CUMPLICIDADE

    Na Copa de 94, foi marcado um pênalti contra o Brasil, a favor da Noruega, por sinal, vitoriosa com esse gol – que ninguém viu na hora e ficamos xingando o árbitro pelo resto do dia. Um cinegrafista amador havia registrado o lance de um ângulo diferente das câmeras de tv e ficou  comprovado que a falta realmente existira. Domingos atrás andamos esculhambando o Schumacher e a Ferrari por terem obrigado o Rubinho, a poucos metros do final, ser obrigado a deixar  o alemão ganhar o grande prêmio da Áustria. Na segunda-feira, o sentimento já não era esse. Verificou-se que o Rubens Barrichello é que havia assinado um contrato leonino que o obriga a aceitar complacentemente a situação. Emoções à flor da pele podem ser traiçoeiras.  Fui um dos ficou profundamente indignado com o assassinato do Tim Lopes. E faço coro com aqueles que clamam por atitudes mais drásticas das autoridades para que o estado paralelo que está instalado no Estado do Rio de Janeiro seja desativado. Não há motivo seja capaz de justificar o brutal assassinato. Só que, agora, com a poeira mais baixa – é preciso que outras vertentes colaterais ao crime comecem a ser discutidas. A primeira é que "… a ética do profissional de imprensa exige que ele sempre se identifique como tal…".   "… a câmera oculta tapeia a fonte e aqueles que são objeto da reportagem…" "… é uma forma grave de invasão de privacidade…" "… constitui um método que pode ser empregado por espiões e detetives, mas nunca por um jornalista. A não ser…" (Eugênio Bucci, no JB). Vestir-se de Papai Noel para saber como é o Natal de crianças carentes e de operário do Metrô para vivenciar o que se passa nas obras é uma coisa, tentar enganar bandidos é outra. Também li, vi e ouvi muita gente dizendo que o jornalismo investigativo está no sangue de alguns repórteres e não adiantam querer impor-lhes limites. Pode até ser verdade. Só que, conhecendo, como poucos a violência que impera nos morros cariocas, Tim Lopes foi ao mínimo imprudente ao realizar uma matéria com câmera escondida. Depois da premiada reportagem realizada no ano passado sobre a venda de drogas ao ar livre e sem nenhuma repressão nos morros, denominada "Feira livre das drogas", realizada a quatro mãos com a repórter Cristina Guimarães, sua parceira anunciou que passou a ser ameaçada de morte. Vive hoje escondida e sua cabeça vale vinte mil reais. Será que só ela estava sendo ameaçada? Não acredito.  No livro intitulado a "Última Trincheira", um relato sobre as experiências vividas no seio das FARC”s pelo repórter Fábio Panunzio da Bandeirantes – o autor descreve que era obrigado, diariamente, através de um potente transmissor de última geração, a  informar sua posição para a direção da emissora. Até o indigente departamento de jornalismo do SBT faz com que seus repórteres só comparecem a determinados lugares acompanhados de um produtor e de um segurança. Tim Lopes estava sozinho. A jornalista Lena Frias, próxima de Tim, traduziu o que penso, ao informar que o repórter "foi vítima da insensatez, da sede de sensacionalismo e de pontos no IBOPE que leva as chefias de jornalismo a ignorar todo e qualquer limite, seja ético, seja – como foi nesse caso – de segurança. Talvez tenha sido vítima de autoconfiança, por ser um jornalista da poderosa TV Globo". O finado jornalista merecia as homenagens que lhe foram prestadas pela emissora em toda a sua programação. Mas, nada disso encobre o enorme percentual de responsabilidade que a Globo possui no caso. A rede de Tv faz-se de desentendida e sinaliza insistentemente que se exime de qualquer responsabilidade. A organização não é uma simples "figurante" no cenário do acontecimento como que aparentar. Foi cúmplice de assassinato premeditado. Parceira, mesmo.  

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