DE VOLTA AO NINHO

    Nasci e fui criado em uma casa imensa, em Belém do Pará, que pertencia a meus pais e avós. Havia também três grandes quintais que eu sabia aproveitar bem com brincadeiras, colhendo frutas, muitas e variadas, ou simplesmente deixando-me estar a pensar, à sombra, o que me dava muito prazer.Posteriormente, no continuar de minha vida, já como adulto, tive que me contentar em viver em quartos alugados em casas de famílias, várias, e em apartamentos. Convenhamos que a diferença é muito, muito grande. Por isso hoje valorizo não só a casa em que vivo, aqui em Cabo Frio, como a da família da boa amiga Marlene que visito constantemente e onde passo grande parte dos meus domingos.Lá também tem quintal, várias árvores frutíferas, horta, lá habitam muitos passarinhos, dos pardais aos bem-te-vis, não esquecendo os lindos beija-flores. Com a brisa fresca que sempre sopra, o final das tardes é uma delícia se nos deixamos ficar sentados ou deitados numa das redes na varanda.Em outubro/2005 eu escrevi o texto “O NINHO” ao presenciar, na frondosa mangueira que já me inspirara, anteriormente, a escrever “A MANGA”, que a vida dava continuidade a uma espécie de aves em um pequeno ninho feito de estopas.Nas minhas andanças pelo quintal, muitas das vezes carrego comigo a máquina fotográfica esperando que a natureza me ofereça oportunidades para novos e agradáveis registros de imagens. E tenho dado sorte, quanto a isso.Outro dia, por sinal um domingo, algo me chamou a atenção. No alto, bem por dentro da mangueira, havia um outro ninho, este feito de gravetos. Por coincidência a amiga Marlene se aproximou naquele momento. Ficou curiosa para saber o que eu estava olhando. Eu procurava um ângulo melhor para ter uma imagem mais bem  definida.Foi quando ela percebeu algo que até então me escapara: havia um passarinho, certamente uma fêmea, pousada naquele ninho o que nos indicava estar ali mais um “berço” com filhotes recém nascidos, com certeza.Procuramos não fazer movimentos bruscos nem qualquer barulho. Acabei encontrando um ângulo bom para documentar aquele fato. Bati então três fotos.  Nos dias que se seguiram eu voltei lá, mas apenas para conferir que estava tudo bem. Encontrei sempre a zelosa mamãe passarinho de prontidão a chocar os ovos, aquecendo-os com seu corpinho, com seu amor. Ela permanecia imóvel e, quando muito, movia levemente seus olhos me acompanhando nos movimentos. O local do ninho estava muito bem escondido entre vários galhos. Árvore abençoada aquela frondosa mangueira que, além dos gostosos frutos que tem dado, ainda desfruta da regalia de ser a escolhida por aquelas aves para darem continuidade à sua espécie, como que numa ode à vida, onde a poesia se traduz pela beleza da imagem. Estar ali, assistir àquilo, já é um privilégio, não tenham dúvida. É preciso não se ter deixado contaminar ainda pela crueldade de uma realidade que nos ameaça, nos agride, diariamente, para alimentar este sentimento de amor pela vida, por tudo que seja uma promessa, uma esperança, de um mundo melhor.Enquanto a natureza reagir, enquanto houver paz em algum lugar, seja onde for, podemos manter a nossa fé, embora muito abalada, de que nem tudo está perdido, ainda. Resta-nos também fazer sempre a nossa parte sem ficar apenas esperando por eventuais milagres. O ódio, a inveja, o preconceito, o egoísmo, a ganância, terão sempre um discurso onde prevalece o separatismo. O amor será sempre a mola propulsora da vida, pela união, pela solidariedade, pela paz, pelo bem que jamais abraçará o mal. Infelizmente persistem muitos corações infectados por aqueles sentimentos negativistas.A oportunidade que tive novamente, digamos assim, de estar “de volta ao ninho”, foi um presente maravilhoso do destino. Afinal, entre este ninho e o anterior, passou-se pouco tempo, cerca de uns três meses apenas. Agradeço à vida, de coração.

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