Lá em casa, em Friburgo, toda vez que chegava a notícia sobre determinado fato inusitado envolvendo algum parente ou conhecido, a minha mãe, detentora de sabedoria milenar, repetia as mesmas palavras: “… estava escrito! O destino de cada um é decidido no momento em que se nasce. Não há como mudar!”.Não acredito! Mas, não dá para negar de que essa história possui fundamento. Só o destino pode explicar porque vivo dando de cara com histórias, situações, notícias e fatos incomuns que ninguém viu, ouviu ou leu. Assim como os hipocondríacos atraem doenças, a minha presença parece que seduz fatos como o que passo a relatar, que, por sinal, não tem nada a ver com senadora homônima: Havia apenas um freguês quando entrei, anos atrás, nesta farmácia aqui perto na Rua Uruguaiana. Minutos depois, “adentraram” ao recinto outras duas pessoas e ficou nítido pelos crachás e cumprimentos de que todos eram funcionários e conhecidos da antiga Telebrás. Falavam alto e o desenvolvimento da conversa me levou a adjetivá-los como o “esperto”; o “cúmplice” e o “bobão”. Passei a prestar mais atenção, quando um deles, o “bobão”, depois de enfrentar uma bateria de indiscrições e piadinhas por parte dos colegas, resolveu mudar o rumo da prosa, dizendo alguma coisa de que poderia se “gabar”, como diria minha mãe. E, com expressão de quem ganhou na loteria, anunciou: – “Sabe de uma coisa? Eu estou é muito feliz, morou? Fiquei sabendo que vou ser pai!”.O “esperto” provocou:- “Conseguiu? Finalmente, você conseguiu!” – E os dois, o “esperto” e o “cúmplice”, caíram na gargalhada. A partir daí, tanto eu como todos os funcionários da farmácia passamos a prestar atenção na cena:O “bobão”, respondeu: – “Tenho o direito, como todo mundo…" É! Mas para certas pessoas, filho é um milagre! – Provocou novamente o “esperto”: – Ah, mas vai ter que revelar quem realizou o milagre! A dupla de gozadores não dava trégua. Depois de um curto tempo, o “bobão” (não tanto quanto parecia), denotando que o seu espírito fora tomado por um misto de raiva, vergonha e impaciência, resolveu contra-atacar:- Você sabe quem é a mãe, sim! Se a conhece com intimidade é que não tenho certeza… E o “esperto”: – Como é que eu posso ao mesmo tempo saber quem é e ao mesmo tem não conhecer? Só você mesmo…E com o olhar, o “esperto” convidou o ”cúmplice” a voltar rir. Riram muitoO bobão: – Eu me referi ao interior da pessoa…Com o rosto vermelho de raiva o “bobão” nem esperou a próxima pergunta para informar: – A autora do milagre é uma mulher chamada Heloísa Helena…- Heloisa Helena? É um bom nome de amante. Heloísa Helena! O “esperto” filosofou e o “cúmplice”, gargalhou. E, sem se contentar, prosseguiu: – Heloisa Helena! Eu sabia! Só uma mulher ao mesmo tempo santificada e homônima da minha esposa poderia realizar um milagre desse tamanho!E o “bobão”, fulminando os dois com olhar vitorioso, já de posse do troco da sua compra, arrematou: – “E quem te garante que eu não estou falando dela?”.A limpeza em série, dos pigarros das gargantas, foi o único som capaz de servir de música de fundo para aquele final, misto de vitória, vingança, constrangimento e, por que não dizer, de divertimento.
Inicial Heloísa Helena