocˆs serÆo um dia. H  uma corda ao
redor do pesco‡o dos aposentados (e pensionistas, por extensÆo). NÆo sejam vocˆs
a contribuir para baixar o pat¡bulo: lembrem-se, por favor, de n¢s, no novo PCS
que se est  desenhando.

Todos vocˆs – o sr. Diretor de AdministracÆo, a sra. Chefe do
Depes, a Diretoria do SINAL encarregada das negocia‡äes tantas, os jovens
funcion rios que votam nas assembl‚ias – podem acreditar firmemente, porque ‚
realidade pura: n¢s somos vocˆs … amanhÆ. Ajudem a forjar um Banco Central
UNO
.

Um abra‡o carinhoso da "tia inativa", cada vez mais humilhada
em sua condi‡Æo de "funcion ria p£blica federal aposentada".

Maria Inez d’Abreu e Souza
(aposentada em junho de 1995).

P.S. – s¢ mais um lembrete: vocˆs todos podem nÆo ter a mesma
sorte que eu (ainda) tenho, porque, segundo leio nos jornais, alguns deputados
querem propor na Reforma que ex-servidores p£blicos sejam impedidos de
trabalhar, para nÆo tomar o lugar dos mais novos (os quais, at‚ l , obviamente
nÆo serÆo mais vocˆs)

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