ESCREVER E NÃO SER ESCRITOR

    Vou explicar o que digo neste título. Quem me conhece há mais tempo sabe que eu comecei a escrever e divulgar publicamente meus textos ainda aos 17 anos no rádio paraense. Eu mesmo lia diariamente minhas crônicas tanto na Rádio Marajoara, dos Associados, como no Rádio Clube do Pará, em épocas diferentes, claro.Esta fase durou quase seis anos quando, já estando trabalhando no Banco do Brasil, em Belém, tive que desistir da carreira de radialista. Lamentei, mas não teve jeito. No BB, já na Direção Geral, no Rio de Janeiro, anos 60, tive oportunidade de voltar a escrever, porém não da forma como o fazia no rádio. Cheguei a escrever pareceres em cima de processos na CREAI/RUCEN, entre os anos de 1962 e 1966, quando um professor, meu amigo, me convidou para ir trabalhar no DESED, Departamento que estava ainda em formação e se dedicaria a treinar funcionários do Banco em vários níveis.  Antes eu já dava aulas fora do BB treinando pessoas para concursos. Eu alugava salas de aula em alguns cursos em Copacabana e depois também passei a treinar Gerentes de determinado Banco, isto a convite do mesmo amigo que me conduzira ao DESED. Dando aulas, fazendo palestras, eu me sentia recompensado. No Treinamento de Pessoal do BB, uma fase maravilhosa que durou entre sete a oito anos, além de coordenar cursos e dar aulas eu tive oportunidade de escrever de quando em vez. Todavia a vida foi me levando a outros serviços no Banco e acabei chefiando um Setor de Comunicação Áudio Visual, a convite do então Chefe do Departamento de Mecanização do BB, o grande e saudoso amigo André Perillier que já me conhecia do DESED. Eu dispunha de 12 funcionários.  Lá passei a usar minha voz na gravação de módulos áudio visuais para palestras. Eu tinha na equipe pessoas gabaritadas para escrever os textos, como o grande amigo e professor João André. Algum tempo depois acabei atuando por um pequeno período no Gabinete da Chefia do CESEC – Rio onde tive oportunidade de voltar a escrever.   Logo a seguir me vi no Gabinete da Presidência da PREVI, do BB, levado pelo amigo, professor Joaquim Amaro, então Presidente. Voltei a estudar processos e escrever pareceres e correspondências referentes a cada um. Após uns quatro anos me aposentei e tratei de divulgar outra de minhas facetas, o que eu chamava de Fotografias Artesanais, em diversos espaços culturais. Antes disso, e por alguns anos, eu escrevi os roteiros e narrativas de vários filmes de curta metragem que produzi e inscrevi em Festivais e Mostras de Super-8 pelo Brasil afora. Tive também uma fase muito boa escrevendo histórias para um amigo que tinha programa na Rádio Globo, com grande audiência. Neste caso eu costumava usar pseudônimos. Eram histórias com muito humor que me faziam sentir como que voltando ao rádio, tal como em minha juventude, em Belém, quando além de locutor, escritor de crônicas diárias, produzi um Programa Humorístico eleito pela crítica, em 1955, como o Melhor do Rádio Paraense. Só no ano de 2000 foi que acabei me reencontrando com a atividade de escrever quando dois sobrinhos me obrigaram, esta é a expressão correta, a usar a internet que eu detestava. Encontrei alguns sites literários e saí escrevendo para eles.  Irene Serra e outra escritora logo me acolheram. Resumindo, foi em Janeiro/2001 que submeti a Irene o texto “Formatura de Segundo Grau”. Ela o aprovou e divulgou e os comentários começaram a chegar. De outro lado eu divulgara “Podem me Vaiar” em outro espaço e os cumprimentos recebidos me fizeram crer que eu podia ser realmente um escritor. Ali começou uma trajetória que hoje alcança já quase 900 crônicas divulgadas e quase 5.000 comentários de leitores. Eu já vinha participando de Concursos Literários aqui e lá fora e ganhando alguns bons prêmios, especialmente em poesia, mas também com alguns textos em prosa (vide em meu site pessoal). Em meados de 2002, já com pouco mais de 200 crônicas divulgadas, veio o convite para publicar meu primeiro livro. Eu me animei, porém a vida me disse não. Eu já vivia um drama pessoal desde Janeiro daquele ano com a doença terrível de minha então esposa. Fui envolvido por sentimentos que me empurravam para grande desânimo, porém não parava de escrever. Eu já selecionara cerca de cinqüenta e tantos textos em prosa e dezenas de poesias para a eventual edição de meus primeiros dois livros. O amigo que os editaria aguardava minha decisão. O tempo passava e após uma fase em que a esperança parecia vencer o medo, a angústia, logo a realidade tirou a máscara e fui avisado pelo médico de que era apenas uma questão de esperar, pois o pior se mostrava inevitável. Esta fase durou ainda muito tempo. Sem ânimo para comemorar absolutamente nada cancelei a edição dos livros e deixei que a vida me levasse sem rumo certo.    Diminuí meu ritmo, mas não deixei de escrever. Alguns textos expressavam a dor e o sofrimento, meus companheiros por alguns anos. Eu insistia em ser um escritor, todavia sem colocar meus textos em livro. Certo dia alguém me disse que sem estar editado eu corria o risco de continuar a escrever sempre, todavia jamais seria realmente reconhecido como escritor. Meu farto material iria se perder no tempo e na lembrança das pessoas. Ainda tenho as duas pastas com os textos selecionados, porém num universo bem maior agora, com quase 900 crônicas divulgadas, eu precisaria rever a seleção que fiz em 2002, ou partir para mais livros. Tive sempre o cuidado de só usar crônicas que falem da vida, da emoção das pessoas, contando histórias verdadeiras das quais participei ou fui testemunha. Esta temática foi sempre a minha preferida.  Nunca mais falei com meu amigo editor, o Luis Carlos Martins, assim como hoje considero que terei mesmo que me resignar a continuar escrevendo e escrevendo sempre, porém sem ser um escritor. Afinal o amigo que me alertara sobre a necessidade da edição de livros parece que estava carregado de razão.  Alguém perguntará por que eu não toquei aquele projeto dos livros depois e responderei que foi pura opção pessoal, primeiro numa fase com um destino meio nublado e posteriormente sem saber se eu devia fazê-lo, se compensava, pois hoje a quantidade de textos que tenho é muito grande.  Tenho visto amigos que também escrevem sobre os mais variados assuntos divulgarem seu trabalho em livros, porém julgo que as situações são bem diferentes. Até que alguns tentam me animar, todavia eu continuo indiferente. Editá-los, só pelo capricho de editá-los, não me anima e creio que nem se justifica. Talvez a solução esteja no e-book que me facilitaria enviá-los a tantos amigos. Do contrário, no futuro eu terei passado pela escrita provavelmente sem deixar rastro e o que poderia ser um modesto arquivo de muitas centenas de textos em prosa e também em verso é provável que se dilua na memória do tempo, ou falta dela, como alguém que apenas se divertiu escrevendo. A escrita morrerá comigo. É o que hoje eu concluo sobre escrever e não ser escritor.

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