ENCONTROS E DESENCONTROS

    Faço questão de ignorar a presença de pseudo-celebridades e quando sinto que vou dar de cara com a maioria delas, – só de birra – principalmente, se for artista, faço questão de demonstrar a minha indiferença, atravessando a rua, entrando numa loja, essas coisas. Contudo, existem algumas pessoas a quem – por admiração – gostaria de apertar a mão. Nesse sentido, já me aconteceram encontros e desencontros.Em 1962, o treino da seleção brasileira em Friburgo se preparando para a Copa do Chile já havia acabado há muito tempo quando entrei no estádio, por entrar. A movimentação era mínima. Surpreendentemente, surgiu sozinho o Pelé. Fui até a ele e estiquei um papel para que autografasse. Ele assinou sem me olhar e, de forma completamente inesperada, esticou a mão para o meu tímido cumprimento. Um inesperado encontro.Anos mais tarde, passava em frente à Assembléia Legislativa do Rio, quando notei uma grande movimentação. Perguntei daqui e dali e soube que o burburinho estava sendo causado pelo lançamento de um livro sobre o Luiz Carlos Prestes. “Segui o ‘fluxo”, comprei o livro e fiquei “horas” numa fila para apertar a mão do “Cavaleiro da Esperança”. Um forçado encontro.Atuando na direção da ASBAC, soube “ao pé do ouvido” que o Chico Buarque iria jogar “uma pelada” à noite num campo da entidade. Resolvi apostar em pelo menos em uma foto para o jornal da associação e num aperto de mão. No final da tarde, recebi uma notícia que impediu irremediavelmente à minha ida ao campo. O ansiado encontro com o melhor compositor brasileiro de todas as épocas, transformou-se num frustrado desencontro.Num lançamento literário (já contei isso!), encontrei a Bete Mendes. Abordei-a como se fosse a “Renata” de Beto Rockfeller. Riu e disse que a maioria dos seus fãs age dessa forma. Depois, voltamos a conversar. Na despedida, apertarmos nossas mãos. Um inesquecível encontro. Semana passada, o Carlos Heitor Cony estava sentado numa mesa à parte, próxima da que eu me encontrava. Face à “rodinhas de conversa” atravancando o acesso até a ele, refuguei várias vezes em ir-lhe apertar a mão pelo brilhantismo das crônicas. Quando finalmente decidi “ultrapassar as barreiras” e cheguei ao local onde ele estava, Cony havia se retirado para um debate numa sala ao lado. Um provável encontro que acabou num improvável desencontro. Deixei os detalhes do parágrafo anterior para este, só para “causar inveja”: por “força do ofício”, fui à Academia Brasileira de Letras, cobrir o lançamento da peça alusiva ao centenário da morte de Machado de Assis, produzida pelo Banco Central. O salão de chá da academia foi o local onde ocorreu o desencontro com o Cony. Mesmo estando a trabalho, fui convidado para me sentar à mesa que os acadêmicos ofereceram às “cabeças coroadas” e não consegui resistir. Afinal não é todo dia que um simples mortal tem a oportunidade de tomar chá com imortais.Minha esposa, que acredita em premonições, de horóscopos a profecias, “leu” as linhas das minhas mãos e garante que, depois dessa, posso começar a tirar as medidas do “fardão”…    

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