FRITADA DA FRITADA

Ano de eleição, pra mim, é um frisson só! Devoro as notícias políticas. Acompanho todas as pesquisas. E, acima de tudo, apuro o ouvido, sempre que há chance de saber como as pessoas vão votar para presidente. Meu IBOPE particular indica, hoje, que o jogo ainda está zero a zero. As respostas sobre intenção de voto, invariavelmente, são as mesmas: “Não vou repetir o voto no Lula”; “Candidato do PSDB pra mim ‘tá fora” e “… no Garotinho nem pensar”. E, nesse frigir de ovos em que os três candidatos se vão colocando até à eleição, não posso deixar de lembrar de uma historinha, contada por Renato Lemos no JB: a de um pé-sujo cujo dono oferece, como principal “tira-gosto” do estabelecimento, uma fritada. Só os freqüentadores matinais do boteco ficam sabendo o conteúdo do petisco do dia: aos dois ovos batidos, ele junta as sobras do cardápio da véspera. Até aí, tudo bem. Duro é saber que, quando a fritada encalha e fica como única opção de sobra, o Pinto, dono do bar, não faz por menos: sapeca no recheio da fritada nova … a fritada antiga, bem picadinha. Faz uma fritada de fritada! Depois de saber disso, passei a matutar as fritadas possíveis de preparar com as sobras dos pratos que nos sugerem os apelidos dos candidatos: Lula, Picolé de chuchu e Bolão, os únicos com chance de vitória: uma paella, em que a lula ainda não percebeu (ou não viu) a contaminação dos companheiros frutos do mar. um camarão com chuchu – em que o crustáceo se foi com Mario Covas – o segundo é, na verdade, um picolé com gosto de nada. um ensopadinho de onde o Bolão destacou carne, lingüiça e batata para si próprio e vendeu a R$ 1,00 jiló, nabo e quiabo a fiéis de todas as religiões. Pesei e medi o desempenho dos três nos seus respectivos mandatos. Concluí, qualquer que seja o vencedor, que a fritada vai causar indigestão (a não ser que se descubram novos ingredientes).Nesse caso, como os fregueses do pé-sujo, todos nós estaremos condenados, nos próximos quatro anos, a engolir, como tira-gosto, a fritada da fritada.