O MANO ZECA

    Sou o primogênito de dez irmãos, ou seja, o mano mais velho, ou nascido antes, num total de cinco homens e cinco mulheres. Hoje estamos reduzidos a apenas sete, porém sempre unidos sem perder o sentido maior de uma família bem formada. Mas quero mesmo é lhes falar hoje do quarto nascido pela ordem cronológica desta grande equipe de tantos irmãos e irmãs, frutos do amor de sêo Mário e D. Ana Rosa. Vou me referir ao mano Zeca, ou ao José Maria Simões dos Santos. Os homens “perdiam” por 2×1 para as mulheres quando ele chegou empatando então o “jogo”.  Como era hábito naqueles tempos, por sinal um bom hábito, ele estudou no mesmo colégio que eu, o Nazaré, de Irmãos Maristas, usou os mesmos livros pelos quais eu também estudara, começando, já ali, a seguir os meus passos, de certa forma. Uma coisa muito natural, porém sem perder a sua própria identidade, coisa que nele era algo muito marcante e se expressou da melhor maneira durante a sua vida. Em 1953, quando eu entrava para a Rádio Marajoara por concurso público, como locutor, meu mano Zeca ainda usava calças curtas e iniciava o curso ginasial. Alguns anos depois, já eu trabalhava no Banco do Brasil, também por concurso público, e ele iniciava sua carreira no rádio paraense. Se dedicou, desde os primeiros passos no rádio, à locução esportiva. Rapidamente teve seu talento reconhecido por Edyr Proença, um dos proprietários da PRC-5, Rádio Clube do Pará, e chefe da equipe esportiva daquela emissora onde eu também trabalhara anos antes. Além do mais o grande Edyr foi um orientador e mestre do mano Zeca nos segredos de uma boa transmissão esportiva. Edyr Proença foi um dos mais completos locutores em transmissões do gênero, no Brasil, indubitavelmente. De repórter de campo, Zeca, também chamado, como eu o era, por Simões, logo galgou a oportunidade de fazer sua primeira transmissão de uma partida de futebol. Em pouco tempo o público já o prestigiava como dos mais competentes para aquele trabalho. Anos depois ele se dedicaria mais à função de comentarista. Ele também se inscreveu em concurso do Banco do Brasil e foi aprovado.  A sua trajetória no rádio foi das mais elogiáveis. Zeca chegou a ter uma boa experiência também na locução esportiva no Rio de Janeiro, quando integrou a ótima equipe de Carlos Marcondes, na então Rádio Continental, uma das mais ouvidas pelos aficionados do futebol. Foi um período de grande aprendizado para o mano Simões. Com uma personalidade bastante inquieta logo Zeca retornou ao rádio paraense. Ele não costumava demorar muito tempo na mesma emissora, embora tenha sido a Rádio Club do Pará, PRC-5, que teve o privilégio de contar com seu talento por muito mais tempo, até por seus laços de amizade com o grande Eddyr Proença. O mano Zeca, ou José Simões, viveu por 62 anos, dos quais 42 foram inteiramente dedicados ao rádio esportivo paraense e ao futebol de uma maneira geral. Ele chegou a escrever um livro no ano de 1999 com o título “42 anos, uma vida no esporte”. Uma obra magnífica que transcende os limites da locução esportiva abrangendo inclusive informações valiosas sobre o rádio paraense e o próprio futebol.  Ele teve a gentileza de lembrar que, como diz no segundo parágrafo, “tudo começou em 1953 quando foi inaugurada a Rádio Marajoara e meu irmão (eu, o mano véio, Chico Simões) passou a integrar o cast de locutores daquela emissora.” Com humildade confessa ter acompanhado o meu trabalho e passado a se interessar, através daí, por também ser radialista.  Numa dessas curiosidades ou concidências que a vida nos apronta, o mesmo professor Gelmirez de Mello e Silva, que já era locutor e rádio ator da Marajoara, e que tivera uma influência muito grande no burilar, no aprimorar do material de voz e postura que eu já trazia comigo desde criança sonhando em trabalhar numa rádio, também participou dos primeiros passos do mano Zeca no anseio de ser radialista. Grande parte do público de Belém considerava, sem favor algum, que José Simões era o melhor comentarista que o rádio paraense já tivera. Algumas pessoas diziam que procuravam sempre ouvir os comentários da emissora em que o mano Zeca estivesse atuando, fosse a Marajoara, fosse a Rádio Club do Pará.  Afirmo, sem falsa modéstia, que o nosso José Simões entendia tudo de esporte, particularmente de futebol. Sinto muito orgulho de ser seu irmão e também seu fã. Entre outras atividades que exerceu, sempre ligadas ao campo esportivo, ele chegou a ser Diretor de Esportes do Payssandu, um dos grandes clubes do Pará, por alguns anos. José Simões foi um dos fundadores da ACLEP – Associação dos Cronistas Esportivos do Pará, galgando o cargo de presidente daquela entidade por alguns anos. No seu enterro alguns radialistas do seu tempo compareceram e cobriram o caixão com uma bandeira da ACLEP, num sentido maior de reconhecimento e agradecimento por quem realmente dedicara quase toda a sua vida ao esporte paraense, em particular, ao futebol. Sem dúvida alguma o mano Zeca escreveu seu nome, com muita honra para nós, na história do rádio do Pará.  Esperar outros reconhecimentos, quando eventualmente se fale do passado do rádio paraense, é complicado. Afinal, pelo que sei, arquivos de memória do tempo em que eu atuei, tanto na Marajoara quanto na Rádio Club, foram depois apagados, logo…  Por outro lado, raros jornalistas têm mostrado algum interesse em não deixar morrer a verdadeira, a autêntica história do rádio de nossa terra, como por exemplo o Sr. Lucio Flávio Pinto, um profissional digno, honrado, competente e responsável.

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