DESCULPE, MAS EU DISCORDO

    Sempre se diz que opinião não se discute, ou que opinião, cada um tem a sua. Isto vale para qualquer idade, é evidente, sejamos maduros ou não. Tudo bem, mas aí vejo alguém a querer desconsiderar o direito a muitos de opinarem sobre o que for, mesmo sobre política, especialmente se mais idosos, ou mais vividos. Tudo disfarçadamente em uma análise superficial da “evolução” ou “involução” do ser humano. Curioso que o crítico acaba afirmando justo o que achou por bem de criticar. Ora, no correr de sua análise, expressa também sua opinião e afirma uma verdade, sua, claro, e colocada de forma quase absoluta, incontestável, mesmo querendo ser simpático. Veja bem, verdade que é criticada naqueles que opinam, especialmente se já têm bastante idade. Imaginem eu que estou nos 70! E o crítico, poderia declarar sua idade publicamente? Nenhuma obrigação em o fazer, lógico, embora não veja nenhum demérito nisso, muito pelo contrário, mas vá lá.  Uma coisa acaba também sendo verdade: quando alguém está opinando e sendo crítico bastante severo, repito, de idosos que expressam sua opinião e que eventualmente tenham lá as suas verdades, por que não, coloca-se como atiradeira e vidraça. Certo? Então nada a reclamar.  Imagino que quando alguém escreve, opinando sobre algo, está usando informações que possui, desde que não seja leviano, lógico, e também se valendo dos conhecimentos que somou através de sua longa vida (refiro-me aos idosos, como eu e tantos outros).  Quando se escreve um texto sobre política e se faz crítica a alguns dos que a exercem, não se precisa viver no Congresso Nacional para justificar a opinião. Absolutamente. Não precisa mesmo. A maioria dos cronistas políticos sequer vive em Brasília. O que não concordo é que se lance ao ar críticas, às vezes por demais severas, sem nenhuma prova, sem qualquer fundamento, o que considero leviano e desonesto, seja contra quem for. Isto eu já disse antes sobre muita coisa que se coloca nesta Internet, algumas vezes até utilizando outro como autor de um texto que este não escreveu.  Por outro lado, discordo também que pessoas de idade mais avançada, quando opinam, quando escrevem ou falam, fazendo-o com seriedade, com honestidade, possam ser considerados, digamos, como cheios de opiniões e… “verdades”. Mais, discordo de qualquer assertiva no sentido de os chamar de pessoas que “não teriam evoluído”. Foi mal, desculpe, mas foi muito mal. Sempre respeitei a opinião que discorda da minha, e novamente exercitarei este jeito de ser do meu caráter forjado em casa e nos bancos escolares. Resta saber se a recíproca será verdadeira.  Jamais deixei de responder a qualquer comentário sobre meu trabalho por alguma atitude mais esnobe, ou por querer manter alguma distância entre quem escreve e quem nos lê. Meus leitores sabem disso. Infelizmente há quem o faça. Pelo que sei nem eu nem outros tantos amigos, também de idade, que se dedicam ao prazeroso trabalho de escrever, se formaram, ou evoluíram, digamos assim, em qualquer “tubo de idéias”. Estranha forma de classificar ou descrever colegas,  (desculpe o “colegas”) embora disfarçadamente, que, com amor, com autenticidade e com direito à crítica, sim senhor, o fazem honestamente e, principalmente, sem o rabo preso ao que quer que seja. Como democrata que sou admito sempre a crítica quando esta traz uma discordância séria, com opinião bem fundamentada, porém jamais aplaudirei aquela que envereda pelo caminho, ou pela trilha, de lançar rótulos ou fazer julgamentos que, no meu entender, estão para além da competência de quem faz a crítica. Com todo o respeito. A esta altura do que escrevo não sei porque me veio à mente que, quando ainda criança, bem criança, em Belém do Pará, meu bom pai português me fez conhecer e apreciar as obras de todos os maiores mestres da música clássica. Aprendi muito com sêo Mário. E ele nem sequer fez faculdade.  Afinal a cultura nem sempre depende dessa formação, chamada de superior, na ordem natural das etapas de formação escolar. Meu pai era apenas um guarda-livros, como se dizia à época, mas também um eficiente e profundo conhecedor de nossa língua mãe. Foi meu mais fiel crítico quando comecei a escrever e ler crônicas no rádio paraense ainda aos 17 anos.  Para encerrar me vejo obrigado a declarar nova discordância. Não aceito que uma opinião se apóie, quase sempre, em alguma superficialidade, já que esta indica falta de seriedade e certa leviandade. Afinal não estamos a falar de pessoas irresponsáveis ou que tenham intimidade e algum compromisso com a mentira. Seria ofensivo. E mais não digo porque estou muito decepcionado e prefiro fazer de conta que nada mais li, embora tenha reparado em tudo, até no que preferia não ter conhecimento. Vou reavaliar meu conceito sobre alguns que tinha em alta conta. É só.

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