DON´T CRY FOR ME, ARGENTINA

             Perdendo apenas para a Argentina, o Brasil sagrou-se pela 11ª vez, campeão Sul-Americano Sub-20  de futebol (menores de vinte anos), no dia 13 de fevereiro. Antes da partida contra os “hermanos”, boa parte da imprensa brasileira exigiu a vitória do nosso time e colocou mais lenha no fogo em que arde a rixa entre os dois países, desdenhando dos nossos vizinhos.Dias após o jogo, dois integrantes do programa “Linha de Passes/Mesa Redonda”, da ESPN Brasil, desancaram contra esse ufanismo exacerbado e alertaram que a Argentina não é um ponto perdido no mapa e que se ombreia com o Brasil na maioria dos aspectos.Nesse programa, tomei conhecimento que o líder da corrente anti-“hermanos” sempre foi o Galvão Bueno, que deve considerar uma audácia o fato de a Argentina encarar o Brasil.Não se pode comparar economicamente a Argentina, que possui 40 milhões de pessoas e não chega a três milhões de km², com o Brasil, onde vivem 190 milhões de habitantes em mais de 8 milhões de km². Mas, o Índice de Desenvolvimento Humano argentino é o 34º do mundo e o do Brasil, o 73º. No item qualidade de vida na América do Sul, a Argentina só perde para o Uruguai.Em termos políticos, ainda hoje, as Mães da Praça de Maio realizam manifestações em frente à Casa Rosada, buscando manter na lembrança do país o desaparecimento de seus filhos no período ditatorial. Por lá, os repressores do regime são condenados, entre eles um ex-presidente. Por aqui, também tivemos mais de 20 anos de ditadura e…Na vida cultural, o cinema brasileiro vive de comédias de fundo erótico, violência e religiosidade. A Argentina, com filmes reflexivos,  possui dois Oscars de melhor filme estrangeiro e ator Ricardo Darin, que atua em filmes da sua terra, é um astro internacional.O Brasil ganhou cinco Copas de futebol e a Argentina duas. Contudo, eles possuem duas Olimpíadas e nós nenhuma. Em termos proporcionais da população, a Argentina é que é uma fábrica inesgotável de talentos. Os três jogadores considerados os melhores do mundo de todos os tempos são Di Stefano, Pelé e Maradona. Dois são argentinos.Essa “guerra” chegou a uma inocente partida de futebol na ASBAC/Comary entre funcionários da agência de um banco argentino, no Rio, e associados escolhidos a dedo. Depois do jogo, perguntei a um dos nossos jogadores sobre a partida. E ele: “Ah! Não existe “nada melhor do que ganhar da Argentina!” (expressão difundida pelo Galvão Bueno).Para uma mudança de postura, bem que os alimentadores dessa besteira poderiam passar a conhecer a  vida de Maria Eva de Duarte, assistindo ao filme musical Evita (Madonna, Antonio Banderas, Jonathan Price).  A linda história de uma bastarda, barrada no funeral do próprio pai, que ao se casar com  Juan Domingo Perón se torna a mais popular primeira-dama da América Latina de todos os tempos e que, ainda hoje, é idolatrada no país platino. Quem sabe se ao som de “Don’t Cry for Me, Argentina” não passem a enxergar com outros olhos o país vizinho?

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