DESCULPAS ESFARRAPADAS

    Estive lendo que o governo federal foi surpreendido com a informação de que o crescimento do país em 2001 ficou abaixo da média histórica. Ministros e técnicos fizeram mil conjecturas a respeito. Mas, como diria a minha mãe, saíram-se com "desculpas esfarrapadas". E discordo desses índices! Do meu ponto de vista o país cresceu sim! Quem disse que não? O único problema é observar o sentido. Cresceu com o mesmo problema que aflige as crianças obesas, ou seja, em vez da forma vertical que seria o saudável, teima em ser horizontal. Também, como acontece às crianças, os danos futuros são inúmeros. Alguns irreversíveis. Não é preciso ser economista, matemático, sociólogo ou tributarista para se diagnosticar pelo menos duas das causas: a primeira está no fato de que enquanto decresce a economia formal, a informal assume proporções assustadoras. E a segunda causa é a fantástica sonegação tributária, mantida viva pela absoluta incapacidade e desleixo oficial de fiscalizar e cobrar. Certo da impunidade, o mal campeia como erva daninha em todo o país. Na minha santa terrinha, Friburgo, a "capital da moda íntima do país", existem mais de setecentas confecções legalizadas. Porém, nos fundos dos quintais podem ser encontradas cerca de três mil fabriquetas. Em quantas cidades brasileiras ocorre o mesmo fenômeno? Você ainda compra seus CD’s musicais em alguma loja de discos? Até as feiras livres ostentam barracas de CD’s piratas. Qualquer música pode ser baixada e gravada através da Internet em sua casa. Existem sites que, conforme o caso, permitem imprimir até a capa do disco. Timidamente, dizem, são encontrados cópias piratas dos DVD’s. Logo, logo virarão uma febre. Na esquina da rua onde moro (Licínio Barcelos com Monsenhor Félix, em Irajá), o comércio de venda de automóveis é feito na calçada.. Não é feira! É uma loja ao ar livre! Envolve documentos, bancos, cheques-pré e financeiras. Quem passa pelo Maracanã enxerga que, claramente ilegais, pululam lojas de vendas de peças e oficinas mecânicas na calçada do metrô. O que não se encontra no Camelódromo? Nada! Está certo! Quase tudo ali provém dos fundo dos quintais. Mas estão lá, são vendidos e comprados frenéticamente. E aí de quem tentar algum assalto por ali! A guarda municipal do César Maia os protegem de segunda a sábado. Privilégio que não é dado a quem está legalmente estabelecido, paga impostos, possui empregados e está em dia com seus encargos sociais. Não sei o que acontece na zonal sul, mas na zona norte muitas das garagens residenciais estão sendo tansformadas em ponto comercial. Algumas, com algum grau de sofistificação, oferecem mesas e cadeiras. Também não é difícil encontrar-se lojas de roupas nessas mesmas garagens. E as feirinhas de Itaipava? Quantas você conhece? E os "robautos"? Um ponto de venda de doces e balas dependendo do local na calçada custa mais de cinco mil reais. Os de ponto de ônibus então, nem se fala! Por falar nisso, por culpa exclusiva das empresas de transporte rodoviário que sempre ofereceram um péssimo à população, já notaram que as "vans", numa velocidade incrível, tomaram-lhe o lugar? Quem emite nota ou cupom fiscal hoje em dia? Apenas, supermercados, farmácias e lojas de franquias. É incalculável o que o governo deixa de arrecadar! PHd’s governamentais detestam a simplicidade. Só assim pode ser explicado o fim do concurso dos "seus talões valem milhões". Não dá para continuar listando. Os exemplos são infindáveis. Para voltar a crescer é preciso investir. Para investir é necessário arrecadar. No entanto, será que não dá para perceber que o aumento ou criação de qualquer imposto atua apenas como estimulante para o crescimento da economia informal? Então, porque não se inverter à mão e adotar uma política que reduza drasticamente os tributos? Quem sabe a medida não ofereça a parte escondida da economia a oportunidade que ela tanto necessita para mostrar a cara? E quem garante de que esse segmento, liberto da timidez e da vergonha, não consiga proporcionar ao país, os recursos necessários para a volta do crescimento econômico?

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