DA SOLIDÃO PARA A VIDA

    Em maio de 2005 divulguei a crônica “SOLITÁRIO”. Nela descrevi o estado emocional em que me encontrava em certa noite. Já fazia dois anos que a solidão me visitava com freqüência, mesmo sem ser convidada. Ela tentava me consolar porém era incompetente para preencher um vazio onde a ausência era mais forte que o lenitivo. Repetirei aqui as primeiras palavras daquele texto: “Ah este silêncio que não responde às minhas dúvidas, que não ouve os meus questionamentos, que ignora a incerteza de minha angústia.””Ah este sentimento de uma paz tão ilusória, paz que não acalma, que não gratifica, que não afasta a dor que me visita sem hora marcada, mas não falta.” “Ah este olhar perdido que percebe tantas presenças, passando por elas sem se fixar em nada, numa busca incessante e impossível de ser satisfeita.” “Ah estas imagens que me fitam sorrindo, porém caladas, definitivamente mudas de um sempre etéreo e sem retorno.” “Ah esses passos surdos num caminhar incessante e sem destino que não saem da memória para a realidade, que não me encontram porque andam por perto, mas têm entre nós uma infinitude plena e inalcançável.”   — Vou realçar alguns dos vários comentários que recebi de amigos que me lêem e apóiam o meu trabalho, não por mera vaidade, não, mas pelo sentido-resposta que darei  neste novo texto. O retorno que vocês nos dão é a certeza maior de termos sido felizes no comunicar os nossos sentimentos. Começo pelo amigo professor João André: “Não sei dizer se "Solitário" é uma crônica ou um poema; seja o que for,  muito me tocou  essa profunda, ampla e comovente manifestação de um sentimento que, ao contrário do que se poderia esperar, parece  vicejar com o passar do tempo. Abraço.” Do laureado poeta paraense, o Alberto Cohen, chegou-me à época, este comentário:”Amigo Simões desta vez você não escreveu uma crônica. Coloque-a no rol de suas poesias, pois o texto estará guardado com seus iguais. Engraçado como, às vezes, a boca de outros diz o que a nossa não conseguiu dizer. A solidão parece que é a mesma entidade para todos. No entanto, a da saudade chega a ser gostosa, nas lembranças dos bons momentos de um casal. É a solidão feliz. Terrível é aquela a dois, emoldurada por mágoas e rancores que se exibem em cada gesto, em cada palavra, em cada silêncio e rosnam mostrando os dentes, como animais enfurecidos, em todos os momentos de todas as horas de todos os dias do que restar de vida. Essa é  maior que a solidão de Deus, que não tem um igual para ouvir confidências, sonhos e esperanças (Ele também deve tê-las). É a solidão absurda do absolutamente só. Um abraço, amigo.” A grande amiga e poeta Leyla Gomes me acarinhou com essas palavras: “Realmente o seu ” SOLITÁRIO” é uma linda página poética, que tanto cabe entre  Crônicas como entre  suas lindas Poesias.   Linda, aliás, meu amigo, a sua verdade quando diz:— “Ah essa vida real, finita, definida, marcada, escrita, limitada, que chega e que parte, que sorri e que chora, que luta, mas sempre perde para a morte”.— É um grande lirismo nas vestes de uma inaceitável verdade. Brilho puro, meu querido Francisco. E no restante todo da página, uma riqueza de prosa-versos. Parabéns e parabéns.” Da escritora, poeta, humanista, entre tantas outras qualidades que a amiga Vânia Diniz possui, recebi este comentário:  “Muito lindo, emocionante, maravilhosamente belo, triste e verdadeiro. Tocante. Minha emoção foi forte. Parabéns, pelo escritor, poeta e pela pessoa fantástica que você é.”De Portugal, da saudosa terrinha que tanto amo, o amigo e incentivador Manuel A. Santos me pareceu correto e definitivo em suas palavras. Disse ele: “Achei muito bonita a tua crônica. Ainda sofrendo de saudade de tua amada Zezé e de solidão, conseguiste contar o teu sofrimento sem cair na pieguice; ao contrário, foste poético. Sabes que lamento muito a tua situação, mas tenho certeza de que superarás todo esse sofrimento, principalmente porque percebi, na tua catarse, que não deixaste de amar. Mantém a boa lembrança do amor que se foi, mas continua com teu coração aberto a novos amores. Não em substituição, pois grandes e leais amores não são substituíveis. mas porque amar enriquece a vida e acaba com a solidão.”Pois é, meus bons amigos, comentando vocês também escreveram poesia, com certeza. E meu prezadíssimo Manuel, achei verdadeiras e muito importantes essas tuas palavras: “… mas continua com teu coração aberto a novos amores… porque amar enriquece a vida e acaba com a solidão.” Hoje, aos 71 anos, tendo superado a pior fase da minha vida, querendo viver o tempo que me for ainda concedido e não sabendo ser feliz sem amar, estou traçando novos rumos para mim.Sem arroubos ou extravagâncias fora de propósito, estou procurando reconstruir meu caminho em pilares como amizade, lealdade e solidariedade, tudo harmonizado  com o indispensável tempero do amor, claro. Ele não tem regras proibitivas quanto a idades, etnias, e outras. Quem a elas se submeta estará dizendo não à vida. Por isso posso afirmar que hoje eu não escreveria este trecho daquela minha crônica “Solitário” com as mesmas palavras, até porque o título seria outro. Na época escrevi:”Ah essa solidão das noites mais vazias quando a realidade me olha de frente e me segura, não me permitindo fugir para o mundo de sonho e de fantasia, atrasando o meu sono, detendo-me numa insônia indesejada, longa e martirizante.” Hoje não preciso “fugir para o mundo de sonho e de fantasia”, e nem convivo com a “insônia indesejada, longa e martirizante”. Hoje “a realidade me olha de frente” e eu à ela, respeitando-nos mutuamente, pois a vida me tirou das garras da solidão fazendo com que tudo agora seja verdadeiro, emocionante, sim, porém não mais triste.  De coração obrigado a todos vocês que me acudiram e me afagaram à época com o apoio indispensável de palavras que não só confortam como reafirmam a amizade.

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