A ESCOLA DE ARTES

    Ela mantinha cursos de todo tipo de artes, da dança à pintura, entre outros. Eu estava responsável pelos cursos de fotografia. Ministrava aulas e coordenava o conjunto em vários níveis. Havia turmas que aprendiam o básico, outras que se atinham à fotografia como arte, assim por diante. Eu percebia uma grande empolgação da parte dos alunos que tinham idades as mais variadas. O dono da Escola, Sr. Geraldo, era de estatura média, gordo e de poucos cabelos. Não parecia ter muita instrução, muita cultura, não, mas demonstrava um bom tino comercial. Resumindo: sabia ganhar dinheiro. Nós, por outro lado, cumpríamos a nossa parte cada um dando o melhor de si no tipo de atividade artística a que nos dedicávamos. Havia muitos alunos. Reconhecendo a sua fragilidade no que concerne à necessidade de eventualmente ter que manter conversas, diálogos com professores dos diversos cursos, o Sr. Geraldo contratava uma equipe de assessores comandados, não por ele, mas por uma Coordenadoria Geral que tinha um poder praticamente absoluto. Tudo caminhava bem e era fácil se perceber a alegria com que todos atuavam assim como os alunos se mostravam satisfeitos fosse qual fosse o curso que tivesse escolhido para freqüentar.  Nas minhas tarefas ora eu ensinava as regras preliminares para se obter uma boa foto, tal como considerar a iluminação, o enquadramento, o chamado “ponto ouro” da foto, aquele em que o assunto principal mais se destaca, etc e tal, ora eu estava à frente da turma mais avançada na qual seus integrantes tinham anseios de conseguirem ser verdadeiros artistas da fotografia. Minha antiga experiência me ajudava muito. De repente o Sr. Geraldo nos convocou a todos para uma reunião. Não sabíamos do que se tratava pois nada nos fora adiantado. Com poucas palavras ele nos apresentou uma senhora de uns quarenta e poucos anos, D. Rivalda. Esta parecia simpática, mas quando percebi no seu sorriso aquele toque de ironia com o qual eu já convivera durante parte de minha vida, juro que me arrepiei todo.  Criticar o nome da referida senhora poderia até parecer preconceito, porém havia algo mais nela que não me agradou logo ao primeiro encontro. Preferi esperar para ver se estava enganado. Ela estava assumindo o cargo maior na Coordenadoria Geral. Torci para estar errado. Logo me veio à mente a minha terceira participação na linda Mostra de Cinema Super 8, anos setenta, em Curitiba, no magnífico Cefet. Vocês devem se lembrar pois já contei esta história em uma crônica. Vivíamos então um regime autoritário. Eu que saíra vitorioso nos dois anos anteriores na mesma Mostra tive a grande decepção de saber, ao lá chegar mais uma vez, que meus três filmes haviam sido retirados da Mostra, ou melhor, censurados, por uma nova Diretora. Devem lembrar que esta também parecia simpática mas estampava no rosto aquele sorriso irônico de quem quer dizer: “Agora, aqui quem manda sou eu.”  Voltando à Escola de Artes, nas primeiras semanas parecia que tudo continuaria na mesma. O tempo voava e eu estava muito feliz pois ia formar mais duas turmas no curso de fotografia. Era uma afirmação de sucesso. Pois é, era. De repente D. Rivalda convocou-me para uma conversa em seu Gabinete. Cumprimentou-me pelo trabalho desenvolvido porém fez questão de ler uma decisão que já estava tomada por ela, claro que com o beneplácito do inculto Sr. Geraldo. Ao ouvir o teor do documento tomei um choque, tentei argumentar que os cursos de fotografia atraíam muitos interessados e não deveriam ser cancelados. É, não deveriam, mas D. Rivalda foi direto ao assunto: ela sempre detestou fotografia. Por quê? Nem me perguntem, ela não precisava justificar suas decisões, tinha o poder absoluto que era abonado pelo… Sr. Geraldo. Agora imaginem o meu estado de espírito? Pois é, amigos, e imaginem como eu me sentia quando… acordei daquele sonho, quase pesadelo?  Nestes casos geralmente nossa pulsação fica acelerada, despertamos meio nervosos, ansiosos, pois assim eu estava naquela madrugada quando acordei daquele maldito sonho. Era cerca de 4 horas da madrugada.  Eu voltava ao mundo real e cruel, mas me senti aliviado por ter sido apenas um pesadelo.

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