CHATICES

    Descendente dos Bloch, o Arnaldo, colunista de O Globo, conta no livro que escreveu sobre a saga dos ex-donos do grupo Manchete, o quê o cronista Sérgio Porto considerava como as três coisas mais chatas da vida: visitar a sogra, ir ao dentista e ouvir as piadas do Oscar Bloch, irmão de Adolfo Bloch, o patriarca da ex-poderosa família judia ucraniana.  Como a minha sogra faleceu assim que casamos, não vivi a “plenitude” das visitas à sua casa. Mas, lembro que, quando a sós (no máximo três vezes), as conversas foram rápidas e tão incipientes que nunca passaram das impressões sobre as condições do tempo. Mas, existem diversas situações muito chatas. Comparecer a velório é uma delas. Principalmente, porque nessas ocasiões o engraçado da família sempre resolve mostrar o seu talento. Reunião de trabalho não fica atrás. Durante um tempão, discute-se “abobrinhas”, não se chega a nenhuma conclusão e as “prementes” providências ficam outra reunião.Por falar em trabalho, quer coisa mais chata do que trabalhar nas manhãs das vésperas de Natal e Ano Novo? “Antigamente” era dia de conferir talão de cheques, arrumar gavetas ou jogar papel picado pela janela. Atualmente, sequer os micros são ligados. “Dá treze horas, mas não dá meio-dia!”. E quarta-feira de cinzas depois do almoço?  Não sei o que é mais chato: assistir a apuração dos desfiles das escolas na TV ou aturar o relato das viagens do feriadão. Discordo que ir ao dentista seja chato. É um horror! Pode haver dez pessoas na minha frente na sala de espera que sempre acho que a minha vez chegou à velocidade da luz. E é mentira que uma consulta dure apenas cerca de 40 minutos! Leva uma eternidade àquelas sessões de “pau de arara”, a que nós, pobre coitados, somos submetidos encolhidos na cadeira. E ainda, mesmo com a boca tomada por tubos e algodões, ser obrigado a responder através de grunhidos as perguntas do dentista conversador. Tudo isso, sob a ameaça de enormes agulhas, pontiagudos ferros e pinças, tendo como fundo musical o enervante barulho daquele do motor que transborda a boca com água suja que cai no colo e suja a roupa. Chatos mesmo são os consultórios médicos. Não dá para dormir porque geralmente as cadeiras são desconfortáveis. Se você não quiser “matar” o tempo lendo antigas revistas “Caras”, restam duas opções: assistir a novela da TV com o pescoço esticado para cima ou mostrar “cultura” participando das conversas com os demais clientes sobre a vida dos artistas.   Sem aturar as piadas do Oscar Bloch, já fiquei em algumas “saias justas”: manja aquelas rodinhas de conversa em que o chato toma a palavra para contar uma piada? Aí, você começa “a notar que a “companheirada”, um a um”, disfarça e se retira. De repente, restam você e o piadista. A história não acaba. Quando, finalmente, está chegando o fim, o sujeito esquece o epílogo. Recomeça a contar. Vai indo, mas lembra que faltou um detalhe lá no início. Retoma história. Dessa vez, chega até o fim. Mas, são dois agravantes: ele não sabe contar e a piada não tem graça. Mesmo assim, o cidadão cai na gargalhada, sem deixar de mirar o seu rosto. No olhar está contido um pedido de solidariedade para que você o ajude a achar graça da piada sem graça. Aí, meu amigo, só tem um jeito: rir para não perder o amigo.

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